Cerveja é citada pela 1ª vez por força-tarefa que investiga casos de doença
Pela primeira vez desde que casos da "doença desconhecida" apareceram em Belo Horizonte, em dezembro de 2019, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais emitiu nota técnica, neste sábado (11), em que cita diretamente a ingestão da cerveja Belorizontina, produzida pela cervejaria Backer. O documento também recua, para novembro de 2019, a data inicial dos sintomas para o quadro clínico que deve ser notificado por profissionais e órgãos de saúde. Em nota anterior, o mês de referência era dezembro de 2019.
Além de definir os casos suspeitos que devem ser notificados, o documento define o protocolo de atendimento às pessoas que apresentarem os sintomas da "doença misteriosa": além dos exames laboratoriais iniciais, o indivíduo que apresentar os sintomas precisa passar por avaliações oftalmológica e neurológica.
A nota indica o uso de etanol como antídoto para frear a intoxicação. O procedimento deve ser feito, preferencialmente, de maneira intravenosa. Em caso de impossibilidade desse procedimento, o paciente pode receber o remédio via oral, orienta o documento, que ainda alerta para que o início do tratamento seja imediato, antes mesmo da realização dos exames de laboratórios.
Os pacientes que apareceram com a "doença misteriosa" apresentaram inicialmente problemas gastrointestinais, como náusea, vômito e dor abdominal. Depois, surgem alterações neurológicas, como paralisia facial, visão borrada, amaurose (perda da visão parcial ou totalmente) e alterações sensitivas.
A reportagem do UOL ligou diversas vezes na manhã de hoje para os telefones da sede da cervejaria Backer, em Belo Horizonte, para comentar o assunto, mas as chamadas não foram atendidas. A área de marketing da empresa, responsável pelos posicionamentos da cervejaria sobre o assunto, não foi localizado.
Pacientes consumiram a cerveja
Em 30 de dezembro, foi feita a primeira notificação sobre a síndrome. Sete dias depois, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais determina a notificação de casos semelhantes em todo o Estado e cria uma força tarefa para cuidar do assunto.
A média de dias entre o início dos primeiros sintomas e a internação, das pessoas que tiveram a doença, foi de dois a três dias. Os pacientes tiveram insuficiência renal aguda (de rápida evolução, em até 72 horas) e alterações neurológicas centrais e periféricas.
Os números cresceram rapidamente até chegar aos 11 oficialmente investigados atualmente, no último balanço de ontem. Entre os pacientes, o fator comum, além da síndrome nefroneural, é o fato de terem bebido a cerveja Belorizontina, adquirida no bairro Buritis, zona oeste de Belo Horizonte.
As idades dos pacientes variam entre 23 e 76 anos. Todos consumiram a cerveja Belorizontina. Quatro deles já testaram positivo para a presença do dietilenoglicol em sua corrente sanguínea. O produto foi encontrado em lotes da cerveja da Backer. Na sexta-feira (10), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento fechou a fábrica da Backer, suspendendo as linhas de produção de cerveja de Backer.
O bancário Paschoal Demartini Filho, 55 anos, morreu na terça-feira (7), com os sintomas da "doença misteriosa", em Juiz de Fora (MG), município distante 265 Km de Belo Horizonte. Nas festas de fim de ano, o bancário bebeu a Belorizontina com o genro, Luiz Felipe Teles Ribeiro, 37, no apartamento da família, no bairro Buritis. Ele está internado com o mesmo quadro clínico que matou o sogro.
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