PF busca prender 36 suspeitos por tráfico no Galeão; malas com cocaína eram enviadas ao exterior
A Polícia Federal realiza nesta terça-feira (19) uma operação para cumprir 36 mandados de prisão contra suspeitos de tráfico internacional de drogas, descaminho e furto de bebidas do interior de aeronaves em pouso, que atuavam no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, o Galeão, na zona norte do Rio de Janeiro.
Um dos grupos criminosos usava o principal aeroporto do RJ como porta de saída de drogas do país. Malas recheadas de cocaína eram despachadas em viagens internacionais.
As investigações apontam a participação de funcionários do próprio aeroporto e de companhias aéreas, com apoio de servidores públicos da área de fiscalização aduaneira. Entre os mandados de prisão, ao menos 23 são contra funcionários do aeroporto e dois contra servidores da Receita Federal.
A organização criminosa, investigada desde fevereiro deste ano, também é suspeita de atuar com contrabando de mercadorias e desvio de bebidas alcoólicas que seriam servidas nas aeronaves.
De acordo com a "TV Globo", até 8h37, ao menos 20 pessoas já haviam sido detidas. A Polícia Federal precisou mobilizar um ônibus para levar os suspeitos até a sede da PF, na zona portuária da capital fluminense. Eles serão indiciados por organização criminosa, tráfico de drogas, associação para o tráfico de drogas, corrupção, facilitação ao contrabando e descaminho, descaminho, furto qualificado, além de associação criminosa.
Esta seria, na versão da instituição policial, a maior operação já realizada no principal aeroporto do Rio de Janeiro. Dentro das investigações, a Polícia Federal realizou em setembro a maior apreensão de cocaína da história do Galeão --mais de 300 kg da droga.
Como funcionava o esquema
Segundo a PF, foram identificados três grupos, capitaneados por um ex-funcionário do Galeão, responsável por recrutar os demais integrantes do grupo criminoso. Ele era auxiliado por seu pai, que ainda exercia atividade laboral no aeroporto.
O primeiro grupo criminoso em atuação no Galeão era responsável pelo embarque de malas recheadas de cocaína em aviões com destino ao exterior, burlando a fiscalização policial e alfandegária. Para isso, contava com o auxílio de funcionários com acesso à área restrita do aeroporto, que eram incumbidos de colocar malas em voos internacionais sem que as mesmas sofressem inspeção.
De acordo com as investigações, a droga pertencia a dois estrangeiros --um albanês e um romeno-- e ficava armazenada em um galpão no Mercado São Sebastião, na Penha, zona norte do Rio. As malas eram levadas ao Galeão em táxis, a fim de reduzir o risco de blitz policial.
No balcão de check-in, funcionários da companhia aérea providenciavam a duplicação irregular de etiquetas de bagagem despachadas por outros passageiros --estes sem qualquer envolvimento com o esquema. As etiquetas eram colocadas nas malas com cocaína. Os envolvidos então providenciavam o despacho, com o objetivo de garantir a entrada delas na área restrita, simulando destinação para voo doméstico.
Operadores de rampa, integrantes do grupo, ao identificarem a bagagem, deixavam de colocá-las no contêiner do voo doméstico, desviando as mesmas para contêineres de malas que ingressariam em voo internacional.
O segundo esquema visava o desembarque de malas vindas do exterior, sem que elas fossem submetidas à fiscalização. Na maior parte das vezes, a bagagem era retirada pelos operadores de esteira do desembarque internacional e, posteriormente, desviadas para a esteira do desembarque doméstico, para evitar a fiscalização alfandegária e o pagamento de tributos.
Quando o passageiro passava pelo canal de inspeção da Receita, em geral portava apenas bagagens de mão. Após a ação dos operadores de bagagens, as malas eram retiradas por um funcionário da companhia aérea no interior do setor de desembarque doméstico (esteira para retirada de bagagens) e entregue ao passageiro no saguão do aeroporto ou até mesmo na calçada do aeroporto.
Em outra frente de atuação nesse mesmo esquema, funcionários do Galeão se encontravam com passageiros envolvidos no crime na porta da aeronave e os acompanhavam até o canal aduaneiro, onde um servidor da Receita liberava as malas que passavam pelo raio-x, mesmo que identificasse mercadoria entrando de forma irregular sem recolhimento dos tributos. Esse servidor foi flagrado durante as investigações recebendo propina para liberar mercadorias.
Já o último núcleo criminoso atuava subtraindo, com frequência diária, garrafas de vinho, champanhe e garrafas em miniatura de bebidas do interior das aeronaves em pouso. Funcionários da empresa de catering realizavam o furto, levando os vasilhames para áreas conhecidas como "pontos cegos", onde era feita a triagem.
A PF, que definiu esse esquema de "bem estruturado", informou que ele também contou com auxílio de membros de empresas com trânsito livre na pista do Galeão, responsáveis por retirar a mercadoria furtada das dependências do aeroporto. Agentes de portaria e segurança também eram cooptados para fazer "vista grossa" na saída das bebidas, as quais eram, posteriormente, vendidas para receptadores.
Em setembro, a PF realizou a prisão de dois funcionários do aeroporto e de um receptador. Foram apreendidas cerca de 2.715 garrafas de bebidas, veículos e dinheiro.
Procurada, a Infraero, que administrava o Galeão até ele ser concedido à iniciativa privada, em 2014, informou que não há funcionários da estatal atuando hoje no aeroporto internacional do RJ. A Receita Federal não se posicionou.
Em nota, a concessionária RIOgaleão informou que apoia as investigações da Polícia Federal e demais órgãos públicos para "coibir atos ilícitos". A empresa disse não tolerar "práticas que descumpram qualquer procedimento operacional e de segurança e possui rigorosos processos de prevenção de ilícitos".
(Com Estadão Conteúdo)
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