Investigação sobre líder do PCC revela PMs como sócios de traficantes no CE
As investigações sobre um dos maiores líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) em Fortaleza levou o MP-CE (Ministério Público do Ceará) a descobrir um grupo criminoso composto por ao menos dez policiais militares que atuavam como sócios de traficante de drogas no bairro do Bom Jardim, em Fortaleza.
O traficante investigado era Márcio Perdigão, detido na região metropolitana de Fortaleza e com uma extensa ficha criminal. No último dia 30, uma operação chamada Maçãs Podres cumpriu mandados de prisão e deteve dez policiais. Dos 17 suspeitos de tráfico, havia 11 presos e seis foragidos até a terça-feira (2).
O UOL teve acesso a áudios que fazem parte da apuração do MP-CE e que mostram a forma como os policiais agiam. Entre as conversas, há planos para roubar armas de um empresário, praticar extorsão e avisar criminosos de grampos liberados por um juiz.
Em uma das gravações, feitas com autorização judicial, o militar que seria chefe da quadrilha cita que há um plano de extorsão. A propina, ele chama de "faz-me rir". Na ligação gravada, os dois policiais conversam sobre uma estratégia para abordar um casal de supostos traficantes e donos de uma sorveteria para extorquir dinheiro.
Em outro áudio, um policial avisa a um traficante que o celular dele está grampeado e que evite conversar com outro suspeito.
Já em outras duas conversas interceptadas, um traficante e um policial discutem como tomar dois revólveres de um dono de uma pizzaria no bairro. A informação das armas foi dada pelo entregador do estabelecimento, que explicou que os revólveres estão logo abaixo do caixa. Eles ainda combinam uma forma de extorquir o proprietário.
Outro ponto descoberto nas investigações é que policiais tentavam vender as drogas apreendidas. Em um dos áudios a que a reportagem teve acesso, um militar oferece a um traficante 2,5 kg de crack. "Tô com dois e meio da amarelinha", afirma (as gírias e os erros de português foram mantidos).
Um outro diálogo mostra o policial perguntando a um traficante se ele tem comprador para droga, vendida por R$ 8.000 o quilo. "Eu dou a oito conto a pedra. Veja se tu consegue aí, precisar de foto, mando", afirma o militar na ligação. O suspeito ainda pergunta ao policial se ele teria maconha, mas o militar diz que não.
Em nota enviada ao UOL, a PM do Ceará informou que os policiais vão passar por investigação administrativa na Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública.
Atuação em varejo
O coordenador do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas) do MP-CE, promotor Rinaldo Janja, afirma que os policiais atuavam no "varejo', ou seja, sem bandeira específica de facção. "Eles tinham chefe, que coordenava tudo. Agiam nos negócios de traficantes em detrimento dos concorrentes deles", diz.
Eles não tinham nenhum vínculo com facções, agiam para quem pagasse
Rinaldo Janja, coordenador do Gaeco
Segundo o promotor, eles devem ser denunciados por crimes de corrupção passiva, associação ao tráfico e organização criminosa. "Eles se apoderavam das drogas e vendiam. Associavam-se com os traficantes no Bom Jardim", afirma.
O bairro do Bom Jardim é um conhecido por altos índices de violência. "Lá tem muita atuação de tráfico, com comando do PCC. Márcio Perdigão é o líder do tráfico da região. O chefe da quadrilha [de PMs] articulava tudo com os policiais, e eles davam proteção a ele", relata.
Márcio Perdigão é apontado como um dos maiores líderes do tráfico na capital cearense. Denunciado em duas ações penais, ele está detido na CPPL (Casa de Privação Provisória de Liberdade) 3, em Itaitinga, na Grande Fortaleza.
Em maio, o governo pediu a transferência dele para um presídio federal, mas teve a solicitação rejeitada pela justiça. Ele estaria entre os líderes da série de ataques que o Ceará sofreu no início do ano.
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