Adolescente é torturado por seguranças de mercado após tentativa de furto
Um estudante de 17 anos denunciou hoje dois seguranças de uma unidade do supermercado Ricoy, em São Paulo, pela prática de tortura. O caso teria ocorrido em uma manhã do mês de julho, conforme exposto no boletim de ocorrência ao qual a reportagem teve acesso. O jovem tentou furtar uma barra de chocolate, quando foi abordado na saída do local pelos funcionários.
"(...) Juntos [os seguranças] levaram a vítima até um quarto nos fundos da loja. Ali, a vítima foi despida, amordaçada, amarrada e passou a ser torturada com um chicote de fios elétricos trançados. Ali, permaneceu por cerca de quarenta minutos, sendo agredido o tempo todo", diz o boletim.
No depoimento, colhido no 80º Distrito Policial (Vila Joaniza, zona sul da capital), consta ainda que o jovem não quis registrar a denúncia naquele momento "pois temia pela sua vida". "Na saída do supermercado, ouviu S. [um dos seguranças acusados] dizer que, caso falasse algo para alguém, iria matá-lo.", diz o documento.
Os policiais abriram um inquérito para investigar a suspeita de tortura por parte dos seguranças. Também serão requeridas informações ao supermercado para que os funcionários sejam intimados para prestar depoimento.
Os seguranças gravaram em vídeo as agressões. O UOL teve acesso à filmagem e confirmou sua veracidade com o delegado Pedro Luis de Sousa, responsável pelo DP que está apurando o caso. No vídeo, o jovem aparece quase inteiramente nu, com as calças abaixadas na altura do joelho, enquanto é agredido com uma espécie de chicote por um homem.
No local onde o jovem está sendo agredido, é possível notar caixas lacradas e caixotes de plástico com frutas, no que aparenta ser um depósito.
O advogado Ariel de Castro Alves, que faz parte do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos), acompanhou o depoimento do jovem que teve início na tarde de hoje e terminou no começo da noite. O órgão, apesar de vinculado ao governo do Estado, é autônomo e composto por integrantes de organizações de direitos humanos.
Segundo Alves, a função do conselho é " fiscalizar, denunciar e cobrar apurações de violações de direitos humanos cometidas por agentes do estado ou particulares."
"Como conselheiro do Condepe, estarei acompanhando as investigações e cobrando punição dos responsáveis por esses atos bárbaros e cruéis de tortura", disse o advogado. "Existem indícios contundentes de crime de tortura praticado pelos seguranças."
Alves afirma ainda que o conselho está preocupado com a proteção do jovem que denunciou os seguranças, posto que ele está em uma situação de vulnerabilidade. "Vou falar amanhã com o delegado, questionar se houve alguma ameaça, tentativa de coação", diz o advogado.
A reportagem tenta contato com o supermercado Ricoy, e o texto será atualizado com a manifestação da empresa.
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