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O que é a substância achada em cerveja e suspeita de causar morte em MG

Cerveja Belorizontina, da cervejaria Backer - Divulgação
Cerveja Belorizontina, da cervejaria Backer Imagem: Divulgação

Marcellus Madureira

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

10/01/2020 14h32

Resumo da notícia

  • MG teve uma morte e sete internações com doença misteriosa nas últimas semanas
  • Pacientes apresentavam insuficiência renal aguda
  • Sintoma é compatível com substância encontrada pela polícia de MG em 2 lotes de cerveja
  • Nome da substância é dietilenoglicol
  • Fabricantes de cerveja dizem que não usam substância na linha de produção

Dietilenoglicol. O nome complexo parece estar por trás de uma "doença misteriosa" que matou uma pessoa e levou sete pessoas à internação hospitalar em Minas Gerais, sobretudo na zona oeste de Belo Horizonte, desde o fim do ano passado.

A substância é tóxica e foi encontrada, segundo laudo da Polícia Civil, em dois lotes de amostras da cerveja Belorizontina, marca da cervejaria artesanal Backer, da capital mineira.

Entenda o que é a substância, em que situações ela é usada e o que dizem fabricantes de cerveja:

Uso da substância: refrigeração

O dietilenoglicol, também conhecido na indústria como DEG, tem propriedade anticongelante e é usado em processos de refrigeração industrial e de resfriamento. É também encontrada em óleos de usinas e nas formulações de tintas de impressão. É um líquido incolor, completamente solúvel.

O DEG também é utilizada na indústria farmacêutica e em cosméticos, lubrificantes, combustíveis e plastificantes. Mas nunca disponibilizado para o consumo humano, já que no corpo, tem efeitos nocivos.

Quais efeitos a substância tem no corpo?

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o DEG é um solvente orgânico muito tóxico e causa insuficiência renal e hepática, excesso de acidez no sangue, gastrite, pancreatite e até sequelas neurológicas.

"Ela leva uma lesão renal e é tóxica, um veneno. Quanto mais tomar, maior o risco", afirmou o médico nefrologista José Neto ao UOL.

Após o contato com a substância, diz o profissional, o paciente pode ter de ser submetido à hemodiálise.

Fabricantes de cerveja dizem que não usam a substância

Apesar dos laudos da polícia civil identificando a substância, fabricantes de cerveja, incluindo a Backer, responsável pela marca em questão, negam que o dietilenoglicol faça parte de suas linhas de produção.

"Se esse componente foi usado, foi no resfriamento. Mas esse processo não tem contato com a cerveja. A substância circula para gelar o tanque por fora. Só se ocorreu um acidente grave e o tanque foi perfurado. Mas estou falando um tanque de 18 mil litros, não apenas dois lotes. Então é algo muito estranho, muito enigmático", diz o mestre cervejeiro Marco Falcone.

A Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) afirmou que "as hipóteses para o surgimento da síndrome nefroneural ainda não foram esclarecidas" e que o processo para abertura de uma fábrica é bastante rigoroso.

Backer diz que DEG não é empregada na linha de produção

A Backer, em nota divulgada nas redes sociais, afirmou que a substância encontrada nas amostras da cerveja Belorizontina não faz parte do processo de produção. A empresa disse ainda que está a disposição das autoridades e afirmou que os lotes L1-1348 e L2-1348, citados pela Polícia Civil, foram tirados de circulação.