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Witzel demite presidente da Cedae um mês depois do início da crise da água

O presidente da Cedae, Helio Cabral, bebe a água que garante estar própria para o consumo - Ricardo Cassiano/Agência O Dia
O presidente da Cedae, Helio Cabral, bebe a água que garante estar própria para o consumo Imagem: Ricardo Cassiano/Agência O Dia

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

10/02/2020 18h42

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), demitiu, na tarde de hoje, o presidente da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) Helio Cabral. O desligamento dele do cargo acontece mais de um mês depois do início da crise de abastecimento que atinge da região metropolitana do estado. Para o seu lugar, o governador indicou o nome do engenheiro ambiental Renato do Espírito Santo.

Helio Cabral seria sabatinado amanhã na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) enquanto presidente da Companhia. Apesar da demissão, ele segue sendo esperado na Casa Legislativa. No local, ele deve prestar esclarecimentos sobre o mau serviço prestado pela Cedae durante a sua gestão —o que causou falta d'água em vários municípios por causa da contaminação da Estação do Guandu por detergente. Enquanto isso, outras residências continuam recebendo água com sabor, cheiro e coloração alterados pela presença de geosmina.

Uma reunião do Conselho de Administração da Cedae será realizada amanhã em caráter extraordinário. Em pauta, além da substituição do presidente da empresa e a troca de gestão, estará a possibilidade de isenção das cobranças de contas relativas ao período em que o abastecimento apresentou problemas.

Funcionário de carreira da Cedae, Renato do Espírito Santo trabalhou na Cedae por 25 anos e ocupou os cargos de diretor, gerente de saneamento e chefe de departamento da empresa. Curiosamente, ele se desligou da Cedae em 2017, quando aderiu a um plano de demissão voluntária.

CPI depende de manobra política

Enquanto a Cedae passa por mudanças hierárquicas, parlamentares tentam uma manobra para que uma CPI investigue a gestão da empresa. Para isso, é necessária a retirada de pauta de outra CPI, para que desta forma seja possível abrir caminho para a apuração.

Aliado de Witzel, o presidente da Casa Legislativa, André Ceciliano (PT), passou a se mostrar mais disposto a ver a CPI de pé depois de ter se declarado contrário à investigação que apuraria a responsabilidade de nomeados pelo chefe do Executivo.

"O que a população precisa não é de CPI, mas resolver o problema da água. Se CPI resolvesse problema, a gente teria que fazer CPI todo dia aqui na Assembleia", chegou a declarar.

Com o regimento interno da Casa embaixo do braço, o petista argumentou desde o princípio que a Alerj já trabalhava com sete CPIs ativas ou protocoladas —o número máximo para instaurações sem que fossem necessárias votações no plenário.

Desta forma, a CPI da Cedae precisaria obter mais de um terço dos votos dos parlamentares em sessão formal ou seria necessária a interrupção dos trabalhos de uma das comissões já abertas.

Por isso, neste momento, parte dos deputados tenta retirada de uma das CPIs protocoladas em 2019 pela deputada Enfermeira Rejane (PCdoB), mas cujos trabalhos ainda não foram iniciados. Procurada pela reportagem, a deputada não comentou esta possibilidade.

"Só privatizando", diz Witzel

Em meio ao impasse, Witzel afirmou que os problemas de saneamento no estado só serão resolvidos com a privatização da Cedae. O governador afirmou que R$ 30 bilhões serão investidos nos próximos 20 anos nesse setor. No entanto, de acordo com ele, o problema não será solucionado enquanto as ações da empresa não forem vendidas.

"Só será possível com a privatização da Cedae", afirmou durante a cerimônia de posse da nova diretoria da Amaerj (Associação de Magistrados do Estado do Rio de Janeiro).

Cedae desconhece origem do problema

Na semana passada, diretores da Cedae reconheceram não saber de onde vem o detergente que contaminou a Estação de Tratamento do Guandu, na Baixada Fluminense.

Policiais civis estiveram na estação de tratamento e realizaram um sobrevoo na área. No último dia 16, eles já haviam realizado uma vistoria nas instalações após o governador levantar a possibilidade de uma sabotagem provocar acúmulo de geosmina —substância orgânica produzida por um tipo de alga, que tem alterado o cheiro e o gosto da água.

Técnicos, diretores e o presidente da Cedae, Hélio Cabral, foram ouvidos. O inquérito, no entanto, ainda não foi concluído. A qualidade da água ainda não foi normalizada em diversas regiões do Rio de Janeiro.