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Mulher denunciou "Dr. Bumbum" após quase perder a perna: "alertei que ele poderia matar"

19.jul.2018 - Denis Furtado falou à imprensa após ser preso pela morte de Lilian Calixto - FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO
19.jul.2018 - Denis Furtado falou à imprensa após ser preso pela morte de Lilian Calixto Imagem: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio

20/07/2018 18h39

Quando procurou o médico Denis Cesar Barros Furtado, a assistente social Magda Maria Cardoso da Silva, 54, não imaginou que um procedimento de preenchimento das pernas provocaria graves consequências à sua saúde e ainda levaria a uma batalha na Justiça do Distrito Federal que se arrasta até hoje.

Ela relatou ao UOL, nesta sexta-feira (20), que após a intervenção estética sua perna gangrenou e que o médico, também conhecido como “Doutor Bumbum”, a persuadiu a não procurar atendimento hospitalar: “se não tivesse procurado, eu seria a primeira vítima dele”, afirmou.

O médico foi preso ontem com a sua mãe, Maria de Fátima Barros Furtado, 66. Ambos foram indiciados por homicídio doloso qualificado (com intenção de matar) e associação criminosa pela morte da bancária Lilian Calixto, 46, na madrugada do último domingo (15), após se submeter a um procedimento estético com Denis no Rio. Se condenados, as penas de ambos podem chegar a até 36 anos de prisão.

A assistente social de Brasília contou que se submeteu a uma bioplastia com Denis em 2013, na casa do médico no Lago Sul (bairro nobre da capital federal), a fim de corrigir a espessura da perna esquerda que, de acordo com ela, era mais fina e assimétrica. “Pesquisei na internet, ele era famoso, pesquisei e não tinha nada sobre ele”, declarou.

Após a segunda sessão de aplicações --o procedimento todo lhe custou R$ 20 mil--, os problemas começaram.

“Eu senti muita dor durante a aplicação. Eu tomei antibiótico e, enquanto estava na medicação, não tive problema. Quando parei, minha perna inchou, ficou vermelha. Começou a se formar um hematoma com pus”, conta ela.

Eu disse a ele que iria ao hospital consultar uma infectologista, mas ele falava que não, que não procurasse um médico porque não iam saber me tratar e que iriam falar mal dele, que só ele sabia me tratar. Minha perna estava gangrenando.

Magda Maria Cardoso da Silva, assistente social

Magda Silva foi à Justiça e ao CRM-DF contra o "Dr. Bumbum" - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Magda Silva foi à Justiça e ao CRM-DF contra o "Dr. Bumbum"
Imagem: Arquivo Pessoal
“Quando eu dizia ‘doutor, não estou aguentando mais’, ele dizia: ‘Em cinco minutos na sua casa’. Ele vinha e me tratava em casa”, conta ela.

A dor extrema a levou ao Hospital Militar de Área de Brasilia. “Fui internada com urgência. Na primeira internação, fiquei 11 dias sob forte medicação. Na segunda vez, fui encaminhada para uma cirurgia de emergência. Minha perna foi aberta e lavada com 11 litros de soro. Fiquei internada quase 1 mês”, relatou, acrescentando que tem sequelas e segue tratamento médico até hoje.

“Se não tivesse procurado o hospital, eu seria a primeira vítima dele”, Minha perna ficou pior do que antes do procedimento”, lamenta.

Na tarde desta sexta-feira, o advogado de Denis, Marcus César Feres Braga, relatou um cenário diferente em relação ao procedimento feito em Lilian, que morreu no hospital. Ele disse que o médico teria insistido para sua paciente ir a um hospital após apresentar quadro de pressão baixa.

“O meu cliente disse que a paciente saiu andando do local onde foi feito o procedimento e ele, por uma medida de cautela, por uma hipotensão, determinou que ela se apresentasse ao hospital. Ela não quis, ele insistiu e eles foram. Chegou, adotou o procedimento, entrou viva”, disse Braga.

