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Adolescente é torturado por seguranças de mercado após tentativa de furto

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Alex Tajra e Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

02/09/2019 20h37

Um estudante de 17 anos denunciou hoje dois seguranças de uma unidade do supermercado Ricoy, em São Paulo, pela prática de tortura. O caso teria ocorrido em uma manhã do mês de julho, conforme exposto no boletim de ocorrência ao qual a reportagem teve acesso. O jovem tentou furtar uma barra de chocolate, quando foi abordado na saída do local pelos funcionários.

"(...) Juntos [os seguranças] levaram a vítima até um quarto nos fundos da loja. Ali, a vítima foi despida, amordaçada, amarrada e passou a ser torturada com um chicote de fios elétricos trançados. Ali, permaneceu por cerca de quarenta minutos, sendo agredido o tempo todo", diz o boletim.

No depoimento, colhido no 80º Distrito Policial (Vila Joaniza, zona sul da capital), consta ainda que o jovem não quis registrar a denúncia naquele momento "pois temia pela sua vida". "Na saída do supermercado, ouviu S. [um dos seguranças acusados] dizer que, caso falasse algo para alguém, iria matá-lo.", diz o documento.

Os policiais abriram um inquérito para investigar a suspeita de tortura por parte dos seguranças. Também serão requeridas informações ao supermercado para que os funcionários sejam intimados para prestar depoimento.

Os seguranças gravaram em vídeo as agressões. O UOL teve acesso à filmagem e confirmou sua veracidade com o delegado Pedro Luis de Sousa, responsável pelo DP que está apurando o caso. No vídeo, o jovem aparece quase inteiramente nu, com as calças abaixadas na altura do joelho, enquanto é agredido com uma espécie de chicote por um homem.

No local onde o jovem está sendo agredido, é possível notar caixas lacradas e caixotes de plástico com frutas, no que aparenta ser um depósito.

O advogado Ariel de Castro Alves, que faz parte do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos), acompanhou o depoimento do jovem que teve início na tarde de hoje e terminou no começo da noite. O órgão, apesar de vinculado ao governo do Estado, é autônomo e composto por integrantes de organizações de direitos humanos.

Segundo Alves, a função do conselho é " fiscalizar, denunciar e cobrar apurações de violações de direitos humanos cometidas por agentes do estado ou particulares."

"Como conselheiro do Condepe, estarei acompanhando as investigações e cobrando punição dos responsáveis por esses atos bárbaros e cruéis de tortura", disse o advogado. "Existem indícios contundentes de crime de tortura praticado pelos seguranças."

Alves afirma ainda que o conselho está preocupado com a proteção do jovem que denunciou os seguranças, posto que ele está em uma situação de vulnerabilidade. "Vou falar amanhã com o delegado, questionar se houve alguma ameaça, tentativa de coação", diz o advogado.

A reportagem tenta contato com o supermercado Ricoy, e o texto será atualizado com a manifestação da empresa.