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Homem morre ao cair em poço de inspeção de carga; mulher dele está grávida

Leandro Brito e a mulher, Verônica. Ela está grávida de oito meses - Arquivo Pessoal
Leandro Brito e a mulher, Verônica. Ela está grávida de oito meses Imagem: Arquivo Pessoal

Bruna Alves

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/01/2020 19h11

Leandro dos Santos Brito, 20, morreu após cair em um poço de inspeção de carga, anteontem, na empresa em que trabalhava em Itapeva (SP). Eliana Santos, 41, disse que o filho não usava equipamentos de segurança no momento do acidente. "Ele já tinha reclamado para mim que estava com medo, mas era uma pessoa que respeitava demais o patrão, então ele fazia tudo que mandavam, porque tinha medo de ficar desempregado. Ele tinha família", lamenta.

Brito foi enterrado ontem em Itapeva. Ele era casado e a mulher dele, Verônica, 18, está grávida de oito meses.

Eliana disse ao UOL que ainda não foi procurada pela empresa em que o filho trabalhava. "Eles esqueceram de mim. Esqueceram completamente que eu sou mãe do Leandro. Estou muito revoltada, mas vou esperar mais uns dias. Depois, vou correr atrás."

Familiares alegam negligência

No início da noite de anteontem, o Corpo de Bombeiros foi acionado para atender uma ocorrência na empresa, no bairro Caputera, na zona rural de Itapeva (SP). Ao chegar ao local, a equipe encontrou o corpo de Brito dentro de um poço de elevador de inspeção de esteira, que é onde o caminhão descarrega grãos para armazenamento. A estrutura tem cerca de dez metros de profundidade.

O jovem, que trabalhava como auxiliar de secador, teria tentado ir até o local em que os grãos ficam armazenados. Inconformado, o tio da vítima, Elias Santos, 27, conta que trabalhou nessa mesma empresa por cinco anos e nunca recebeu apoio da gerência para os serviços de risco que executava.

"No fundo desse elevador tem a saída de cereais, e quando fica muito tempo parado tem tranca de sujeira, e quando a gente vai trabalhar tem que descer lá no fundo pela escada para destrancar, e nisso ele (o gerente) mandou o Leandro fazer esse serviço. Em vez de ficar dando um apoio, ele saiu. Foi nessa hora que o Leandro viu que estava trancado lá em baixo, foi descer e acabou acontecendo o acidente", explica Santos, que alega negligência por parte do gestor do sobrinho.

"Lá tem treinamento todo ano, e eles deixam claro que não se pode trabalhar sozinho em espaço confinado. É sempre em duas pessoas, mas o gerente da empresa o obrigou a trabalhar sozinho. E ele me obrigava também, não só eu como todos meus companheiros", diz. Santos saiu da empresa há quatro meses.

Rogério Aparecido dos Santos, 37, também é tio da vítima e trabalha atualmente na mesma função e empresa. Ele também acredita que a morte do sobrinho poderia ter sido evitada. "Se o encarregado obrigasse a usar o equipamento de segurança que a empresa fornece, poderia ter evitado o acidente. Não há dinheiro nesse mundo que volte a vida dele para nós. A única coisa que eu penso é na justiça. Eu não queria que a vida do meu sobrinho ficasse em vão", acrescenta.

O UOL tentou contato com a Silveira - Comércio, Armazenagem, Transporte de Cereais e Representações Ltda., por meio de ligações e mensagens, mas até o fechamento dessa reportagem, não obteve retorno. O espaço está aberto para que a empresa se manifeste.

Foram solicitados exames periciais para averiguar a causa da morte junto ao Instituto Médico Legal (IML). O caso foi registrado como morte suspeita e será investigado pelo 1º Distrito de Policial de Itapeva.