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SP prende líderes de movimentos de moradia por suspeita de aluguéis ilegais

À esquerda, o edifício Wilton Paes de Almeida em chamas, antes de desabar na madrugada de 1º de maio do ano passado - Willian Moreira/Futura Press/Estadão Conteúdo
À esquerda, o edifício Wilton Paes de Almeida em chamas, antes de desabar na madrugada de 1º de maio do ano passado Imagem: Willian Moreira/Futura Press/Estadão Conteúdo

Luciana Quierati

Do UOL, em São Paulo

24/06/2019 18h03Atualizada em 24/06/2019 19h23

A Polícia Civil de São Paulo prendeu temporariamente hoje quatro líderes de movimentos sociais de moradia por suposta cobrança indevida de aluguel em prédios ocupados no centro da cidade.

Outras cinco pessoas tiveram a prisão autorizada pela Justiça, mas não foram localizadas. Elas têm cinco dias para se entregar.

Suspeitos de extorsão e associação criminosa, os investigados tiveram a prisão decretada, segundo o delegado responsável pelo caso, André Vinícius Figueiredo, para não atrapalhar os trabalhos da polícia. Foram presos nesta manhã:

  • Janice Ferreira Silva, mais conhecida como Preta Ferreira. Ela é filha de Carmen Silva, líder do MSTC (Movimento Sem Teto do Centro) - que também teve pedido de prisão expedido, mas não foi encontrada
  • Sidney Ferreira Silva, irmão de Preta - também ligado ao MSTC
  • Angélica dos Santos Lima - do MMPT (Movimento de Moradia Para Todos).
  • Edinalva Silva Franco Pereira - também MMPT

O MSTC e o MMPT negam irregularidades.

Além de Carmen, tiveram a prisão decretada mas não foram localizados: Josiane Cristina Barranco, Andreia T. S. de Oliveira, Ananias da Silva Ferreira e Hamilton Coelho Rezende.

Prédio que desabou há um ano

As prisões ocorrem em decorrência do inquérito aberto para apurar incêndio e desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, que deixou sete mortos e dois desaparecidos na madrugada de 1º de maio de 2018 no Largo do Paissandu, centro de São Paulo.

Segundo o delegado, durante as investigações, a polícia recebeu uma denúncia anônima feita por carta, que depois teria sido confirmada por interceptação telefônica e pelo depoimento de 13 testemunhas. Moradores teriam informado que eram ameaçados e até agredidos se não pagassem entre R$ 200 e R$ 400 por uma vaga nos edifícios ocupados pelos movimentos sociais.

O delegado Figueiredo disse que foram pedidos à Justiça 17 mandados de prisão, sendo que 9 foram concedidos pelo juiz Marco Antônio Martins Vargas.

Segundo o UOL apurou, dos 9 que tiveram a prisão decretada, apenas Ananias da Silva Ferreira e Hamilton Coelho Rezende fariam parte do grupo que comandava a ocupação do prédio que desabou no ano passado.

Outro lado

Em nota, o MSTC disse que tanto Preta como os demais detidos não têm relação com o prédio que desabou, "que não tinha nenhum movimento organizado e reconhecido em sua gestão" e que chegaram a prestar depoimento durante o processo.

O movimento classificou a ação da polícia de arbitrária e de "nova tentativa de criminalização dos movimentos sociais de moradia através da perseguição judicial de seus líderes" e pede a imediata libertação de seus membros.

O advogado de Preta, Sidney e Carmen nega que seus clientes tenham praticado extorsão e diz que Camen, que respondeu em 2017 e 2018 por processo também pelo mesmo crime e foi inocentada por falta de provas no início deste ano.

"Não estamos defendendo aqueles que estejam extorquindo, mas pessoas de movimentos que trabalham de forma correta e nada têm a ver com o que acontecia no edifício Paes de Almeida", disse Ariel de Castro Alves.

Os advogados de defesa de Angélica e Edinalva ainda não foram definidos.

Apoio na delegacia

24.jun.2019 - A cantora Maria Gadú, que compareceu ao prédio do Deic para manifestar apoio às lideranças dos movimentos de moradia presos nesta manhã - Luciana Quierati/UOL - Luciana Quierati/UOL
A cantora Maria Gadú, que compareceu ao prédio do Deic para manifestar apoio às lideranças presas
Imagem: Luciana Quierati/UOL

Assim que souberam das prisões, integrantes do MSTC e outros movimentos de moradia seguiram para o prédio do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), para onde foram levadas as lideranças presas hoje, em manifestação de apoio.

Além deles, também compareceram os cantores Maria Gadú, Ana Cañas e Chico César, que acompanham o trabalho dos movimentos de moradia e costumam participar de eventos promovidos por eles. Os três, inclusive, participaram da entrevista coletiva concedida pelo delegado Figueiredo.