Abordagens a moradores de rua quadruplicam e somam meio milhão em São Paulo
Resumo da notícia
- O número de moradores de rua abordados pela prefeitura de SP aumentou 366%
- Assistentes sociais fizeram 491 mil abordagens até novembro
- Número não equivale ao de moradores de rua na cidade
- Mas um salto tão expressivo é visto pela própria Prefeitura como indicativo de que a população de rua cresceu
- Pasta diz que metodologia, número de profissionais e de rondas se mantiveram -- o que corrobora a hipótese de aumento de moradores de rua
Até setembro, Carlito Oliveira Ferreira, 37, vendia artigos de cama, mesa e banho. "Mas me viciei em cocaína e não consegui ficar no trabalho", afirma, relatando como passou a integrar um fenômeno que salta aos olhos em São Paulo e é corroborado por números da prefeitura: a quantidade de pessoas que vive nas ruas da capital paulista explodiu.
Dados obtidos pelo UOL mostram que o número de pessoas abordadas nessa situação por agentes sociais do município passou de 105 mil em 2018 para 491 mil até novembro deste ano — um aumento de 366%.
Responsável pelo trabalho, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social afirma que o número de profissionais envolvidos nas abordagens, a metodologia de contagem, a estratégia e as saídas às ruas não se alteraram significativamente entre o ano passado e este.
E embora o cálculo de abordagens não equivalha a um censo de moradores de rua — que está em andamento e deve ficar pronto no ano que vem —, um salto tão expressivo nesse indicador chama a atenção e é interpretado pela própria pasta como um indício de que a população de rua cresceu. Mas será preciso aguardar o censo para saber a proporção desse aumento.
No último levantamento, de 2015, a capital paulista contabilizou 15,9 mil pessoas em situação de rua. Na ocasião, 56,1 mil pessoas foram abordadas nas calçadas da cidade.
A diferença entre pessoas abordadas por agentes sociais e contabilizadas pelo censo se dá por alguns motivos:
- Uma mesma pessoa pode ser abordada mais de uma vez no ano -- e mesmo que os agentes sociais tentem evitar duplicações, a falta de documentos dificulta a garantia de que não há pessoas contabilizadas mais de uma vez;
- Nas abordagens, entra também gente que tem casa na periferia (ou seja, tecnicamente não é considerado morador de rua), mas dorme eventualmente nas ruas do Centro pedindo doações ou executando pequenos trabalhos.
Para a abordagem, 600 agentes sociais visitam as regiões de toda a cidade onde há concentração de moradores de rua. Também há rondas fora desses locais.
Como poucos moradores de rua têm endereço ou documento, a contabilização é feita com nome e idade. Quando a pessoa aceita o que a pasta chama de "acolhimento" (que pode resultar em encaminhamento para albergue ou para serviço de saúde), as perguntas são aprofundadas. Questionam-se, por exemplo, o lugar de origem e vínculos familiares ainda mantidos. Essas informações alimentam um banco de dados eletrônico criado pela prefeitura.
Economia e relações sociais
Questionada sobre as razões para o aumento das pessoas em situação de rua este ano, a secretaria afirma que é preciso aguardar o resultado do censo. O estudo traça o perfil dos moradores, com informações como idade, sexo e os motivos para que tenham deixado suas casas, como desemprego, conflitos familiares ou dependência de drogas.
"Quem está na rua ou é por causa de vício ou porque perdeu o emprego", afirma Carlito, há dois meses dormindo na rua.
Na região metropolitana de São Paulo, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) o nível de desemprego passou de 10,4% em 2013 para 16,6% em junho (último trimestre analisado).
Em todo o Brasil, o desemprego fechou o terceiro trimestre, encerrado em setembro, em 11,8%, segundo o IBGE.
Seja por falta de emprego, por dependência química ou problemas familiares, o fato é que é cada vez mais rara uma caminhada por São Paulo sem notar a presença de moradores de rua.
Há dois anos sem casa, Júlio César da Silva, 41, espera uma lanchonete fechar as portas na rua Doutor Ribeiro de Almeida, na Barra Funda, para pegar seu cobertor e dormir sob a marquise.
"Estou sem casa há oito anos", conta. "Preciso de um assistente social para me ajudar a conseguir uma vaga no albergue. Lá tem chuveiro, café da manhã, almoço e janta."
Ele é natural de Vitória, no Espírito Santo, relata frio em algumas noites e diz que raramente presencia briga nas ruas.
Minha família toda mora em Vitória. Ainda tenho contato com alguns deles. Eu penso em voltar pra casa, mas tudo tem seu tempo
Júlio César da Silva, 41
Em nota, a secretaria afirma que, "de janeiro a novembro de 2019, aproximadamente 8.295 pessoas foram acolhidas nos serviços voltados para população em situação de rua".
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