CE transfere líderes de atentados para presídio federal; ataques diminuem
O governo do Ceará iniciou, neste domingo (6), a transferência de presos que seriam os mandantes da onda de ataques que assola o estado há quatro dias. Ao todo, o governo federal teria disponibilizado 60 vagas em presídios federais para os líderes das ações. Segundo o governo estadual, um dos chefes de facção já foi transferido, e outros 20 presos devem ser levados nas próximas horas.
Para Cláudio Justa, presidente do Conselho Penitenciário do Ceará, a transferência tem um aspecto positivo, mas ele vê a medida com uma ressalva.
"Se a identificação das lideranças for eficaz, ou seja, se realmente se tratar de líderes relevantes nas facções, é uma medida importante para o enfrentamento. Porém, observamos que muitos dos que são tidos como líderes das facções nos presídios estão no âmbito do gerenciamento do varejo, não são os líderes maiores. O âmbito de gerenciamento é altamente substituível. As facções criminosas têm muita rotatividade dos líderes da ponta", afirma.
Os ataques tiveram uma parada no fim da tarde deste domingo. Mais de 100 policiais estão atuando em 20 barreiras montadas em Fortaleza nos locais que mais sofreram com a onda de atentados desde a quinta-feira (3). Até o momento, pelo menos 110 atentados foram registrados. O estado conta com reforço de 300 homens da Força Nacional e 100 da PM da Bahia.
"Observamos uma significativa redução dos ataques, notadamente na região metropolitana da capital. Houve uma redução do número de ataques a partir dessa tarde com a chegada desse efetivo. O aumento do contingente de policiamento ostensivo tem um papel importante nessa redução", diz Cláudio Justa.
Segundo a SSPDS (Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social), as blitze com as barreiras estão montadas em bairros e avenidas estratégicas da capital.
Por conta da maior tranquilidade, o Sindônibus (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado) informou que os ônibus de Fortaleza, após adotarem frota reduzida desde a sexta-feira à noite, voltam à circulação normal nesta segunda-feira (7). Policiais vão acompanhar os itinerários considerados de maior risco.
O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e o metrô também devem voltar à normalidade nesta segunda. Comércio, escolas e faculdades devem abrir as portas.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirma que, até a tarde deste domingo, 110 pessoas já foram presos ou apreendidos por suposto envolvimento nos ataques, sendo 76 maiores e 34 adolescentes.
As ações também se concentram nos presídios, de onde partem as ordens dos ataques. Segundo nota da Secretaria da Administração Penitenciária divulgada na tarde deste domingo, 407 aparelhos de celular foram apreendidos em penitenciárias do estado desde a semana passada.
Nesta madrugada, dois suspeitos foram mortos pela polícia. Na quinta-feira, um outro homem foi morto durante ação policial. Todos teriam reagido e trocaram tiros com os policiais, segundo a versão do governo do estado.
Onda de ataques
A crise começou na noite de quarta-feira (2), com ações conjuntas das três principais facções criminosas que atuam no estado: PCC (Primeiro Comando da Capital), CV (Comando Vermelho) e GDE (Guardiões do Estado). Os grupos deram uma trégua na guerra entre eles para realizar ações em retaliação ao endurecimento de medidas dentro das unidades prisionais, entre elas a apreensão de celulares e promessa de não mais separar presos por facções nos presídios.
Na quinta-feira (3), presos se rebelaram na CPPL (Casa de Privação Provisória de Liberdade) 3, em Itaitinga, onde estão detidos membros do PCC. Em torno de 250 presos foram ou serão indiciados por desobediência, resistência e motim.
Neste domingo, os ataques seguiram durante a madrugada e a manhã. Entre eles, dois chamaram mais a atenção: criminosos tentaram dinamitar uma ponte que fica sobre o rio Jaguaribe, no município de Tabuleiro do Norte, e atacaram uma torre de telefonia, em Limoeiro do Norte, deixando 12 cidades sem comunicação móvel.
Havia também a intenção de mais ataques a pontes e viadutos, conforme bilhetes trocados entre bandidos e encontrados pela polícia.
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