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Nordeste tem recorde de reservatórios secos; um terço da região enfrenta 'seca máxima'

Maior barragem do RN, a Armando Ribeiro Gonçalves (Açu) atingiu seu volume morto - Adrovando Claro/Photo Press/Folhapress
Maior barragem do RN, a Armando Ribeiro Gonçalves (Açu) atingiu seu volume morto Imagem: Adrovando Claro/Photo Press/Folhapress

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

28/01/2018 04h01

O Nordeste brasileiro fechou 2017, seu sétimo ano seguido de estiagem, com um terço de seu território no grau mais elevado de seca, segundo dados da ANA (Agência Nacional das Águas). Outro dado mostra outro efeito do resultado da seca: o sistema Olho N'água, do órgão federal Insa (Instituto Nacional do Semiárido), indica apenas 11,4% da capacidade total de água acumuladas em barragens e açudes – trata-se do menor índice já registrado na região. 

Monitor de secas na região do nordeste. Quanto mais forte a cor, maior a intensidade da seca (o centro, em vermelho escuro, representa a seca excepcional) - Funceme/Ceará/Ana.gov - Funceme/Ceará/Ana.gov
Monitor de secas na região do nordeste, de janeiro de 2018. Região do centro, em vermelho escuro, tem seca excepcional com impactos de curto e longo prazo
Imagem: Funceme/Ceará/Ana.gov

Segundo mapa do Monitor de Secas do Nordeste, da ANA, 33,6% do território nordestino apresentava, em dezembro,  seca nível 4, o mais alto da escala e classificado como seca excepcional. Em 2015, esse índice chegou a 47% e, em 2016, a 65%. Em 2014, ano com maior volume de chuva desde 2012, só 6% do território teve seca excepcional.

Também no ano passado, 29% do território nordestino registraram nível 3, de seca extrema.

De acordo com o boletim da ANA, o mês de dezembro não registrou chuvas como se esperava. "O que se verificou foi que as chuvas de dezembro ficaram, predominantemente, abaixo do normal, sobretudo naquelas áreas em que se esperava acumulados significativos [centro-sul e oeste dos Estados do Maranhão, Piauí e Bahia]", informa o boletim.

No semiárido não há uma época chuvosa uniforme e cada área tem sua especificidade. Ao norte do Nordeste, os meses de dezembro e janeiro são considerados pré-estação chuvosa –de fevereiro a maio. As faixas centro-sul e oeste do Nordeste estão em seu período chuvoso, de dezembro a fevereiro. No lado leste (onde as chuvas geralmente vão de maio a agosto), não há previsão de chuva intensa para agora. 

No 7º ano de seca, metade dos reservatórios do semiárido está abaixo de 10% - Compesa - Compesa
Barragem de Jucazinho, no agreste pernambucano, está em colapso há um ano e quatro meses
Imagem: Compesa

Deficit hídrico

Mesmo com mais chuvas em 2017 do que nos anos anteriores, os índices seguiram abaixo da média e não foi possível sanar o problema da falta de água --o que levou dezenas de cidades ao colapso e a serem abastecidas apenas por carros-pipa.

O sistema Olho N'água, que monitora 452 reservatórios do semiárido brasileiro (Nordeste e norte de Minas Gerais), aponta a gravidade da situação: 62% dos reservatórios estão com índices abaixo de 10% do total. Em maio, o número de reservatórios nessa condição ficava em 50,5%

Hoje no semiárido, apenas 15 reservatórios (menos de 4%) têm mais de 75% de seu volume total. Já 17% deles ficam com valores entre 10% e 25%. 

Maior barragem do Rio Grande do Norte, a Armando Ribeiro Gonçalves (Açu) enfrenta seca  - Felipe Alecrim/Divulgação - Felipe Alecrim/Divulgação
Barragem Armando Ribeiro Gonçalves (Açu), no Rio Grande do Norte, enfrenta seca
Imagem: Felipe Alecrim/Divulgação

Reservas secando

Sem água, as reservas estão secando pelos Estados. No início deste ano, a maior barragem do Rio Grande do Norte, a Armando Ribeiro Gonçalves, em Açu, atingiu seu volume morto (reserva d'água mais profunda, que só pode ser extraída com uso de bombas). Caso não chova até fevereiro, pode não haver mais água para abastecer cerca de 40 municípios

Segundo o Instituto de Gestão das Águas do Estado, no dia 26 de dezembro as reservas hídricas do Rio Grande do Norte estavam "no seu menor nível pelo monitoramento realizado nos últimos seis anos, com apenas 11,5% da capacidade total de armazenamento no Estado".

No Ceará, o maior açude --o Castanhão, em Alto Santo, que abastece Fortaleza-- também entrou no volume morto em novembro de 2017. Na última medição do governo do Estado, dia 4 de janeiro, o nível do reservatório estava em 2,38% do total. Os 155 reservatórios estavam com apenas 6,8% do total acumulado de água.

Em Pernambuco, a barragem de Jucazinho, em Surubim --que deveria abastecer cidades do agreste do Estado--, está em colapso há um ano e quatro meses. A barragem foi feita para resolver um histórico problema de abastecimento da região, o que não aconteceu.

Na Paraíba, o açude de Boqueirão estava em volume morto até julho. A saída, porém, só ocorreu com a inauguração do eixo leste da transposição do rio São Francisco