Menos emprego, mais favela: áreas com mais negros têm piores índices em SP
Resumo da notícia
- Estudo mostra que SP tem abismos sociais e também raciais entre os bairros
- População negra (pretos e pardos, na nomenclatura do IBGE) se concentra em áreas com piores indicadores
- Distritos com mais brancos lideram acesso a emprego e saúde
- Dados são do Mapa da Desigualdade, da Rede Nossa São Paulo
Na cidade de São Paulo, as diferenças no acesso a direitos como emprego, moradia e saúde não são apenas regionais: são também raciais. É o que revela cruzamento feito pelo UOL com dados divulgados hoje pela Rede Nossa São Paulo.
No Mapa da Desigualdade, o estudo que traz indicadores para cada distrito com base em dados oficiais e Lei de Acesso a Informação, é possível observar que os 15 distritos com maior população preta e parda (nomenclaturas usadas pelo estudo e pelo IBGE) oferecem condições de vida piores do que a média da cidade.
A diferença é ainda mais gritante comparando-se com distritos de população majoritariamente branca. O levantamento também mostra que a cidade tem distribuição racial irregular entre os distritos.
Apartheid paulistano
Segundo o levantamento, 32% dos moradores de São Paulo se identificam como pretos ou pardos — categorias normalmente agrupadas sob o guarda-chuva "negros".
Mas em alguns bairros, como o Jardim Ângela, na Zona Sul, a concentração dessa população chega a 60% - quase o dobro da média da cidade.
Moema é oposto: apenas 5,82% são pretos e pardos.
Emprego formal
O mapa indica que a taxa média de emprego formal na cidade é de 6,7 entre habitantes com 15 anos ou mais. Quanto maior a taxa, melhor o nível de emprego.
Enquanto nos 15 distritos com menos pretos e pardos essa taxa é de 11,7, quase o dobro da média do município, o emprego formal nos distritos com mais pretos e pardos tem taxa de 0,79. Cidade Tiradentes é onde há menos trabalhadores formais, com taxa de 0,24, seguida por Iguatemi (0,35), Anhanguera (0,4) Brasilândia (0,47) e Jardim Ângela (0,5).
No outro polo, o campeão de empregos formais é o Itaim Bibi, com índice de 34,6. É acompanhado de Santo Amaro (21,48), Pinheiros (17,9) e Lapa (17,3).
Favelas
A proporção de favelas em São Paulo é de 8,3% em relação a todos os domicílios da capital. Enquanto a média dos 15 distritos com mais pretos e pardos quase dobra (14,6%), esse percentual não passa de 0,94% nos distritos da outra ponta.
Capão Redondo (27,66%), Jardim Ângela (25,83%) e Jardim São Luís (24%) encabeçam a lista entre os distritos com mais pretos e pardos. Dentre os 15 distritos do outro extremo, Moema, Alto de Pinheiros, Perdizes e Consolação não registram nenhuma comunidade desse tipo.
Gravidez na Adolescência
Em toda São Paulo, a proporção de bebês de mães com 19 anos ou menos é de 8,7% em relação ao total. Mas nos 15 distritos com mais pretos e pardos, esse percentual chega a 13,4%, enquanto nos 15 bairros com menos pretos e pardos essa taxa é de 2,4%.
Parelheiros (16,5%), Cidade Tiradentes (16,4%) e Jardim Ângela (14,1%) são os distritos que encabeçam a lista, enquanto em Moema (0,35%), Itaim Bibi (0,7%) e Pinheiros (0,92) há pouca gravidez precoce.
Mortalidade Infantil
Um dos índices que compõem o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), a mortalidade infantil em São Paulo é de 10,5, em média. Esse índice é de 12,4 na média dos 15 distritos com mais pretos e pardos. Em Cidade Tiradentes (15,6), Lajeado (14,9) e Capão Redondo (14,4) a mortalidade infantil é maior.
No grupo oposto, a mortalidade infantil é menor em Perdizes (1,07), Itaim Bibi (1,56), a Consolação (2,54). A média nesses 15 distritos com menor proporção de negros é 6, puxado por Jardim Paulista e Tatuapé, com altos índices: 14,5% e 10,8%, respectivamente.
Espera para consultas no Programa Saúde da Família
O paulistano espera em média em 4,4 dias por uma consulta no Programa Saúde da Família, a principal estratégia municipal para prevenção de doenças.
Nos bairros centralizados com predominância de brancos, a espera é muito menor: 1,69 dia.
Já em Guaianases, onde mais se espera por atendimento no grupo dos 15 distritos com mais pretos e pardos, o prazo médio é de 13,27 dias. Em seguida aparece Brasilândia (9,87 dias) e Lajeado (9,39).
Do outro lado, ninguém espera um único dia em nove dos 15 distritos. A Saúde, na lista dos 15 com menor proporção de negros, é uma exceção: a demora lá por esse tipo de atendimento chega a 6 dias.
Idade média ao morrer
Se na média da cidade a vida acaba aos 68,7 anos, nos bairros com mais pretos e pobres, essa idade cai para 60,4 anos. Destaque para Grajaú (58,6), Anhanguera (58,8) e Jardim Ângela (58,9).
Nos 15 distritos com menos pretos e pardos, a média de idade ao morrer é de 77,8 anos. Moema, com 80,5, Jardim Paulista (79,8) e Consolação (79,4) é onde a expectativa de vida é maior.
Equipamentos públicos de cultura
Em todo o município, a taxa média de equipamentos públicos de cultura —como centro cultural, teatro e museu— é de 4 para cada cem mil habitantes. Entre os distritos com menos pretos e pardos, o índice fica um pouco acima da média: 4,7, puxado por Consolação (19,9), Lapa (11,9) e Pinheiros (7,5).
No outro extremo, a taxa média é de 1,3. Jardim Ângela, com índice de 0,61, é onde há menos opções culturais bancadas pelo poder público. É seguido por Parelheiros (0,68) e Grajaú (0,79).
Cinemas
Outro indicador de entretenimento e cultura, os cinemas também se concentram nos bairros com menos pretos e pardos. Enquanto a proporção média da cidade —incluindo salas municipais, estaduais, federais e particulares— é de 0,6 para cada 10 mil habitantes, esse índice fica em 1,4 nos distritos com menos pretos e pardos e em 0,01 naqueles com população preta e parda maior.
Neste último caso, nove dos 15 distritos têm taxa zero. No outro extremo, destacam-se Consolação (4,8), Pinheiros (3,1) e Santo Amaro (2,9).
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