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Noivo passa mal, e casamento começa na igreja e termina em hospital de AL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

25/11/2017 15h31

O casamento de Regivaldo Roque dos Santos, 43, e Adriana Maria Melo Roque, 33, tinha tudo para ser mais um na vida do padre Calmon Malta. A cerimônia estava marcada para a Igreja de São José, no bairro do Trapiche, em Maceió: noiva atrasada em uma hora, pregação do padre... E, no meio do casamento, o noivo passou mal. O "sim" dos noivos acabou acontecendo dentro de um hospital na noite de sexta-feira (24).

Há oito anos, Regivaldo fez um transplante de rim, por problemas decorrentes de uma hipertensão não diagnosticada. Desde lá, tem a saúde fragilizada.

O noivo conta que estava tudo bem na igreja até a chegada da noiva. "Estava tudo bem, nós estávamos em um local ventilado. Mas quando o padre pediu para subir no altar, era um lugar mais quente. Aí já percebi e disse a mim mesmo: 'vou passar mal aqui'. Estava muito calor, e o padre foi celebrando e eu tentei aguentar, mas não deu", diz.

A soma do calor e da emoção foi responsável pelo mal-estar. "Ali na frente do padre eu ia fazer o quê? Dizer: 'espera aí que eu volto já?'". 

O padre Calmon já sabia da condição de Regivaldo e o avisou de que, caso precisasse, acenasse durante a cerimônia.  

"Ele acenou que não tava bem. Coloquei ele na cadeira, mas aí ele foi ficando ainda mais pálido. Chamei alguém para trazer uma água gelada. Paramos um pouco, voltamos a cerimônia ainda. Tentamos, mas percebemos que não tinha condição. Chamei o pessoal, e levaram ele para o hospital", conta.

Com soro na veia

Regivaldo foi levado ao HGE (Hospital Geral do Estado), em Maceió.

"Fui pra lá só querendo melhorar, voltar logo pra minha esposa. Pra mim eu estava acabando com o casamento dela; as pessoas estavam esperando a festa. Quando cheguei, a médica me atendeu, fez um eletro[cardiograma], e passou 5 litros de soro. Foi quando os colegas de soro [na enfermaria do HGE] falaram: 'porque não traz o padre para cá?'. Todo mundo na hora ficou animado: os pacientes ficaram se arrumando, os funcionários tiraram a touca. Estava achando engraçado", lembra.

A ideia que nasceu no maior hospital de urgências de Alagoas e chegou ao padre, que ainda aguardava na igreja.

"Já estava até marcando o resto da cerimônia para outro dia, quando perguntaram se não tinha como concluir lá. Aí disse, vamos, já estava tudo pronto mesmo, já tinha mandado os convidados para a festa", diz.

O padre então seguiu ao HGE, e a chegada de Adriana vestida de noiva se tornou a atração na noite dessa sexta-feira.

Adriana passou pelo meio dos corredores para chegar à enfermaria. Foi cumprimentada e incentivada. 

Com o noivo sentado e tomando soro e a noiva em pé, padre Calmon leu as palavras finais. Os dois puseram as alianças, deram o tradicional beijo e saíram de lá casados.

Depois do "sim" de agora marido e mulher, a única consequência do final inusitado foi que a lua-de-mel precisou ser adiada em um dia. O casal iria para a Barra de São Miguel (praia na região metropolitana de Maceió) ainda na noite da sexta, mas acabou indo apenas no início da tarde deste sábado. "Mas está tudo certo agora", afirma Regivaldo.

Em 10 anos de batina, o padre Calmon disse que nunca passou ou sequer ouvir falar em um caso semelhante. "Já vi celebrar cerimônia realizada em hospital com enfermos, de gente passar mal em casamento. Mas de começar na igreja e terminar no hospital nunca vi na vida", conta.