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Apreensões com ambulantes na CPTM avançam quase 50% em um ano

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

05/08/2019 04h00

As portas do trem se fecham, a composição da linha 8-diamante da CPTM (Júlio Prestes - Itapevi - Amador Bueno) sai da estação e a batalha pelos ouvidos dos passageiros começa.

De um lado, um vendedor ambulante anuncia "cabo reforçado de carregador, cinco reais"; de outro, pelos alto-falantes do trem, a CPTM pede: "Não seja responsável pelo comércio ilegal. Não compre".

Além de reforçar os apelos aos passageiros --as mensagens são incessantes no sistema de som, nas telas dentro dos trens e nos cartazes nas estações--, a CPTM endureceu a repressão ao comércio ambulante.

As apreensões de mercadorias vendidas de forma irregular dentro dos trens avançaram 49,2% no primeiro semestre de 2019 em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da estatal responsável pelos trens metropolitanos de São Paulo.

Nos seis primeiros meses de 2019, a companhia fez 35.969 apreensões, com 1,1 milhão de itens retirados de circulação. É a maior quantidade de apreensões e produtos apreendidos para o período desde 2016, quando começa a série histórica de dados disponíveis no site da CPTM.

O comércio ambulante nos trens não é crime, mas é proibido por lei. "Por ser uma infração administrativa, a sanção é restrita à retirada do usuário do sistema e à apreensão da mercadoria que está sendo comercializada", diz a CPTM.

"Chama na loja"

As linhas 7-rubi (Luz - Francisco Morato - Jundiaí) e 8-diamante lideraram as altas nas apreensões no primeiro semestre.

"As linhas 7 e 8 são extensas, com estações muito próximas umas das outras, e permitem a entrada das pessoas sem pagar. Você pular o muro da estação e entrar é mais fácil do que em outras", diz o gerente de segurança da companhia, coronel Iran Figueiredo Leão. "Em razão da permeabilidade das ferrovias, que é uma características das ferrovias no mundo inteiro, isso favorece o acesso."

Em viagens em dias úteis e em horários diferentes na linha 8-diamante, a reportagem pôde observar as vendas, dentro dos vagões, de dezenas de produtos. "Chama na loja" é uma das frases mais usadas pelos vendedores --um deles, oferecendo fones de ouvido a R$ 5 ou R$ 10, dispunha até de uma máquina para pagamento com cartão.

Quando o movimento permite, o vaivém dos ambulantes dentro dos vagões é frenético. Entre uma estação e outra, percorrem quase toda a composição anunciando seus produtos. Não são raras as ocasiões em que dois, três ou quatro vendedores cruzam o mesmo vagão de forma simultânea.

Os anúncios em voz alta durante os trajetos entre estações contrastam com a discrição dos vendedores quando os trens param.

Com a composição parada, um rapaz com uma sacola plástica vigia a plataforma. Assim que o trem arranca, ele puxa da sacola um pote repleto de balas vendidas a R$ 1.

Em outra viagem, uma idosa recusa discretamente a oferta para se sentar no assento preferencial. Quando o trem deixa a estação, ela tira de sua sacola balas de banana -- vende cinco por R$ 1.

Copos e garrafas d'água estão entre os itens mais comuns nas apreensões, de acordo com a CPTM, assim como "guloseimas de modo geral, fones de ouvidos, carregadores e pendrives".

Além destes produtos, também foi possível constatar o comércio de itens como apoios para celular, capas plásticas para documentos, carteiras, elásticos de cabelo, meias, tesouras, joystick para jogos no celular, pomada relaxante muscular e creme reparador capilar.

1º.ago.2019 - Vendedores ambulantes em trem da linha 8-Diamante da CPTM - UOL - UOL
1º.ago.2019 - Vendedores ambulantes em trem da linha 8-diamante da CPTM
Imagem: UOL

Estratégia sigilosa

A CPTM não informa quantos agentes de segurança e vigilantes terceirizados têm à disposição. Segundo a empresa, as equipes de segurança promovem rondas diárias nos trens e estações. Câmeras de vigilância também são usadas.

"Vendedores de produtos falsificados (piratas) ou com o prazo de validade vencido são encaminhados à delegacia. As mercadorias ilegais são destruídas, assim como os produtos vencidos. Perecíveis com data dentro do prazo de validade são destinados às prefeituras", diz a empresa em nota.

A CPTM não fala sobre as estratégias que levaram à maior quantidade de apreensões. O coronel Iran Figueiredo Leão explica apenas que há uma busca por informações para subsidiar a atividade das equipes nos trens.

"Nós temos que guardar as nossas estratégias porque, senão, acaba perdendo o foco e levando a um contra-ataque muito antes do que seria razoável", diz.

Leão não informou, por exemplo, se a empresa continua se valendo de agentes à paisana, como noticiado pelo UOL e pelo jornal Agora anteriormente.

Na semana passada, em viagem pela linha 8-diamante, a reportagem viu um ambulante interromper a tentativa de descer na estação Carapicuíba ao ser alertado por uma passageira de que havia um agente à paisana na plataforma. Quando o trem seguiu, foi possível ver um homem de boné, calça jeans e camiseta conversando com agentes da CPTM uniformizados.

As apreensões avançaram mensalmente entre janeiro e maio, sofrendo queda em junho. Para Leão, isso seria uma resposta ao aumento do combate ao comércio irregular, já que as operações dos fiscais prosseguem. Os ambulantes, segundo ele, também adotaram novas formas de agir para ter menos prejuízos.

"O comércio irregular continua, mas com um volume menor, [o ambulante] tem carregado muito menos mercadorias", afirmou. "Não diminuímos o número de operações contra esse tipo de ação e não estamos conseguindo chegar aos mesmos níveis de apreensão. Isso significa, em última análise, que eles diminuíram também a atividade."