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Juíza que criticou Marielle reproduz ameaça a Boulos, que vai processá-la

Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), publicou post em seu Facebook onde ameaça Guilherme Boulos: "Vai ser recebido na bala" - Reprodução
Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), publicou post em seu Facebook onde ameaça Guilherme Boulos: "Vai ser recebido na bala" Imagem: Reprodução

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

17/01/2019 18h40

A desembargadora Marília Castro Neves, 61, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), compartilhou em suas redes sociais na última quarta-feira (16) um post com ameaça ao ex-candidato à Presidência e coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos. Ao UOL, ele disse que irá à Justiça contra Neves.

"A tristeza no olhar de quem vai ser recebido na bala depois do decreto do Bolsonaro", diz a publicação, com foto de Boulos. O post fazia referência também à flexibilização à posse de arma assinada no início da semana.

"Vamos acioná-la judicialmente. Nossos advogados ainda não definiram qual ação, mas será feita nos próximos dias. Esperamos que o Judiciário coloque limites nesta conduta inconsequente e incompatível com uma magistrada", afirmou Boulos. 

No ano passado, Neves afirmou que não lamentava a morte da vereadora Marielle Franco, assassinada em março. "Não era apenas uma lutadora; ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu os compromissos (...) qualquer coisa diversa é mimimi da esquerda", chegou a dizer a desembargadora.

Não há nenhum indício de que Marielle estivesse envolvida com grupos criminosos.

Em nota, o Conselho Nacional de Justiça afirmou que vai abrir um "Pedido de Providências" para apurar o comportamento da desembargadora por "suposta prática de conduta vedada aos magistrados, em decorrência de postagens feitas por ela em redes sociais." Segundo o CNJ, tramitam no órgão cinco procedimentos disciplinares contra a desembargadora. 

"Com a abertura do procedimento, foi dado o prazo de 15 dias para que a desembargadora se manifeste sobre as publicações. Após a resposta da magistrada, a Corregedoria do CNJ decidirá sobre a necessidade ou não de abrir processo administrativo para investigar a conduta.", diz o CNJ. 

Histórico

Com a repercussão do post contra Boulos, compartilhado de uma página denominada "Eu apoio Bolsonaro", Neves apagou a publicação, mas fez outras críticas a Boulos.

Em 2018, a desembargadora foi alvo de duas representações no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelas declarações contra Marielle. A investigação ainda está em andamento.

Neves também já utilizou suas redes para ironizar uma professora com síndrome de Down e atacar ações que tratam de assédio sexual. "Assédio sexual é o que??? Paquera no trabalho???? Francamente!!!! Será que não temos nada mais importante pelo que lutarmos???? Uma pia de louça para lavarmos????", escreveu Neves em seu Facebook em 2015. 

Nesta quinta-feira, a desembargadora compartilhou mais publicações favoráveis ao uso de armas de fogo e contrárias à atuação do MTST.

Uma delas é uma reportagem da TV Record que mostra uma mulher armada reagindo a um assalto nos Estados Unidos. "É esse o risco que o Boulos e o Stédile - e quem mais pretender invadir propriedades - correrão daqui por diante", escreveu a desembargadora. 

Mais cedo, Neves agradeceu ao "apoio" após a publicação contra Boulos. "Meus queridos amigos, Muito obrigada pelo apoio!!! É muito importante que lutemos contra esse tipo de censura - esse, sim, um discurso de ódio. Não tanto por mim, mas pela garantia do sagrado direito de expressão!!!  Se me calarem hoje, amanhã todos estaremos calados!!!  É ASSIM QUE COMEÇA A DITADURA!!!.

Procurada pelo UOL, a assessoria da desembargadora disse que ela não quer se manifestar sobre o assunto.