RJ abre CPI para investigar hospital onde 16 bebês morreram em 3 meses
Na 40ª semana de gravidez, Lizandra Rodrigues foi cinco vezes ao Hospital da Mulher, em Cabo Frio (RJ), para dar à luz. Os médicos pediam que ela esperasse. Não deu tempo: o filho Israel nasceu morto e integrou uma estatística que levou à abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para averiguar 16 mortes de bebês e nascituros (fetos prestes a nascer).
"O quarto já estava pronto, roupinhas lavadinhas, berço arrumado", disse a mãe ao UOL.
Lizandra acredita que a demora para a realização do parto foi um dos motivos para a morte do bebê no hospital municipal.
"Comecei a perceber que meu filho não mexia mais. Fiquei muito preocupada, logo procurei os médicos. Me pediram para que eu deitasse, tentaram escutar o coraçãozinho do meu filho, mas ele já estava sem vida", afirma, emocionada.
"Minha filha mais nova, de 5 anos, pergunta todos os dias pelo irmão, que nunca viu", diz.
Segundo a investigação em curso na CPI aberta pela Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o hospital registrou 10 mortes de bebês em janeiro, 1 em fevereiro e 5 em março, em um universo de 150 a 200 partos por mês.
A Comissão também investiga denúncias de falta de médicos e de materiais básicos para o funcionamento do hospital.
Diretores falam em problemas anteriores
Ontem, os diretores da unidade, Paul Hebert Dreyer e Lívea Natividade, que são casados, foram ouvidos pela CPI, na capital fluminense.
Paul afirmou que as mortes estão relacionadas a doenças prévias das mães, como hipertensão, consumo de drogas ilícitas e sífilis.
Ainda em depoimento, o diretor também disse que a ausência ou a má realização do acompanhamento de pré-natal foi um fator decisivo.
"Eram fetos que já estavam em um sofrimento crônico que não havia sido diagnosticado. As mulheres chegavam no hospital e não podíamos operá-las imediatamente. Segundo o protocolo, era preciso estabilizá-las primeiro e, muitas vezes nesse intermédio, os filhos faleceram porque eles já estavam em sofrimento fetal", justificou.
A presidente da CPI, a deputada Renata Souza (PSOL), questionou.
"Culpabilizar a vítima por perder o seu filho é um equívoco. Nós tivemos acesso a diversos exames pré-natal dessas mulheres e todas tinham a indicação de que seus filhos nasceriam saudáveis", declarou a parlamentar, que fez vistorias no Hospital da Mulher na última semana.
A CPI da Alerj ouvirá, na próxima terça-feira, o secretário municipal de Saúde de Cabo Frio, Márcio Mureb. Os deputados da Comissão também pretendem questionar o prefeito, Adriano Moreno (Rede).
A Câmara de Vereadores de Cabo Frio também entrou no caso e quer explicações. Sete vereadores fazem parte de uma CPI que investiga casos suspeitos de negligência médica, além da morte dos recém-nascidos.
Em nota, a Prefeitura de Cabo Frio informou que "tem todo o interesse que os casos sejam elucidados o quanto antes" e que "tem se colocado à disposição das autoridades que estão à frente das CPIs instauradas".
Afastamento
Após terem prestado depoimentos na Alerj, os diretores pediram afastamento do cargo.
O secretário de Saúde do município disse ao UOL que apresentará na próxima semana novos nomes que irão compor a direção da unidade hospitalar.
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