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'Falavam da camisa do Lula', diz petista que acusa PM de quebrar seu braço

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

08/03/2019 15h12Atualizada em 08/03/2019 18h50

Com o braço esquerdo quebrado, o advogado e dirigente do PT (Partido dos Trabalhadores) Geovani Leonardo Doratiotto da Silva, afirmou que foi vítima de agressão por parte de policiais no último domingo de Carnaval por estar com "uma camiseta do Lula":

Tenho certeza que foi pelo meu posicionamento político naquele momento. Porque a todo tempo faziam menção, tanto os policiais quanto o primeiro grupo agressor, à minha camiseta do Lula

Doratiotto vestia uma camiseta com os dizeres "Lula Livre" no momento em que ocorreu a confusão, em Atibaia, interior de São Paulo.

Após prestar depoimento à ouvidoria das polícias em São Paulo, Doratiotto afirmou que "a todo momento se faziam deboches". 

O ouvidor das polícias de São Paulo, Benedito Mariano, disse que o petista relatou que os policiais "usaram palavras relacionadas ao posicionamento político dele [de Doratiotto], o que não é função de um PM em atividade".

Pelo menos quatro policiais militares foram afastados do serviço de patrulhamento das ruas por envolvimento na abordagem.

Geovani teve seu braço quebrado por um policial militar dentro da delegacia - Reprodução - Reprodução
Geovani teve seu braço quebrado por um policial militar dentro da delegacia
Imagem: Reprodução

Segundo Doratiotto, ele participava de uma campanha contra o assédio no Carnaval quando começou a ser provocado por um rapaz, que estaria acompanhado de um grupo de pessoas. Ele afirma ter se afastado do local, junto da sua mulher, mas afirma que, em seguida, o rapaz o agrediu. 

"Ele me acertou um soco e virou uma confusão generalizada", afirma.

Na sequência, ele conta, a Guarda Civil o orientou a procurar uma unidade de saúde. O advogado foi à Santa Casa da cidade, onde diz ter sido agredido por um grupo.

"Os policiais me prenderam no local, dentro da Santa Casa. Usaram duas algemas, sem eu ser atendido na UPS, me colocaram na viatura e me levaram para a delegacia, que é quando acontece tudo aquilo do vídeo".

No vídeo, é possível ouvir um dos policiais militares dizer que o algemaria de novo.

"E o que você vai fazer depois de me algemar?", responde o petista.

O bate-boca prossegue até que outros dois policiais militares e um homem em trajes civis agarram Doratiotto pelas costas e o levam para uma sala da delegacia. O braço esquerdo foi puxado por um dos PMs. É possível ouvir uma das pessoas presentes dizer: "quebrou o braço".

Além do braço quebrado, hoje é possível ver hematomas no rosto e arranhões pelo corpo de Doratiotto - lesões que ele diz serem resultado da primeira agressão, ainda na rua.

Não foi feito exame de corpo de delito

Segundo o ouvidor Benedito Mariano, é obrigação da Polícia Civil solicitar um exame de corpo de delito quando há agressão contra um cidadão dentro da delegacia -o que não aconteceu no caso do advogado. 

"Vou encaminhar um ofício ao corregedor geral da polícia civil, encaminhando cópia também pra Polícia Civil do depoimento do Geovani, enfatizando no ofício a falha de não ter sido encaminhado o Geovani com requisição pra fazer exame de corpo de delito à medida que teve o braço quebrado dentro de uma unidade da Polícia Civil", afirmou o ouvidor.

O ouvidor afirma que os policiais podem ser responsabilizados por omissão, negligência ou prevaricação. A punição, segundo ele, pode chegar até à suspensão dos oficiais.

Temendo represálias devido à repercussão do caso, diz o ouvidor, o dirigente petista e sua mulher devem passar os próximos dias fora de Atibaia. O exame de corpo de delito do advogado será feito na segunda-feira (11), mas o local não foi informado por medidas de segurança. "Por ser uma lesão grave, ela poderá ser atestada mesmo na segunda, dias após o caso", diz Mariano.