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Salvei muitas vidas, mas não pude salvar todas, diz comandante de lancha que naufragou na BA

O comandante da Cavalo Marinho 1, Osvaldo Barreto, 52, falou pela 1ª vez após naufrágio - Reprodução/TV Bahia
O comandante da Cavalo Marinho 1, Osvaldo Barreto, 52, falou pela 1ª vez após naufrágio Imagem: Reprodução/TV Bahia

Do UOL, em São Paulo

29/08/2017 09h19

Cinco dias após a lancha Cavalo Marinho 1 naufragar na baía de Todos os Santos, próximo a Salvador (BA), matando ao menos 19 pessoas, o comandante da embarcação, Osvaldo Barreto, 52, contou que, apesar do tempo ruim, o mar estava navegável e negou que os coletes salva-vidas estivessem amarrados à lancha, como afirmaram alguns dos sobreviventes. Uma pessoa ainda está desaparecida.

Barreto disse em uma entrevista à TV Bahia, afiliada da Globo, veiculada na noite da terça-feira (29), que tudo aconteceu muito rápido e que “a natureza é imprevisível com a gente”.

Ele contou que havia condições de navegação quando a tripulação tirou a lancha da amarração, mas que perto do farol, em Mar Grande, começou a chover forte. “Começou a molhar um pouco por cima de uma fresta de uma lona, então os passageiros passaram um pouco para o lado de bombordo. Bateu uma onda mais forte e a lancha caiu de lado e foi aquele desastre horrível”, disse.

O naufrágio foi registrado cerca de dez minutos depois de partir de Mar Grande, por volta das 6h30, em Vera Cruz, na região metropolitana de Salvador. A Capitania dos Portos, que afirma ter sido acionada às 7h45, informou à época que não havia aviso de mau tempo no momento do acidente.

O comandante contou ainda que a lancha tem dois conveses: um inferior e outro superior. Ainda segundo ele, só havia uma escada para entrar e sair do inferior. “Infelizmente, o inferior tem uma escada só, saída e descida por ali mesmo. E as janelas são mais fechadas. Então foi esse pessoal que infelizmente...”, disse.

Barreto afirmou que ele e seus marinheiros caíram na água, mas voltaram para a lancha para pegar o maior número possível de coletes salva-vidas. “Tentei, salvei muitas vidas, eu sei que salvei, eu e meus colegas salvamos, mas, infelizmente, não pudemos salvar todos”, desabafou.

Investigações

Segundo o delegado Ricardo Amorim, da 24ª Delegacia Territorial (Vera Cruz), 101 pessoas já foram ouvidas, entre elas o proprietário da empresa responsável pela embarcação.

A SSP-BA (Secretaria de Segurança Pública da Bahia) informou que equipes Corpo de Bombeiros e das polícias militar e civil procuram familiares de uma garota de 12 anos que, segundo relato de uma parente, estaria na embarcação. Por isso, as buscas foram reiniciadas no local na tarde de ontem. Amorim pediu que os parentes da menina formalizassem o desaparecimento

Ao todo, cinco lanchas fazem atualmente a travessia Salvador-Itaparica. Segundo a Astramab (Associação de Transportadores Marítimos da Bahia), entidade que reúne donos de embarcações, a lancha tinha capacidade para 160 pessoas e estaria transportando 129, além de quatro tripulantes.

A travessia Salvador - Mar Grande foi retomada na manhã desta terça-feira (29), segundo o jornal "A Tarde". Mas o fluxo de passageiros é fraco, segundo a Astramab. A reportagem de "A Tarde" relata que após o naufrágio, os tripulantes têm orientado os passageiros como utilizar os coletes salva-vidas.

Condições precárias

José Batista Lima, presidente da Adupt-BA (Associação em Defesa dos Passageiros da Bahia), disse ao UOL que embarcações que operam na região estariam em condições precárias de conservação. Há menos de três meses, uma lancha que fazia a mesma travessia ficou cheia de água no trajeto. Houve pânico entre os passageiros.

A entidade diz ter enviado diversos ofícios informando às autoridades alertando sobre essa preocupação. Ele afirmou que, caso os órgãos responsáveis dessem importância às reclamações, a tragédia poderia ser evitada.

Em 2014, os usuários acionaram o Ministério Público da Bahia, que ingressou com quatro ações questionando a segurança das lanchas.

Em funcionamento desde os anos 60, o sistema de lanchas foi licitado apenas em 2012 e não havia nenhuma cláusula determinava a compra de embarcações mais modernas.

Mesmo com as queixas dos usuários sobre a situação das embarcações, empresários, Marinha e governo atestam a regularidade das lanchas. A Capitania dos Portos afirma que a lanchas que operam entre Salvador e Vera Cruz estão com documentação e vistoria em dia.

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