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Manchas escuras em praias do Nordeste preocupam ativistas ambientais

Manchas vistas em praias do litoral de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte - Reprodução/Instagram
Manchas vistas em praias do litoral de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte Imagem: Reprodução/Instagram

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Maceió

13/09/2019 11h50

Uma substância escura, oleosa e com forte odor está aparecendo em praias do litoral de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte desde o início do mês. As manchas estão sujando as praias e causam preocupação sobre possíveis danos ambientais em praias que são berçários de tartarugas marinhas e golfinhos, em Tibau do Sul (RN).

A CPRH (Agência Estadual do Meio Ambiente de Pernambuco) identificou a substância como piche e diz que o material é derivado de petróleo (combustível) utilizado em embarcações. Até agora, não se sabe a origem do material, mas suspeita-se que ele é proveniente de limpeza ilegal de tanques de algum navio que passou pela costa nordestina.

A lavagem de tanques de embarcações fora do porto é proibida por lei devido ao poder poluente do material, que deve ser recolhido por empresas especializadas para ser levado a estações de tratamento ou comercializado para indústrias de reaproveitamento.

O registro mais recente dessas manchas ocorreu na última terça-feira (10) na praia de Japaratinga, localizada na Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais, no litoral norte de Alagoas. Há relatos também que as paradisíacas praias do Toque, em São Miguel dos Milagres (AL), e da Laje, em Porto de Pedras (AL), localizadas na Rota Ecológica dos Milagres, no litoral norte de Alagoas, também tiveram as areias manchadas pela substância.

A Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte disse que foi informada da presença de manchas nas praias da Via Costeira, em Natal; Muriú, em Ceará-Mirim; Camurupim, em Nísia Floresta, e Barra de Maxaranguape.

As manchas também surgiram após a maré alta nas areias da praia da Pipa, no município de Tibau do Sul (RN), na última segunda-feira (9). A situação da praia preocupa ativistas ambientais, pois a praia da Pipa é berçário de tartarugas marinhas. O material também foi encontrado na Baía dos Golfinhos, local preferido dos golfinhos na região, além das praias do Amor, Minas e Giz.

Após tocar nas manchas, Marcelle Comenale Pires, moradora de Tibau do Sul, postou a foto no Instagram e afirmou que "hoje, o paraíso tem cheiro de óleo". Ela disse ainda que a extensão das praias atingidas é "grande", mas afirma que não há divulgação da real área atingida.

"Alguns dizem que foi um navio que jogou piche ilegalmente. Mas, e ai? Ninguém tentou conter? Faz uma semana que isso começou e ninguém fez nada para que não se espalhasse. Quanto piche um navio é capaz de jogar? Coincidência ou não, houve vazamento de óleo de uma refinaria em Pernambuco, dias antes, mas negam a relação", questiona ela.

O secretário de meio ambiente de Tibau do Sul, Leonardo Tinôco, afirmou que a substância que atinge as praias do povoado da Pipa provavelmente vem "do incidente causado em Pernambuco e, aparentemente, piche, proveniente da lavagem dos cascos dos navios".

A prefeitura de Tibau do Sul informa que os "resíduos betuminosos" encontrados nas praias da Pipa foram retirados, de forma emergencial, por equipes da administração municipal, além de barraqueiros, motoristas de Jipe, moradores e ONGs que atuam no povoado. A prefeitura disse ainda que está em contato com órgãos ambientais para contatar empresa habilitada e licenciada para destinação correta dos resíduos coletados.

"Este resíduo necessita de cuidados com o manuseio e descarte seguros. Em função disso, a coleta deve ser feita com ferramentas como rastelos e pás, acondicionando provisoriamente o material em recipientes plásticos", orienta a prefeitura, destacando que é necessário que as pessoas evitem o contato direto com o produto.

Tartarugas mortas

Os primeiros registros do aparecimento das manchas ocorreram em trechos das praias de Boa Viagem, na zona Sul de Recife (PE), Piedade, em Jaboatão dos Guararapes (PE), e na praia Del Chifre, em Olinda (PE). Em seguida, banhistas observaram a presença da substância nas praias do Cupe e Gamboa, em Ipojuca (PE), e de Tamandaré (PE). Duas tartarugas envolvidas com o material apareceram mortas na ilha de Cocaia, no Cabo de Santo Agostinho (PE).

No mesmo período, moradores da Paraíba relataram que encontraram manchas na praia do Bessa e Manaíra, em João Pessoa, e Jacumã, no Conde.

Manchas surgiram após vazamento em refinaria

A substância apareceu nas praias poucos dias após um vazamento de cinco metros cúbicos de óleo e água ocorrido na estação de tratamento de despejos industriais da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca. O vazamento ocorreu no dia 26 de agosto.

Entretanto, a Semas (Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade) diz que as manchas das praias não têm relação com o derramamento de óleo da refinaria.

A Petrobras, responsável pela refinaria, também nega que o derramamento tenha chegado ao mar. "A Petrobras informa que análise realizada em amostras coletadas em praias do nordeste indicou que o material encontrado não é produzido nem comercializado pela Petrobras. Desde quinta-feira (12/9), a Petrobras vem realizando, por solicitação do Ibama, limpeza de praias que apresentaram manchas de óleo nos últimos dias, nos estados de Alagoas, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O trabalho é realizado pelas equipes do Centro de Defesa Ambiental da Petrobras nas praias indicadas pelo órgão ambiental", informou em nota.

Uma força-tarefa, que reúne técnicos da CPRH, da Semas, do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), do Porto de Suape, além de professores e técnicos do Departamento de Oceanografia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) estão analisando a origem da substância para identificar o responsável.

Os pesquisadores estão observando imagens de satélites de norte a sul da costa de Pernambuco e correntes marinhas para identificar o local exato que a substância apareceu no mar, pela primeira vez, e assim, localizar o responsável pelo despejo no mar. Não há data para término do trabalho.

O Ibama informou ontem que o assunto ficou a cargo do Ministério do Meio Ambiente, mas até a publicação deste texto ninguém havia dado retorno.