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Morre o bebê Arthur, que foi baleado dentro do útero da mãe no Rio

Claudineia dos Santos Melo, que foi baleada, e uma imagem de exame do bebê - Reprodução
Claudineia dos Santos Melo, que foi baleada, e uma imagem de exame do bebê Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

30/07/2017 17h56Atualizada em 30/07/2017 19h51

Morreu na tarde deste domingo (30) o bebê Arthur Cosme de Melo, atingido por uma bala perdida ainda no útero da mãe em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ). Em nota, o hospital Estadual Adão Pereira Nunes, onde ele estava internado havia um mês, informou que Arthur teve uma piora no quadro clínico em decorrência de uma hemorragia.

"O paciente Arthur Cosme de Melo foi a óbito às 14h05 deste domingo, 30/7, após apresentar piora de seu quadro clínico em decorrência de uma hemorragia digestiva intensa, por volta das 5h30. A família do paciente foi informada e esteve na unidade ainda pela manhã, quando recebeu todas as informações sobre o estado de saúde do paciente, que esteve gravíssimo nas últimas horas. Todos os procedimentos para reverter o quadro foram adotados, porém não houve resposta clínica do paciente", diz a nota.

O hospital informou ainda que o corpo do bebê será encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal), procedimento padrão em casos de violência --Arthur foi vítima de perfuração por arma de fogo.

"Assim como a direção e toda a equipe médica do hospital, a Secretaria de Estado de Saúde lamenta a perda da família, presta solidariedade neste momento de grande dor e segue à disposição dos pais e familiares", finaliza a nota.

Mãe do bebê Arthur - Giovani Lettiere - Giovani Lettiere
A mãe do bebê Arthur, Claudineia dos Santos Melo
Imagem: Giovani Lettiere

No meio do fogo cruzado

Claudineia dos Santos Melo tem 28 anos e estava na 39ª semana de gestação quando foi atingida por tiros disparados por traficantes da Favela do Lixão, em Duque de Caxias.

Ela havia acabado de comprar o carrinho para seu primeiro bebê naquela sexta-feira. Estava chegando em casa no fim da tarde quando foi pega no fogo cruzado entre traficantes e policiais na entrada da comunidade.

O tiro que atingiu a grávida entrou pelo lado esquerdo de seu quadril. A bala perfurou seu útero e atravessou o corpo de Arthur. Feriu sua cabeça, dilacerou sua orelha, atingiu seu tórax e atravessou sua coluna.

Apesar da gravidade dos ferimentos, a família estava esperançosa com a recuperação e comentava sobre a chance de o bebê ir para casa. "Arthur está bem, melhorando a cada dia e reagindo muito bem à cirurgia", contou na sexta-feira (28) ao UOL durante visita ao filho, submetido a uma operação de descompressão da medula no dia 4 de julho.

"Espero levá-lo para casa o mais rápido possível, mas ainda não há previsão de alta", afirmou Claudineia. "Eu oro muito. Não sigo uma religião, mas às vezes vou na igreja evangélica, na Assembleia de Deus."

Desde que teve alta médica, no dia 6, Claudineia ia ao hospital todos os dias ver o bebê com o marido, o conferente de frigorífico Klebson Cosme da Silva, 27.

Claudineia e Arthur entram para uma estatística que não para de crescer no Rio, a de pessoas atingidas por balas perdidas. Levantamento feito pela "Folha" indica que pelo menos uma pessoa foi atingida a cada dois dias na região metropolitana em 2017.

Com o Estado em crise, o Rio vive descontrole na segurança. O número de mortes violentas subiu 16% de janeiro a maio deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado –de 2.528 para 2.942.

Historicamente, a Baixada Fluminense, onde Claudineia foi baleada, concentra parte expressiva da criminalidade no Estado. Na região metropolitana como um todo, os conflitos entre facções, entre facções e milicianos e entre criminosos e policiais têm sido muito frequentes.