Polícia mata três suspeitos durante onda de ataques no Ceará
A polícia do Ceará matou três suspeitos entre a noite de quinta-feira (3) e a madrugada deste domingo (6), durante ações ostensivas contra o crime organizado. Grupos criminosos estão realizando uma série de ataques contra ônibus, prédios públicos, estabelecimentos comerciais e pontes em diversos pontos do estado.
Segundo a SSPDS (Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará), os três suspeitos foram mortos porque trocaram tiros com a polícia. Nenhum deles foi identificado. O primeiro foi morto na quinta-feira. Outros dois, na madrugada deste domingo.
Na quinta-feira, uma equipe policial foi checar uma denúncia de dano a um fotossensor, na rodovia CE-010, no município de Eusébio, região metropolitana de Fortaleza. Lá, trocou tiros com um homem não identificado, que morreu. Nenhum policial ficou ferido. As informações são do governo do estado.
Neste domingo, houve uma troca de tiros após dois suspeitos tentarem atear fogo em um posto de atendimento do Detran (Departamento Estadual de Trânsito). Os dois morreram e um policial foi lesionado na mão, mas não corre risco de morrer.
De acordo com a Secretaria da Segurança, foram apreendidos coletes balísticos, um revólver calibre 38, munições deflagradas, coquetéis molotovs, galões de combustíveis, e um veículo com a dupla.
Ainda na madrugada deste domingo, um suspeito foi preso em flagrante pela venda irregular de combustíveis a grupos criminosos. "Um caminhão-tanque foi apreendido e o homem foi encaminhado para a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco). De acordo com as apurações, o suspeito vendia cada galão de gasolina a R$ 70", informou a secretaria.
Número de ataques passa de 100
Criminosos atacaram um prédio do governo federal, uma estação de distribuição de energia elétrica e novamente tentaram destruir uma ponte, entre de outros alvos no Ceará, neste domingo (6). O número de ataques contabilizados no estado já passou de 100, segundo disseram ao UOL policiais ligados à investigação da onda de violência.
A crise começou na noite de quarta-feira (2). Ela foi desencadeada por ações conjuntas das três principais facções criminosas que atuam no estado, segundo a principal linha de investigação. Seus membros estariam descontentes com a disposição do novo governo estadual em fazer mudanças no sistema prisional. Um contingente de 300 agentes da Força Nacional foi enviado ao Ceará e começou a reforçar a segurança no sábado (5).
O número de ataques revelado pelos policiais não é confirmado oficialmente pela Secretaria da Segurança Pública. A pasta afirmou, porém, que ao menos 110 suspeitos de participar dos ataques foram presos. Desse total, 76 são adultos e 34 adolescentes.
Neste domingo, criminosos tentaram dinamitar uma ponte que fica sobre o rio Jaguaribe, no município de Tabuleiro do Norte. A construção sofreu avarias, mas não desabou. O governo não divulgou se ela foi interditada.
Ataques a pontes e viadutos eram prometidos por criminosos, segundo bilhetes trocados entre eles e sob posse e análise da polícia. Os criminosos disseram que poderiam atacar até 20 pontes. O ataque do domingo foi o segundo contra uma ponte desde o início da onda de violência. O primeiro ocorreu no dia 3, contra uma ponte na rodovia BR-020, que foi interditado.
De acordo com a Polícia Civil, outros alvos atacados neste domingo (6) foram a sede do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, uma subestação da Enel (uma central elétrica), uma agência bancária e o estacionamento da prefeitura do município de Jericoacoara.
Em vídeo publicado nas redes sociais na tarde de sábado (5), o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), afirmou que a onda de ataques tem como objetivo fazer com que o governo recue de medidas "duras e necessárias" que tem adotado. "O que não há nenhuma possibilidade de acontecer. Pelo contrário: endureceremos cada vez mais contra o crime", afirmou.
Ataques e possível motivação
Segundo investigações em andamento, os ataques estariam sendo realizados por criminosos organizados. As três facções que atuam no Ceará --PCC (Primeiro Comando da Capital), CV (Comando Vermelho) e GDE (Guardiões do Estado)-- teriam se unido com o objetivo de retaliar declarações do secretário da Administração Penitenciária estadual recém-empossado, Luis Mauro Albuquerque. A reportagem solicitou entrevista com o secretário, mas ele não retornou o pedido até esta publicação.
O secretário afirmou durante sua posse não reconhecer o poder das facções no estado e disse que o Ceará passaria a deixar de dividir presos de facções rivais em unidades prisionais diferentes. A divisão é feita em diversos estados para evitar confrontos e mortes dentro de estabelecimentos prisionais, mas as facções acabam dominando as unidades onde são maioria.
Desde quinta-feira (3), 113 homens presos em uma penitenciária do estado onde predominam membros do PCC foram indiciados por desobediência, resistência e motim, sob a suspeita de terem ligação direta com os ataques ocorridos em Fortaleza e região metropolitana. Segundo autoridades locais, mais de 250 detentos devem ser autuados por envolvimento nos ataques recentes até os próximos dias.
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