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Pais de Mariana Bazza: "Desta vez foi minha filha. Amanhã uma de vocês?"

Mariana Bazza, estudante de fisioterapia que foi assassinada no interior de São Paulo - Reprodução/Facebook
Mariana Bazza, estudante de fisioterapia que foi assassinada no interior de São Paulo Imagem: Reprodução/Facebook

Wagner Carvalho

Colaboração para o UOL, de Bauru (SP)

28/09/2019 19h22

Resumo da notícia

  • Pais subiram tom de crítica aos governos
  • Jovem foi morta após troca de pneu do carro
  • Críticas são pela falta de segurança e monitoramento
  • Cerca de 100 pessoas fizeram caminhada em memória de Mariana

As manifestações dos pais da jovem universitária, Mariana Forti Bazza, 19 anos, até agora tinham sido apenas de lamentação pelo assassinato da filha. Neste sábado (28), Aírton e Marlene subiram o tom com críticas à administração municipal de Bariri (interior de SP) pela falta de segurança e monitoramento na cidade.

"Dessa vez foi minha filha, amanhã é a filha de quem? Amanhã uma de vocês?"

Mariana foi assassinada na terça-feira (24) depois de sair de uma academia de ginástica. Seu corpo foi encontrado numa plantação de cana-de-açúcar na área rural de um distrito da cidade de Ibitinga (SP). Rodrigo Pereira Alves, conhecido como Rodriguinho, 33, foi preso após confessar e apontar o local.

Cerca de 100 pessoas, em sua maioria mulheres adolescentes, vestidas de preto com cartazes e faixas de protesto pela morte, caminharam hoje pelas ruas centrais de Bariri, ora calados e cabisbaixos, ora gritando por justiça.

"Assim que eu tiver a disposição de falar e tiver a cabeça no lugar, queria reunir todos os canais de televisão e falar para o município, onde está o erro no município, onde está no Estado e onde está no nosso país, quero falar. Só que a hora que eu falar vou elogiar e criticar, não importa o que pode acontecer comigo. Eu perdi minha filha, espero que um próximo pai não sofra do jeito que eu estou sofrendo", afirmou o pai da garota.

A mãe da estudante de fisioterapia, que passou o domingo todo estudando para passar numa prova e foi morta na terça-feira (24), criticou a falta de medidas preventivas de segurança. "Quero que vocês puxem as câmeras lá do lago onde ele [o acusado da morte] passou com o carro. Não dá para ver nada. Cadê o prefeito? Não dá para por câmeras nesta cidade? Não dá para ver o cara no carro, cadê as câmeras dessa cidade? Cadê, cadê, cadê?"

"Agora ninguém pergunta onde minha filha está. Ninguém pergunta. Comigo ela não está mais e nunca mais vai estar comigo", disse a mãe, Marlene.

O prefeito de Bariri, Francisco Leoni Neto (PSDB), disse que as críticas contra a administração municipal e contra a falta de monitoramento na avenida onde a jovem foi abordada são "levianas". Neto Leoni, como é conhecido, disse que está no comando da cidade há um ano e dois meses e que infelizmente o município atravessa uma crise financeira com contas de administrações passadas tendo que ser pagas pela atual.

"Mesmo assim temos sete câmeras em operação na cidade, gostaríamos de mais, mas só vamos até aonde o orçamento dá", afirmou. Para o prefeito, as câmeras no local do crime não teriam evitado a morte da jovem. "Foi uma fatalidade", afirmou. "Acho um pouco leviano a administração ser responsabilizada, uma administração que está implantando o monitoramento."

O crime

Mariana e a amiga saíram da academia por volta das 8h de terça-feira. A colega disse à polícia que pegou sua motocicleta e saiu em direção ao trabalho. Já Mariana, segundo câmeras de segurança em posse da Polícia Civil, dirigiu-se até seu veículo e notou que o pneu estava murcho.

Nesse instante, as câmeras flagraram um homem se aproximar dela e oferecer ajuda para a troca do pneu. O rapaz conversou com Mariana e logo em seguida se dirigiu para uma chácara em frente à academia. Ainda de acordo com as imagens do circuito interno de segurança, após conversar com o rapaz, Mariana entrou no carro e o guiou para dentro da chácara.

Cerca de uma hora depois, o veículo saiu do local. Uma pessoa saiu pela porta do motorista, voltou após alguns segundos e arrancou com o veículo.

Enquanto o rapaz trocava o pneu do carro, Mariana chegou a fotografá-lo e, numa rápida conversa por uma rede social, enviou a foto para seu namorado, Jéferson Viana, tenente da Marinha e que estava em Santos (SP) naquele momento.

Em um dos vídeos das câmeras de segurança da academia frequentada pela jovem, é possível ver que por volta das 10h30 minutos o suspeito voltou para a chácara, estacionou o veículo quase em frente à academia, atravessou a avenida e ficou dentro da propriedade cerca de 30 minutos. Meia hora mais tarde, câmeras instaladas em cima da ponte do rio Jacaré-Pepira, no município vizinho de Itaju, flagraram o suspeito passando com o veículo da vítima.

À noite, a Polícia Civil de Bariri prendeu Rodrigo Pereira Alves, que estava escondido na casa de familiares em Itápolis (SP). Ele apontou o local do corpo no dia seguinte.