Leilão de vinho de R$ 15 mil e bolsa de grife expõe vida de luxo de megatraficante
Dois carros, uma moto, vinhos finos e bolsas de grife que valem mais de R$ 230 mil e pertenciam ao traficante de drogas Luiz Carlos da Rocha, o "Cabeça Branca", a Wilson Roncaratti, apontado pela polícia como braço direito dele, e a familiares de ambos, estão à venda até 26 de outubro, após não aparecerem interessados em dois leilões determinados pela Justiça Federal.
Rocha, que foi preso em julho passado após passar quase 30 anos foragido, era dono de um patrimônio estimado em pelo menos US$ 100 milhões e era considerado pela Polícia Federal o traficante mais procurado da América do Sul.
Os bens colocados à venda permitem entrever a vida de luxo que "Cabeça Branca" e seu grupo levavam. Ali está, por exemplo, o vinho Château Petrus, a joia mais preciosa da região de Bordeaux, na França --a cada safra, não se produzem mais que 30 mil garrafas.
Em um site especializado britânico, lê-se que, em sua elaboração, "o Petrus é tratado como criança mimada: as uvas são colhidas apenas à tarde, quando o orvalho da manhã já evaporou, de forma a não haver nem mesmo o mínimo risco de que qualidade das uvas seja diluída". Avaliado em R$ 14.690 por um perito judicial, o vinho --como todo o lote de produtos-- pode ser arrematado com desconto de 20%, a "módicos" R$ 11.752.
Muito caro? Que tal o português Barca Velha, safra 2004, nono colocado numa seleção de cem melhores vinhos para a guarda feita pela revista norte-americana "Wine Enthusiast", que lhe conferiu 99 de 100 pontos possíveis? Até onde se pode saber, era um dos favoritos do traficante, que tinha cinco garrafas dele. Cada uma delas foi avaliada em R$ 2.950; com o desconto autorizado pela Justiça, saem por R$ 2.360.
Já o chileno Almaviva, safra 2011, descrito por especialistas como "um tinto excepcional e elegante complexo", foi avaliado a R$ 1.133,91. Com o desconto, é um dos dois únicos rótulos que "Cabeça Branca" mantinha em casa que pode ser comprado por exatos R$ 907,13.
O outro é a champanhe Dom Perignon Vintage, safra 2000, que, segundo a revista "Wine Spectator", estará perfeita para ser consumida até 2024.
O item mais barato à venda também é uma bebida: uma garrafa da grapa Monovitigno Chardonnay di Nonino, um destilado elaborado a partir do bagaço da uva fina chardonnay.
Curiosamente, a garrafa estava, quando o traficante foi preso, "apenas com um pouco acima da metade de sua capacidade total". Assim, custa também a metade de seu preço de mercado: R$ 146,40, já com o desconto. Quem a arrematar poderá, de certa forma, terminar o que "Cabeça Branca" começou.
Bolsa Louis Vuitton ainda está encalhada
Dos 38 bens que pertenciam a Luiz Carlos da Rocha mandados a leilão, apenas um foi arrematado --um carro Mercedes Benz CLA 200, ano 2015, vendido por R$ 96,5 mil a um morador de Jataí (GO). Ele pertencia a um dos filhos de Roncaratti. Os demais --aí incluídos outros dois automóveis, uma motocicleta esportiva e bolsas das grifes Salvatore Ferragamo, Prada e Louis Vuitton-- encalharam.
Teriam os possíveis compradores medo de uma eventual retaliação do antigo dono? "Não acredito", respondeu o leiloeiro Guilherme Toporoski, responsável pelo leilão e, agora, pela venda. "O problema é o preço. Mesmo com o desconto de 20%, possivelmente o público não achou interessante", argumentou.
"A bolsa Louis Vuitton, por exemplo, foi avaliada pelo valor da nova. Mesmo com o desconto, acho que está muito caro. Na loja, dá para parcelar, e há toda a pompa envolvida na compra de um artigo de luxo como esse."
Segundo a assessoria da Justiça Federal em Curitiba, por ora foi autorizada apenas a venda de bens sujeitos à deterioração. O dinheiro eventualmente arrecadado fica depositado em uma conta mantida pela Justiça.
Apenas quando forem esgotados todos os recursos --o que leva anos-- é que o valor é devolvido ao réu, em caso de absolvição, ou entregue ao poder público, caso haja condenação. Nesse caso, o destino do dinheiro é decidido pelo juiz.
Traficante levava à Europa 3 toneladas de cocaína por mês
Luiz Carlos da Rocha foi preso em Sorriso (398 km ao norte de Cuiabá) em julho, em uma operação da Polícia Federal resultante de uma investigação que durou mais de um ano. Ele era responsável pelo embarque mensal de pelo menos três toneladas de cocaína pura para a Europa. Por ser um "negociador, e não um homem de perfil violento", teve vida longa no tráfico de drogas, afirmou à época o delegado responsável pela operação, Elvis Secco.
O criminoso tinha diversas casas e apartamentos no Brasil e no Paraguai. Foi nelas que a PF apreendeu os bens que estão à venda, por ora armazenados numa delegacia em Londrina (381 km a noroeste de Curitiba). Eles podem ser vistos pela internet, em https://topoleiloes.com.br. Rocha, por sua vez, está preso no presídio federal de segurança máxima de Catanduvas (PR).
Outro lado
O advogado Fábio Ricardo Mendes Figueiredo, que defende Luiz Carlos da Rocha, disse apenas que o leilão "é um procedimento judicial previsto na legislação". Ele não informou se pretende recorrer da medida.
A defensora de Roncaratti e seus familiares, Michele Bittencourt, por sua vez, informou que apresentou recurso à Justiça para tentar impedir que sejam vendidos bens que pertencem a um dos filhos do homem apontado como braço direito do traficante. O pedido ainda não foi julgado.
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