Local onde criança foi baleada no RJ teve 1 tiroteio por mês desde 2016
Resumo da notícia
- No início da semana, garoto de 5 anos foi baleado em comunidade do RJ
- Tiroteio na região não é fato isolado, mostra levantamento realizado pela reportagem
- Forças policiais trocaram tiros 41 vezes em 42 meses
- Ainda não se sabe de onde veio o tiro que feriu o menino
O Morro do São João, na zona norte do Rio, onde o menino Arthur Gonçalves Monteiro, 5, foi baleado na cabeça na noite do domingo (26), tem um histórico de tiroteios entre policiais e traficantes e entre facções, aponta levantamento feito pelo UOL com base em registros do Laboratório de Dados Sobre Violência Armada Fogo Cruzado.
Segundo os dados, desde julho de 2016 foram registradas ao menos 41 trocas de tiros com o envolvimento de agentes de segurança pública na comunidade — o que dá, em média, quase um tiroteio por mês, embora a distribuição dos episódios seja irregular.
Ainda não se sabe de onde partiu o tiro que feriu Arthur, e o caso é investigado pela Polícia Civil.
Segundo a família, o menino assistia a um jogo de futebol realizado na comunidade junto com o pai quando começaram os tiros. O pai do menino se jogou sobre ele para protegê-lo, mas um tiro atravessou sua mão e atingiu a cabeça do filho.
Após a ocorrência, a Polícia Militar afirmou que equipes da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) São João se deslocavam pela comunidade quando foram atacadas a tiros por criminosos. "Os policiais reagiram e ocorreu confronto no local. Posteriormente, a equipe policial foi informada que duas pessoas feridas, sendo uma criança, foram socorridas para hospital da região", diz a corporação.
Arthur passou por uma cirurgia e, até a noite da quarta (29), estava internado em estado grave no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, também na zona norte.
Área visada
O Morro do São João fica na área da 25ª DP (Delegacia de Polícia), de Engenho Novo.
A área é um das 11 onde as forças policiais mataram mais do que os criminosos em 2019, como mostrou o UOL no começo do mês. Nessa região, policiais civis e militares mataram 27 pessoas no ano passado, enquanto foram registradas 25 mortes violentas.
Desde janeiro de 2011, a comunidade tem uma UPP, e essa base também é responsável pelo patrulhamento nos morros da Matriz e do Queito, vizinhos ao São João. Essa base foi a 14ª implantada pelo ex-governador Sérgio Cabral, e sua inauguração marcou uma segunda fase do programa.
Se em um primeiro momento as unidades foram colocadas majoritariamente em áreas mais valorizadas —como a zona sul, o centro e a região da Tijuca—, a partir do Morro do São João, o programa se expandiu para a zona norte.
A expansão englobou outras comunidades importantes da zona norte —como os complexos do Alemão, da Penha e de Manguinhos, assim como a favela do Jacarezinho, mas se mostrou insustentável a longo prazo.
Disputa entre facções
O Morro do São João tem localização estratégica, ao lado do Túnel Noel Rosa, uma das principais rotas viárias da zona norte.
A comunidade fica próxima de outras vias importantes, como a Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá —importante ligação entre as zonas norte e oeste— e das avenidas Marechal Rondon e Vinte e Quatro de Maio, que cortam diversos bairros da região. A comunidade é controlada pelo CV (Comando Vermelho), maior e mais antiga facção do Rio.
A área é considerada também uma das fronteiras do crime organizado no Rio. Isso porque na outra face da colina fica o Morro dos Macacos, e é possível se locomover entre as comunidades a pé. A favela vizinha hoje é dominada pelo TCP (Terceiro Comando Puro). Por isso, a área é palco de constantes disputas pelo controle do tráfico de drogas na região.
Só em 2019, foram registrados tiroteios entre as duas facções em ao menos cinco meses (fevereiro, abril, maio, agosto e novembro). Os confrontos costumam ocorrer na área de mata que separa as duas favelas.
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