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AP: Após morte de líder, guerreiros Wajãpi ajudam polícia e caçam invasores

Imagem publicada no site do Iphan mostra índios Wajãpi. Até o século XIX, população total da etnia era estimada em cerca de 6.000 pessoas - Heitor Reali/Iphan
Imagem publicada no site do Iphan mostra índios Wajãpi. Até o século XIX, população total da etnia era estimada em cerca de 6.000 pessoas Imagem: Heitor Reali/Iphan

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

29/07/2019 17h30

Guerreiros das aldeias Wajãpi auxiliam as forças policiais e da Funai (Fundação Nacional do Índio) mobilizadas na investigação do assassinato do cacique Emyra Wajãpi, cujo corpo foi encontrado com marcas de esfaqueamento em uma aldeia no oeste do Amapá na segunda-feira passada (22).

Emyra foi morto durante um suposto ataque de garimpeiros --a tentativa de invasão foi denunciada pela comunidade às autoridades e está sendo apurada pela Polícia Federal. Segundo relatos de lideranças locais, os garimpeiros estavam instalados em acampamentos no interior da reserva indígena.

O caso repercutiu no cenário internacional e foi comentado pela relatora da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz. Em entrevista ao blogueiro do UOL Jamil Chade, ela criticou o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e as políticas setoriais do governo.

Na manhã de hoje, Bolsonaro voltou a afirmar que pretende legalizar o garimpo e liberá-lo em terras demarcadas. Disse ainda que não há "indício forte" de que o cacique Emyra tenha sido assassinado. A declaração causou insatisfação dos grupos que atuam na causa indígena.

Em nota divulgada hoje, o Apina (Conselho das Aldeias Wajãpi) informou que está ajudando a polícia e que, no domingo (28), levou a equipe de investigadores às imediações da aldeia Yvytotõ, onde foram encontrados "rastros dos invasores". O local, situado no município de Pedra Branca do Amapari (AP), é de mata fechada e considerado de difícil acesso.

De acordo com o Apina, "os policiais marcaram os pontos no GPS [sistema de geolocalização] e tiraram fotos". "Os guerreiros levaram a equipe da polícia até um local onde os invasores tinham se escondido no dia 26, mas lá também não tinha mais ninguém", diz trecho da nota.

Devido às características que dificultam as buscas na região, segundo explicou o Apina, os policiais decidiram analisar as imagens de satélite das terras das aldeias Wajãpi em busca de sinais de garimpos ativos. "Se as imagens mostrarem sinais, vão fazer sobrevoos para verificar."

Nós Wajãpi continuamos muito preocupados com os invasores que estão na região norte da nossa terra indígena. Nas aldeias desta região as famílias estão com muito medo de sair para as roças ou para caçar. Algumas comunidades saíram de suas aldeias para se juntar com famílias de outras aldeias para se sentirem mais seguras. Por isso nossos guerreiros de todas as regiões da TIW [Terra Indígena Wajãpi] estão se organizando para ajudar os guerreiros da região da aldeia Mariry, que continuam procurando os invasores, e pedimos apoio da Funai para isso
Nota do Apina

Além da Polícia Federal e da Funai, o MPF (Ministério Público Federal), as forças policiais do Amapá e o Exército estão empenhados nas investigações e monitoram o conflito entre os índios e os garimpeiros. Os resultados preliminares da perícia e do andamento da apuração devem ser anunciados ainda hoje.