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Inspeção revela buraco em parede de prisão de rebelião que deixou 9 mortos em GO

2.jan.2018 - Presos foragidos são recapturados e levados de volta para o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, em Goiás, após rebelião que deixou nove mortos e provocou a fuga de mais de 200 detentos - Claudio Reis - 2.jan.2018/O Popular/AFP - Claudio Reis - 2.jan.2018/O Popular/AFP
Foragidos são levados de volta para a cadeia em Aparecida de Goiânia
Imagem: Claudio Reis - 2.jan.2018/O Popular/AFP

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

03/01/2018 14h25Atualizada em 03/01/2018 14h58

Uma inspeção feita nesta quarta-feira (3) na cadeia de Aparecida de Goiânia (GO) onde houve uma rebelião com nove mortos e dezenas de foragidos revelou a existência de um buraco na parede de uma das alas da prisão. O furo liga o interior de uma das celas à parte externa da prisão.

O buraco foi feito na ala C, a mais numerosa da cadeia e onde começou a rebelião. De lá, teriam partido os detentos que invadiram as outras alas, ocupadas por presos de grupos rivais.

A vistoria foi conduzida pelo presidente do TJ-GO (Tribunal de Justiça de Goiás), desembargador Gilberto Marques Filho, após determinação da presidente do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia. O TJ-GO deverá enviar ao CNJ um relatório sobre as condições da cadeia e dos detentos até amanhã.

Imagens da inspeção, divulgadas pelo tribunal goiano, mostram outros rastros da destruição deixada pela rebelião, ocorrida na segunda-feira (1º) na Colônia Agroindustrial do Regime Semiaberto do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.

Há uma grande quantidade de entulho espalhada pelo chão, como tijolos e telhas quebradas, além de baldes de plástico, sacos de lixo e colchões. Boa parte deste material foi incendiada.

Segundo autoridades estaduais, todos os mortos na rebelião tiveram os corpos carbonizados. Duas das vítimas chegaram a ser decapitadas.

Após a inspeção, o desembargador Marques Filho disse à imprensa que os problemas no sistema penitenciário não são locais, mas nacionais, e cobrou uma ação do governo federal.

"Quem tem a caneta hoje é o presidente da República, a meu ver. Ele é que tem que assumir esse papel porque nós, Estado, não temos condições. E isso não é só em Goiás, é em todos os Estados do Brasil", afirmou o presidente do TJ-GO.

3.jan.2018 - Inspeção revela destruição em prisão de Aparecida de Goiânia (GO) onde houve rebelião que deixou 9 mortos - Divulgação/TJ-GO - Divulgação/TJ-GO
Imagens mostram destruição deixada por rebelião em Aparecida de Goiânia
Imagem: Divulgação/TJ-GO

Mais de 200 fugitivos

Nesta quarta, 99 detentos ainda estavam foragidos após a rebelião e outros 143 haviam sido recapturados, segundo a Seap-GO (Superintendência de Administração Penitenciária de Goiás).

Com isso, entre foragidos e recapturados, o total de presos que fugiram durante a rebelião chega a 242, cifra bem maior do que a informada pelo governo goiano nas primeiras horas após a rebelião. Na noite do dia 1º, os números oficiais davam conta da fuga de 106 presos, sendo que 29 haviam sido recapturados e 77 estavam foragidos até pouco antes das 20h de segunda-feira. 

De acordo com o governo, a rebelião começou por volta das 14h de segunda-feira, quando presos da ala C da colônia invadiram as alas A, B e D. Estas alas abrigam detentos do chamado grupo dos "bloqueados" --os que cumprem pena em regime fechado dentro da colônia. A polícia conseguiu controlar a situação cerca de duas horas depois.

A colônia abriga 1.254 presos, sendo 784 "bloqueados" em um área para 380 detentos, segundo dados divulgados pelo TJ-GO. Também há lotação nas instalações do regime semiaberto: são 250 vagas em um dormitório ocupado por 470 condenados. 

Presos baleados

A rebelião também deixou 14 feridos, sendo que um ainda continuava internado no Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia na tarde desta quarta, em estado grave. Dois dos feridos foram baleados, informou a direção do hospital.

A Polícia Civil investiga de que armas partiram os disparos que atingiram os detentos e se a rebelião tem relação com um conflito entre facções criminosas de atuação nacional ou se teve como motivação brigas de grupos locais.

Após a rebelião, três armas de fogo foram encontradas enterradas no pátio da cadeia. A Seap abriu sindicância para investigar a entrada do armamento na prisão.

Segundo o Sinsep-GO (Sindicato dos Servidores do Sistema de Execução Penal de Goiás), no momento da rebelião havia apenas cinco agentes penitenciários para cerca de 1.200 presos, número insuficiente para controlar os detentos e fazer uma revista. O número de agentes também foi confirmado pelo governo goiano.