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Minas Gerais tem um rompimento de barragem a cada 2 anos, diz estudo

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

28/01/2019 17h26Atualizada em 28/01/2019 17h39

O rompimento da barragem de minérios em Brumadinho (MG) é o primeiro de grandes proporções desde o desastre que deixou 19 mortes em Mariana, também em Minas, há três anos. O desastre ocorrido na sexta-feira (25), no entanto, é o sétimo a atingir Minas Gerais em apenas 13 anos, uma média superior a um rompimento de barragem a cada dois anos (1,85 ano).

O levantamento é parte do livro "A questão mineral no Brasil - Antes fosse mais leve a carga", publicado em outubro de 2016, 11 meses depois do rompimento da barragem de Fundão, no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana.

Até a publicação do livro, seis rompimentos haviam ocorrido entre 2006 e 2015. Com Brumadinho, esse número é de ao menos sete. "A tabela precisa ser atualizada agora com Brumadinho", afirmou ao UOL um dos autores do livro, o doutor em política ambiental da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), Bruno Milanez, elevando para sete o número de ocorrências.

Foi uma pesquisa baseada em documentos do Ibama e em notícias sobre o assunto em Minas Gerais. Esses dados nunca foram contestados nem apontados outros rompimentos até Brumadinho."

Bruno Milanez, doutor em política ambiental da UFJF  

Os rompimentos foram:

2006: Mineradora Rio Pomba Cataguases, na cidade de Miraí

Consequência: Vazamento de 1,2 milhão de m³ de rejeitos contaminando córregos, matando peixes e interrompendo o fornecimento de água.

2007: Mineradora Rio Pomba Cataguases, na cidade de Miarí

Consequência: Vazamento de 2,2 milhões de m³ de material que inundou as cidade de Miraí e Muriaé, desalojando mais de 4 mil pessoas

2008: Companhia Siderúrgica Nacional, na cidade Congonhas

Consequência: Rompimento da estrutura que ligava o vertedouro (escoamento) à represa da Mina Casa de Pedra, causando aumento do volume do Rio Maranhão e desalojando 40 famílias.

2008: Empresa não informada pelo Ibama, na cidade de Itabira

Consequência: Vazamento de rejeito químico de mineração de ouro.

2014: Herculano Mineração, na cidade de Itabirito

Consequência: Vazamento causou a morte de três pessoas e feriu uma.

2015: Samarco Mineração, na cidade de Mariana

Consequência: Rompimento causou o derramamento de 54 milhões de m³ de rejeitos, causando 19 mortes, desalojando 600 famílias, interrompendo o abastecimento de água e afetando a fauna e a flora fluvial e marinha.

2019: Vale, na cidade de Brumadinho

Consequência: Até o fechamento da reportagem, o vazamento de 12,7 milhões m³ de rejeitos deixou 60 mortos e 292 desaparecidos.

Em 1986, o rompimento de uma barragem do Grupo Itaminas, no município de Itabirito, causou a morte de sete pessoas. Em 2001, vazamentos da estrutura de rejeitos da Mineração Rio Verde, em Nova Lima, matou cinco pessoas e assoreou 6,4 km do córrego Taquaras.

"Em metade dos casos de rompimento houve vítimas fatais e, em pelo menos três ocasiões, famílias foram desalojadas", diz o estudo. "Com exceção dos dois casos de Mineradora Rio Pomba Cataguases, ocorridos em Miaraí, os outros eventos se deram no quadrilátero ferrífero, onde há maior concentração de barragens de mineração."

Média deve se manter

Para Milanez, a falta de uma análise de risco durante o licenciamento das barragens em Minas deve manter a frequência dos acidentes nos próximos anos porque "a flexibilização nas leis não traz esse componente."

Além da falta de estrutura para os órgãos de fiscalização, sem equipamentos e pessoal suficiente, o especialista critica o fato de a auditoria das barragens ficar a cargo das próprias companhias mineradoras.

Por conta da falta de pessoal, os órgãos técnicos não têm condição de avaliar todos os projetos, e confiam nas auditorias feitas pelas empresas contratadas pelas próprias mineradoras

Bruno Milanez, doutor em política ambiental da UFJF  

SOBE PARA 60 O NÚMERO DE MORTOS EM BRUMADINHO

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