General vê discriminação contra militares: "país luta contra todos os preconceitos, menos contra esse"
O general da reserva Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ex-comandante das forças da ONU (Organização das Nações Unidas) no Haiti, foi aplaudido durante palestra na ESG (Escola Superior de Guerra), na Urca, zona sul do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira (7) ao dizer que o país não combate o preconceito contra os militares.
Ao participar do painel de debates "A Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro: Intervenção Federal e Forças Armadas", o general dizia apoiar a escolha de um militar, o general Walter Souza Braga Netto, como interventor federal na área de segurança no Estado. Ele disse que a opção do presidente Michel Temer (MDB) por um militar é válida, pois os militares passam a vida inteira estudando. “Estamos sendo mal aproveitados”, afirmou.
“É impressionante o preconceito que continua a existir contra os militares, não tem razão de ser. Após o fim do regime militar, as Forças Armadas têm sido o baluarte da democracia no Brasil”, disse. E, ao afirmar que “o país luta contra todos os preconceitos, menos contra esse”, foi aplaudido por uma plateia formada por mais de 300 militares e acadêmicos.
Na semana passada, o presidente Michel Temer (MDB) também disse que existe "preconceito" em relação à atuação das Forças Armadas no país. Em entrevista à rádio "Jovem Pan", o presidente afirmou que os militares precisam participar mais da administração pública.
"Tem que acabar com esse preconceito de que as Forças Armadas não podem fazer nada. Temos que trazer as Forças Armadas para a administração, precisamos acabar com esse preconceito. Eu disse várias vezes aos oficiais militares que eles não precisam entrar na política, mas que precisam ajudar a administração".
No seminário da ESG, além do general Heleno, participaram como debatedores o desembargador Milton Fernandes, presidente do Tribunal de Justiça do Rio, e a professora e antropóloga Alba Zaluar, do Núcleo de Pesquisas da Violência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Foi a primeira vez que a ESG realizou uma palestra aberta à imprensa.
Heleno e Zaluar divergiram quando o general defendeu que as tropas alertem e, se preciso, atirem contra criminosos avistados armados com armas de guerra em favelas no Rio.
“O cara não pode andar de fuzil na rua como se fosse um aspirador de pó. Ele não tem o direito de andar pela rua com um fuzil AR-15”, disse Heleno.
Ele afirmou que o ideal seria que esses suspeitam sejam presos, mas disse que como último recurso o criminoso deve ser alvejado para que deixe de colocar a população em risco. Fez questão de deixar claro que a situação atual seria emergencial e por isso exigiria medidas enérgicas.
“Você não vai arrumar (a segurança no Rio) jogando flores e beijinho igual ao (cantor) Roberto Carlos”, afirmou – arrancando mais uma vez palmas da plateia.
A professora Alba Zaluar defendeu que a eventual morte de criminosos que carreguem armas ostensivamente não resolve o problema de segurança no Rio. Segundo ela, a política do enfrentamento vigorou por anos e só piorou a situação da segurança.
Em entrevista ao UOL publicada em 21 de fevereiro, o general Heleno defendeu que o Judiciário dê respaldo a ações mais duras das forças de segurança, inclusive para que militares possam atirar para matar ao avistar suspeitos portando fuzis --da mesma forma que ocorria na missão da ONU.
Guerrilha do Araguaia
O general e a antropóloga também divergiram quando Heleno disse que o Brasil corre o risco de se transformar em um "narcoestado", devido ao alto índice de crimes relacionados ao tráfico de cocaína. De acordo com ele, a proximidade com países andinos produtores da droga agrava a situação no Brasil, que teria acesso mais fácil ao entorpecente e seria rota do tráfico internacional de entorpecentes.
"A Colômbia teve 50 anos de guerra civil porque não fizeram lá o que foi feito no Araguaia. O país teve que passar 50 anos lutando com uma organização terrorista", disse o general.
Ele se referia ao episódio que ficou conhecido como Guerrilha do Araguaia (1972-1975), no qual as Forças Armadas entraram em choque com membros do Partido Comunista do Brasil, que lutavam pela instauração de um regime socialista no Brasil. O movimento guerrilheiro foi debelado à força.
Tanto militares como guerrilheiros foram anistiados por crimes cometidos durante o conflito, mas em 2010 a Corte Interamericana de Direitos Humanos pressionou para que o país punisse agentes do Estado envolvidos no episódio que cometeram abusos de direitos humanos - o que não ocorreu.
Heleno comparou o episódio brasileiro à luta entre o governo colombiano e guerrilheiros das então Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que perdurou entre 1964 e 2016. As Farc eram uma guerrilha marxista que atuava na produção de cocaína.
Alba Zaluar interrompeu o general e disse que o acordo de paz firmado entre as Farc e o governo colombiano em 2016 mostrou que há uma saída pacífica para o conflito armado.
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