Imagens de câmeras de segurança mostraram porém a vítima entrando no hospital em uma cadeira de rodas. O advogado afirmou que isso aconteceu devido a suposto procedimento padrão do hospital. Uma fonte ligada ao hospital afirmou que as cadeiras de rodas são adotadas em algumas situações para evitar que determinados pacientes sofram quedas.

"O hospital reafirma que prestou adequado atendimento à paciente e, devido ao caso, acionou as autoridades competentes que se encontram apurando o ocorrido", afirmou a instituição em nota.

Ex-paciente foi à Justiça e ao CRM-DF

Magda, a paciente que quase perdeu a perna, conta que procurou o CRM-DF (Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal) para denunciar Denis, além de ingressar com um processo na Justiça contra o médico, cuja licença foi cassada ontem pelo órgão regional.

"Desde 2014 processo ele --tanto na Justiça quanto no CRM-DF. No CRM, ele contestou minha queixa falando que eu estava mentindo, que eu tinha sofrido acidente doméstico e que eu passei um pano sujo na ferida, e que, por isso, a infecção tinha sido causada. Mas é mentira e tenho provas”, afirmou.

“Alertei o CRM. Falei, usando exatamente essas palavras, que ele poderia matar alguém. Relatei isso em uma carta que eu tenho”, declarou. “E, infelizmente, aconteceu”, lamentou a assistente social, referindo-se à morte de Lilian, pela qual Denis e sua mãe foram indiciados.

Procurada pela reportagem, a porta-voz do CRM-DF disse apenas que os processos de denúncia médica correm sob sigilo. O conselho também não informou o motivo pelo qual a licença de Denis foi cassada ontem --apenas disse que a suspensão do registro se refere a uma denúncia feita em 2016. O CRM-DF também não informou quantos processos existem contra Denis.

Embora o processo contra Denis corra desde 2014, ele só foi localizado pela Justiça em 2016. Segundo Rafael Paranaguá, advogado de Magda, Denis mantinha com mãe uma clínica sem CNPJ registrado, chamada “Clínica Viver Melhor Saúde”. “Era uma empresa de boca a boca que não conseguia ser citada pelos oficiais de Justiça porque não tinha registro”, declarou. O processo judicial ainda aguarda decisão.

A mãe de Denis também ficou na memória da assistente social. “Ela chegou a me ameaçar, me coagiu. Eu disse que ia à imprensa contar o caso, e a mãe dele disse: ‘tenho o melhor advogado de Brasília. Vou tomar tudo o que é seu, até seu apartamentinho’. O Denis fez pouco caso e desdenhou. Tem lábia”, finalizou.

O UOL procurou Naiara Claudia Baldanza Almeida, advogada que defende Denis no processo, sobre o relato de Magda. Ela informou que a defesa está reunindo provas para se pronunciar sobre o caso em momento oportuno.

"Dr. Bumbum" nega uso de silicone industrial

Ontem, após ser preso, Furtado negou acusações de que faria procedimentos utilizando silicone industrial. Na última quarta (18), a estudante Thais Bueno afirmou ao UOL que o médico aplicou silicone industrial misturado a PMMA (polimetilmetacrilato) em seu glúteo e que terá de refazer o procedimento após a substância usada ter ficado acumulada em alguns pontos.

O médico disse que vai “requerer que façam perícia do glúteo” e que irá processar quem quer “apenas aparecer nos holofotes” e, segundo ele, está mentindo para prejudicá-lo.

“À senhora Thais que foi falar essas falácias e mentiras, silicone industrial não é de médico. Eu compro, com a Biossimetric, PMMA 30%. Eu compro cerca de 25 litros ao mês e não teria por que eu arriscar a minha carreira com isso”, disse.

Estudante diz que 'Dr. Bumbum' usou mistura de silicone industrial em seu glúteo

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