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Movimentação de parede de mina de Barão de Cocais quadruplicou desde abril

Luciana Quierati

Do UOL, em Barão de Cocais (MG)

28/05/2019 04h00

A parede da mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), tem escorregado entre 7,5 e 8,9 mm por hora, segundo a medição divulgada pela ANM (Agência Nacional de Mineração) às 17h de ontem. São 7,5 mm a cada hora na porção inferior do chamado talude e 8,9 mm em alguns pontos isolados.

Para dar uma ideia do quanto isso significa, em abril, segundo a Vale, o talude estava se deslocando a 5 cm por dia (ou 2 mm por hora). Ou seja, a movimentação registrada hoje está 4,3 vezes maior, conforme explica o geólogo Ivan José Delatim, da SigaGeo Serviços de Investigações Geotécnicas e Ambientais. A mineradora informou às autoridades em 13 de maio que o talude poderia desmoronar.

A projeção da Vale era de que o talude comprometido pudesse ruir até sábado (25), o que não aconteceu. Questionada pelo UOL sobre uma possível nova previsão de queda, a mineradora respondeu as projeções estão sendo revistas diariamente --e que, por isso, um novo prazo não será dado.

Até abril, segundo a Vale, o talude vinha se movimentando apenas 10 cm por ano.

A medição do deslocamento é feita por um radar instalado na cava da mina pela Vale, que encaminha relatórios de hora em hora para a ANM. As diferenças entre as medições às vezes são mínimas, sendo divulgados apenas os resultados mais significativos. De qualquer forma, a movimentação tem aumentado a cada dia.

Às 18h de domingo, por exemplo, a movimentação no talude era de 8,3 mm por hora (20 cm por dia) em pontos isolados e de 6,5 mm por hora (15,8 cm por dia) na parte inferior do talude.

Segundo Carlos Eduardo Cardoso, outro geólogo consultado pelo UOL para entender como o cálculo da movimentação ocorre, o que Vale e ANM têm divulgado é a velocidade média de deslocamento, que leva em conta uma série de fatores.

"A variação que tem sido observada decorre dos diversos fatores que influenciam no deslocamento a cada milímetro do terreno, como ângulo da descida, composição do material, presença ou não de água, para citar alguns. Quanto mais o material desliza morro abaixo, mais rápida a velocidade", diz o geólogo, que classifica o deslocamento como grande. "Para quem deveria ficar 'quietinho', sem movimento nenhum, poucos milímetros são muita coisa", afirma.

Risco com a barragem

Os resultados das medições do talude têm sido acompanhados por geotécnicos que se dividem entre a sala de controle em Gongo Soco, o Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG) da Vale na mina de Águas Claras, em Nova Lima (MG), e uma instalação da mineradora no exterior.

As equipes também se utilizam de sismógrafos para verificar um possível impacto na barragem de rejeitos Sul Superior, que fica 1,5 km logo abaixo. A Vale afirma que não há elementos que indiquem que o escorregamento do talude pode ser um gatilho para o rompimento da barragem.

Cardoso explica que, se a parede da mina escorregar toda de uma vez e em baixa velocidade, "as ondas de choque provocadas quando o material entrar no corpo de água [a cava da mina está alagada] serão de baixa amplitude, sem força para derrubar a barragem". O problema ocorrerá, segundo ele, se uma parte mais alta cair primeiro, gerando, portanto, maior impacto.

Na cidade mineira de 32 mil habitantes, 6.054 continuam em compasso de espera e preparados para deixar suas casas em caso de rompimento da barragem. Isso porque moram na rota da lama, na chamada ZSS (zona de segurança secundária), a pelo menos 18 km da barragem.

Os moradores da principal área de risco, a ZAS (zona de autossalvamento), que compreende cerca de 10 km e congrega quatro vilarejos, já foram retirados de suas propriedades em 8 de fevereiro, quando a barragem teve seu certificado de estabilidade negado por uma empresa contratada pela Vale. Em 22 de março, a barragem teve sua situação agravada e entrou para o nível mais alto de risco.

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