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Mais de 200 presos fugiram após rebelião em Goiás; quase 100 ainda estão foragidos

Fumaça é vista após rebelião de presos em Aparecida de Goiânia  - Divulgação - 1º.jan.2018/Sinsep-GO
Fumaça é vista após rebelião de presos em Aparecida de Goiânia Imagem: Divulgação - 1º.jan.2018/Sinsep-GO

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

02/01/2018 12h36Atualizada em 02/01/2018 15h40

Pelo menos 99 presos ainda estavam foragidos na tarde desta terça-feira (2) após a rebelião que deixou nove detentos mortos na segunda-feira (1º) em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana de Goiânia. O número foi informado pela Seap-GO (Superintendência de Administração Penitenciária de Goiás). 

Segundo o órgão, outros 143 detentos foram recapturados após a rebelião, ocorrida na Colônia Agroindustrial do Regime Semiaberto do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. 

Com isso, entre foragidos e recapturados, o total de presos que fugiram durante a rebelião chega a 242, uma cifra bem maior do que a informada pelo governo goiano nas primeiras horas após a rebelião. 

Na noite passada, os números oficiais davam conta da fuga de 106 presos, sendo que 29 presos haviam sido recapturados e 77 estavam foragidos até pouco antes das 20h de segunda-feira. 

Em entrevista coletiva concedida de manhã, o superintendente de administração penitenciária de Goiás, tenente-coronel Newton Nery de Castilho, chegou a falar em 258 fugitivos, com 153 recapturados até aquele momento.

De acordo com Castilho, uma lista com os nomes dos foragidos está sendo elaborada apenas hoje, com o funcionamento da Coordenadoria de Cartórios da Seap. Ele confirmou que presos conseguiram fazer um buraco no muro da colônia, e admitiu que a estrutura do local é "frágil".

20.nov.2017 - Foto do superintendente de administração penitenciária de Goiás, tenente-coronel Newton Nery de Castilho - Divulgação - 20.nov.2017/Seap-GO - Divulgação - 20.nov.2017/Seap-GO
O superintendente Newton Nery de Castilho
Imagem: Divulgação - 20.nov.2017/Seap-GO

Corpos carbonizados

O superintendente também informou que dois dos presos assassinados foram decapitados e que todos eles tiveram os corpos carbonizados. Por este motivo, as vítimas ainda não foram identificadas. 

A rebelião deixou também 14 detentos feridos. Segundo o Huapa (Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia), cinco ainda estão internados no local, um deles em estado grave após ter sofrido queimaduras e inalado fumaça. 

Pelo menos dois detentos deram entrada no hospital com ferimentos provocados por balas e continuam no Huapa. Todos os internados não têm previsão de alta.

Segundo a Seap, três armas de fogo foram apreendidas na Colônia Agroindustrial após a rebelião e tiros foram disparados durante a confusão, mas ainda não há detalhes sobre a origem dos disparos, nem sobre como as armas entraram na prisão.

O presidente do Sinsep-GO (Sindicato dos Servidores do Sistema de Execução Penal de Goiás), Maxsuell Neves, disse ontem ao UOL que não há agentes penitenciários suficientes para controlar a colônia e revistar os presos.

"São 1.200 presos e cinco agentes penitenciários no plantão. Não tem como fazer o controle", disse.

De acordo com Neves, pelo menos 400 detentos da colônia têm direito ao regime semiaberto, quando o preso passa o dia fora da cadeia, mas precisa voltar à noite. O fluxo de entrada e saída de internos, aliado à falta de efetivo para revista, poderia ter possibilitado a entrada de armas de fogo.

Alas entraram em confronto

De acordo com o governo, a rebelião começou por volta das 14h de segunda-feira, quando presos da ala C da colônia invadiram as alas A, B e D. Estas alas abrigam detentos do chamado grupo dos "bloqueados" --os que cumprem pena em regime fechado dentro da colônia.

A instituição tem um total de 768 "bloqueados", disse Castilho, sendo que a ala C é a mais numerosa, com 449 presos. O restante fica distribuído pelas outras alas.

Segundo o superintendente, a parte destinada aos "bloqueados" tem capacidade para 530 pessoas --ou seja, as alas abrigavam 238 a mais do que deveriam antes da rebelião.

A motivação para a rebelião ainda não está clara. Na entrevista coletiva de hoje, Castilho falou em "problemas de rixas anteriores". Antes da entrevista, a Seap-GO divulgou comunicado dizendo que não há falta de comida no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia; que houve falta de água no local apenas na segunda-feira; e "que realiza correntemente campanhas para manter a saúde dos detentos em dia.

Ontem, Neves, do Sinsep-GO, disse que a rivalidade entre as alas se deve ao fato de elas serem ocupadas por presos de diferentes facções criminosas --no caso, o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho). A Seap-GO não confirma se a rebelião tem relação com conflito de facções.

Agente penitenciário é assassinado em Anápolis

A violência ligada ao sistema prisional deixou mais um morto na manhã desta terça (2) em Goiás. Segundo o Sinsep-GO, o vigilante penitenciário Eduardo dos Santos foi assassinado no bairro Boa Vista, em Anápolis, ao sair de seu plantão no presídio da cidade, que fica a cerca de 60 km de Goiânia.

De acordo com o sindicato, o assassinato foi uma retaliação a uma revista ocorrida na segunda-feira no presídio de Anápolis. 

Segundo comunicado da Seap-GO, a Polícia Civil já deu início às investigações para apurar as circunstâncias e autoria do crime. A reportagem não conseguiu contato com a Polícia Civil para saber se já há informações sobre quem cometeu o crime e a sua motivação.