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Corpo de bebê baleado no útero da mãe é sepultado na Baixada Fluminense

31.jul.2017 - O pai, Klebson, e a mãe, Claudineia, diante do pequeno caixão - Giovani Lettiere/UOL
31.jul.2017 - O pai, Klebson, e a mãe, Claudineia, diante do pequeno caixão Imagem: Giovani Lettiere/UOL

Giovani Lettiere

Colaboração para o UOL, em Duque de Caxias

31/07/2017 15h51Atualizada em 31/07/2017 19h18

O corpo do bebê Arthur Cosme de Melo, atingido por uma bala perdida em 30 de junho no útero da mãe, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, foi velado na tarde desta segunda-feira (31) em capela do Cemitério Nossa Senhora das Graças, mais conhecido como Tanque do Anil, também em Caxias. Os pais da criança, que morreu no domingo (30), acompanham o velório. Inconsolável, o casal sepultou a criança pouco depois das 17h.

Durante o velório, a mãe, Claudineia dos Santos Melo, recebeu muitos pêsames de amigos e desconhecidos. Pouco antes da saída do cortejo, amigos e parentes rezaram e cantaram a música "Faz um Milagre em Mim", do cantor gospel Regis Danese. Cerca de 70 pessoas acompanharam o cortejo fúnebre, em que Claudineia e o marido, em um carrinho, levaram o pequeno caixão sobre o colo.

A gaveta onde a pequena caixa foi acomodada é o túmulo 22, localizado na quadra 10 do cemitério. O custo do sepultamento foi arcado pelo hospital e pelo próprio cemitério, segundo informou um parante ao UOL. Claudineia deixou o cemitério, que fica a cerca de 1 km da Favela do Lixão, onde foi atingida e ainda mora, sem falar com jornalistas que acompanharam o enterro.

Em nota, o hospital Estadual Adão Pereira Nunes, onde ele estava internado havia um mês, informou que Arthur teve uma piora no quadro clínico em decorrência de uma hemorragia.

Velório bebê Arthur - Giovani Lettiere/UOL - Giovani Lettiere/UOL
Mãe e pai do bebê durante cortejo fúnebre
Imagem: Giovani Lettiere/UOL

"O paciente Arthur Cosme de Melo foi a óbito às 14h05 deste domingo, 30/7, após apresentar piora de seu quadro clínico em decorrência de uma hemorragia digestiva intensa, por volta das 5h30. A família do paciente foi informada e esteve na unidade ainda pela manhã, quando recebeu todas as informações sobre o estado de saúde do paciente, que esteve gravíssimo nas últimas horas. Todos os procedimentos para reverter o quadro foram adotados, porém não houve resposta clínica do paciente", diz a nota.

Em razão da lesão provocada pelo disparo, a criança estava paraplégica, mas os médicos estavam otimistas quanto à reversão do quatro.

O corpo do bebê foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal), procedimento padrão em casos de violência --Arthur foi vítima de perfuração por arma de fogo.

A Polícia Civil ainda não descobriu o autor do tiro que atingiu a criança e a mãe. O caso é investigado pela 59º DP (Duque de Caxias). Policiais militares contaram que estavam saindo da Favela do Lixão quando foram atacados a tiros por criminosos --e afirmam não ter revidado.

No meio do fogo cruzado

Claudineia dos Santos Melo tem 28 anos e estava na 39ª semana de gestação quando foi atingida por tiros disparados por traficantes da Favela do Lixão, em Duque de Caxias, onde mora. Ela havia acabado de comprar o carrinho para seu primeiro bebê naquela sexta-feira.

Estava chegando em casa no fim da tarde quando se viu em meio a um fogo cruzado entre traficantes e policiais na entrada da comunidade. O tiro que atingiu a grávida entrou pelo lado esquerdo de seu quadril. A bala perfurou seu útero e atravessou o corpo de Arthur. Feriu sua cabeça, dilacerou sua orelha, atingiu seu tórax e atravessou sua coluna.

Apesar da gravidade dos ferimentos, a família estava esperançosa com a recuperação e comentava sobre a chance de o bebê ir para casa. "Arthur está bem, melhorando a cada dia e reagindo muito bem à cirurgia", contou na última sexta-feira (28) ao UOL durante visita ao filho, submetido a uma operação de descompressão da medula no dia 4 de julho.

"Espero levá-lo para casa o mais rápido possível, mas ainda não há previsão de alta", afirmou Claudineia. "Eu oro muito. Não sigo uma religião, mas às vezes vou na igreja evangélica, na Assembleia de Deus." Desde que teve alta médica, no dia 6, Claudineia ia ao hospital todos os dias ver o bebê com o marido, o conferente de frigorífico Klebson Cosme da Silva, 27.