Jovem morto por tentar entrar em veículo errado havia comprado carro para passear com filhas
O jovem assassinado ao se confundir e tentar entrar no veículo de um agente penitenciário pensando que era o seu havia comprado o primeiro carro há uma semana para passear com as filhas. O crime aconteceu na periferia de São Paulo.
Jean Araújo Rufino Chagas, 23, trabalhava como auxiliar colorista em uma loja de tintas e morava em Itapecerica da Serra com a mulher e uma das duas filhas, de 3 anos. A outra filha, fruto de um outro relacionamento, tem 4 anos.
Na noite desta terça-feira (19), ele foi morto com um tiro na cabeça, após uma distração, em frente ao hospital geral de Itapecerica da Serra, onde tinha levado a mulher, que havia passado mal.
A mulher de Chagas, abalada, afirmou à família que, enquanto aguardava na sala de emergência do hospital, o jovem decidiu ir ver se estava tudo bem com seu carro, um Ford Fiesta prata. Ele havia estacionado na rua e temia que o veículo fosse furtado.
Muito próximo de onde ele havia deixado o carro, o agente penitenciário Joaquim Fidelis Moreira Neto havia parado seu veículo, um Nissan Livina prata. Chagas confundiu os dois modelos.
Vestido de moletom e usando uma touca, Chagas tentou abrir o Nissan usando a chave do Fiesta. O agente, que estava dentro do carro, se assustou e, de imediato, atirou na testa do jovem, que morreu na hora.
O Fiesta foi o primeiro carro comprado pelo jovem. Segundo a prima dele, a estudante Pâmela Ellen Chagas Gama, 27, ele havia comprado o carro para poder passear com as duas filhas.
"Ele comprou o carro tem mais ou menos uma semana. Tinha comprado para poder andar com as meninas, porque antes, com a moto, não dava", afirmou. "Meu primo vendeu a moto, deu entrada no carro e meu tio ia ajudar a pagar o restante das parcelas", complementou.
Além das filhas e da mulher, uma outra paixão do jovem era o futebol. Ele participava de um time de futebol criado pela família e que costumava disputar partidas em Capuava, no interior de São Paulo, próximo de onde o pai dele tem uma chácara e de onde alguns outros primos vivem.
"Ele tem muitos amigos. Estamos vendo de alugar um ônibus para levar os amigos dele ao enterro", afirma Pâmela. O enterro será no Cemitério Memorial Parque das Cerejeiras, no Jardim Ângela, zona sul da capital paulista.
"Despreparado"
O pai de Chagas, o aposentado Genildo Rufino Chagas, 48, afirmou que, ao chegar em frente ao hospital, onde o filho estava caído, as pessoas ao redor estavam achando que o jovem era um assaltante. "Perguntaram se era trabalhador, se tinha família", disse.
Genildo Chagas se apresentou como pai do rapaz e apontou para o Ford Fiesta, estacionado logo a frente, dizendo que era do filho. "Foi quando as pessoas tiveram a ideia do erro que tinha acontecido", afirmou. Nesse momento, o pai teve uma breve conversa com o agente penitenciário.
"Ele [agente] disse que tentaram assaltá-lo. Eu apontei para o carro do meu filho, e ele falou: 'É esse? Eu atirei nele, sou agente penitenciário. Ele colocou a mão na porta do meu carro, achei que ia me roubar e atirei", disse Chagas.
"Como pode atirar e matar alguém assim, dessa maneira?", questiona o aposentado. "Eu disse a ele que ele era despreparado. Ele tirou a vida de um trabalhador e de um pai de família", afirmou o pai do jovem.
Polícia Civil: "vestimenta igual a utilizada em assaltos"
A reportagem não conseguiu localizar a defesa do agente penitenciário Joaquim Moreira Neto. À Polícia Civil, ele afirmou que agiu em legítima defesa, porque pensou que seria assaltado.
Moreira Neto se apresentou na delegacia central de Itapecerica da Serra, onde prestou depoimento e foi liberado. Segundo o delegado Renato Gonçalves Coletes, a ação do agente foi uma legítima defesa.
De acordo com o Boletim de Ocorrência, "a vítima usava uma vestimenta igual a utilizada em assaltos: moletom com capuz e chapéu". A Polícia Civil informou que serão feitas buscas na região por imagens de câmeras de segurança.
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