Polícia investiga assassinato de travesti no centro de SP; testemunha cita motivação política
A Polícia Civil de São Paulo investiga o assassinato de uma travesti no Largo do Arouche, na região central da capital paulista, na madrugada desta terça-feira (16). Segundo uma testemunha que será ouvida pela investigação nesta quarta-feira (17), os agressores – pelo menos quatro homens – teriam gritado o nome do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, durante a briga.
De acordo com a Polícia Militar, a vítima foi esfaqueada por volta das 5h e levada à Santa Casa, mas não resistiu ao ferimento que gerou uma grande hemorragia e morreu a caminho do hospital. Até o final desta tarde, ela ainda não havia sido reconhecida.
A vizinha ao local onde a travesti foi agredida falou ao UOL em condição de anonimato e afirmou que dormia em seu apartamento quando ouviu gritos advindos de um bar nas imediações. “Botei a cara na janela e vi a briga logo à frente. Foi uma gritaria demorada, com muitos xingamentos, e os agressores, não sei se um ou mais, gritava algo sobre o fato de a pessoa ser travesti e sobre ‘Bolsonaro’”, disse.
“Logo depois ouvi os gritos de socorro: ‘Me ajuda, meu sangue, meu sangue...’, e quando olhei novamente, ela atravessou alguns metros e não a vi mais. Desci e vi muitas poças de sangue em frente a um hotel – onde eu soube que ela pediu socorro”, completou.
"Medo machuca muito", relata trans
A moradora, que é transexual, vive no local há pouco mais de seis meses e afirmou que achou a situação “muito chocante”. “É muito estranho acontecer algo nessas circunstâncias, especialmente, porque é de conhecimento público que a região concentra muitos travestis. Esse medo me machuca muito”, desabafou.
Também sob anonimato, um dos seguranças do hotel que estava de plantão nesta noite relatou ter visto a travesti tentar abrir a porta do estabelecimento, bastante ferida, em busca de ajuda. “A travesti encostou a mão na porta do hotel e logo caiu, então, chamei a polícia. Pelo que entendi, tinha sido esfaqueada várias vezes. Mas não consegui ver quem fez aquilo com ela”, disse.
Polícia toma depoimentos
O delegado que investiga o caso no 3º Distrito Policial, Roberto Krasovic, afirmou já ter tomado o depoimento do funcionário de um estabelecimento comercial próximo ao local do crime. Além dele, também serão ouvidos os dois policiais militares que atenderam a ocorrência.
Segundo o delegado, o depoimento de hoje não trouxe elementos de motivação política por parte dos agressores. “Ele disse que estava no primeiro dia de trabalho e que não conseguiu ouvir nada; só viu as manchas de sangue em seguida”, relatou Krasovic.
“Mas se há uma pessoa que ouviu gritos com essa conotação, isso é uma informação de suma importância para as investigações”, declarou o delegado, que afirmou que a ouviria. Nesta terça, Krasovic explicou que uma equipe de investigação percorreria a área em busca de imagens de câmeras de segurança que trouxessem elementos para análise e também mais testemunhas.
“Toda e qualquer testemunha é importante de ser ouvida agora. Foi feita também perícia no local”, concluiu o delegado.
Agressão a transexual no Rio
Na véspera do primeiro turno, no sábado (6), a transexual Jullyana Barbosa foi agredida em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, com gritos de homofobia e apologia ao candidato à Presidência do PSL, Jair Bolsonaro. Em depoimento ao UOL, ela afirmou que o nome do presidenciável está sendo usado para justificar agressões ao público LGBT, sejam apoiadores do candidato ou não. Foi registrada denúncia na polícia. O caso integra uma lista com dezenas de agressões com apologias ao candidato, nos últimos dias, em atos pelo pais todo.
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