Traficante mais procurado da América do Sul é preso pela PF após mudar de rosto
A Polícia Federal prendeu no final da manhã deste sábado (1º), em Sorriso (398 km ao norte de Cuiabá), o traficante de drogas Luiz Carlos da Rocha, conhecido como "Cabeça Branca", foragido há quase 30 anos, dono de um patrimônio estimado em pelo menos US$ 100 milhões e considerado o mais procurado da América do Sul. A operação envolveu 150 policiais e cumpriu 24 mandados judiciais.
Rocha foi preso em casa, ao lado da mulher e de um filho pequeno. Apesar de ter uma arma de calibre 9 milímetros na residência, não esboçou reação. Contra ele, há um mandado de prisão preventiva. De Mato Grosso, seria levado a Brasília, e dali a um presídio federal, provavelmente o de Catanduvas (PR).
"Ele é uma lenda do narcotráfico. Estou há 32 anos na Polícia Federal, e desde que entrei se falava no Cabeça Branca", disse o superintendente regional da corporação no Paraná, Rosalvo Ferreira Franco, na abertura da entrevista coletiva realizada em Curitiba para apresentar a operação.
"Ele era o traficante número 01 de nossa lista de procurados. Tinha mais importância e influência que [o colombiano Juan Carlos Ramírez] Abadia ou Fernandinho Beira-Mar. Não havia ninguém acima dele, para nós", falou o delegado Elvis Secco, que comandou a operação Spectrum, que envolveu 150 policiais e tem desdobramentos em São Paulo, Araraquara, Cotia, Embu das Artes, Londrina (PR) e Sorriso (MT).
A investigação levou mais de um ano. O grupo comandado por Rocha é considerado pela Polícia Federal como extremamente sofisticado, com uso de esquemas de contra-inteligência para despistar investigadores. O traficante, inclusive, tinha documentos falsos em mais de um nome e passou por cirurgias plásticas que alteraram sua fisionomia.
O traficante foi preso sob uma dessas identidades falsas --Vitor Luiz de Moraes. Em Sorriso, uma cidade de pouco mais de 80 mil habitantes no interior de Mato Grosso, ele vivia com esse nome e era conhecido como produtor agropecuário.
"Ele tinha vida social normal. Não estava preocupado em ser preso, sabia que não seria reconhecido --aparentava uns 20 anos a menos do que os cerca de 60 que tem na verdade. E a cidade, por ser pequena, era ideal para que ele pudesse detectar qualquer movimentação policial suspeita que pudesse ameaçá-lo. É uma situação parecida com a de um filme", afirmou Secco.
"Estávamos há mais de 15 dias aguardando o momento exato para poder prendê-lo, com agentes mobilizados em várias cidades. O primeiro passo da operação foi a prisão dele", falou o delegado. Os desdobramentos da operação ocorrem inclusive no Paraguai, onde há mandados de busca sendo cumpridos por autoridades locais em fazendas que pertencem ao traficante.
Para chegar a Rocha, a PF usou agentes infiltrados na organização dele. Dessa forma, conseguiu uma imagem dele, que foi comparada a outras, mais antigas, do banco de dados da corporação, e submetida a análises de reconhecimento facial no Instituto Nacional de Criminalística.
"Usamos até infiltração de agentes. Com isso, chegamos a vários comparsas. Com isso, chegamos à pessoa da foto. Percebemos que algumas características batiam com as de Luiz Carlos da Rocha."
Luiz Carlos da Rocha é responsável, segundo a Polícia Federal, por trazer de três a cinco toneladas de cocaína pura, de alta qualidade, para o Brasil. Ele tinha ligações em países produtores da droga, como Bolívia, Peru e Colômbia, e em países consumidores na Europa e América do Norte.
Segundo o delegado, a droga era trazida em pequenos aviões para fazendas do traficante em Mato Grosso --apenas no Estado, ele tem cinco ou seis propriedades rurais. Dali, era levada em fundos falsos de caminhões para Araraquara (270 km a oeste de São Paulo) e Cotia, onde o grupo tinha depósitos que funcionavam como centros de distribuição.
A droga levada a Araraquara era vendida a traficantes de São Paulo e Rio de Janeiro. Já a de Cotia era exportada pelo porto de Santos. O grupo também usava aviões para exportar a droga para os EUA e Europa, usando países da América Central como escalas.
Rocha tinha casas em vários pontos do Brasil e no Paraguai. Uma delas, de três andares, num bairro de alto padrão em Osasco, na Grande São Paulo, era usada para reuniões com outros grandes traficantes. "Ele era considerado o embaixador do tráfico, tinha bom relacionamento com todos. Não é um criminoso violento, mas um negociador. Por isso teve essa longevidade, mesmo com facções nacionais e internacionais em drogas", falou Secco.
Apenas nessa casa, a PF encontrou US$ 2 milhões, em espécie, acondicionados em malas. "A localização da casa dificultou bastante o trabalho da PF, pois havia circuitos de câmeras e vigilância motorizada. Era impossível fazer uma campana de mais de cinco minutos", disse o delegado.
Já condenado em três processos derivados de operações policiais por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, Rocha acumula penas que superam os 50 anos de prisão. A operação, batizada de Spectrum pela PF, cumpriu mandados emitidos pela Justiça Federal de Curitiba em São Paulo, Araraquara, Cotia, Embu das Artes, Londrina (PR) e Sorriso.
Em Londrina, foi preso Wilson Roncarati, considerado o braço direito de Rocha, responsável pela movimentação de dinheiro do Paraguai a São Paulo. Foram apreendidos nove imóveis e dez veículos. Três pessoas foram conduzidas coercitivamente para depor.
Agora, a Polícia Federal irá investigar mais de 20 suspeitos --a maioria parentes do traficante, inclusive a mulher dele-- por crimes de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
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