Em meio à crise da água, CPI da Cedae é alvo de disputa política no Rio
Às vésperas do carnaval e em meio à crise de abastecimento que tem atingido o Rio de Janeiro, a CPI que investigaria as responsabilidades pelo mau serviço prestado pela Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) ainda depende de articulações políticas para ir à frente na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
Nos bastidores, parlamentares tentam a retirada de pauta de outra CPI, para que desta forma seja possível abrir caminho para apurar as causas da falta d'água em parte da região metropolitana por causa da contaminação da Estação do Guandu por detergente. Enquanto isso, outras residências continuam recebendo água com sabor, cheiro e coloração alterados pela presença de geosmina.
Aliado do governador Wilson Witzel (PSC), o presidente da Casa Legislativa, André Ceciliano (PT), passou a se mostrar mais disposto a ver a CPI de pé na tarde de ontem, depois de ter se declarado contrário à investigação que apuraria a responsabilidade de nomeados pelo chefe do Executivo.
"O que a população precisa não é de CPI, mas resolver o problema da água. Se CPI resolvesse problema, a gente teria que fazer CPI todo dia aqui na Assembleia", chegou a declarar.
Com o regimento interno da Casa embaixo do braço, o petista argumentou que a Alerj já trabalhava com sete CPIs ativas ou protocoladas no momento —o número máximo para instaurações sem que fossem necessárias votações no plenário.
Desta forma, a CPI da Cedae precisaria obter mais de um terço dos votos dos parlamentares em sessão formal ou seria necessária a interrupção dos trabalhos de uma das comissões já abertas.
Por isso, neste momento, parte dos deputados tenta retirada de uma das CPIs protocoladas em 2019 pela deputada Enfermeira Rejane (PCdoB), mas cujos trabalhos ainda não foram iniciados. Procurada pela reportagem, a deputada não comentou esta possibilidade.
Diante da dificuldade, um interrogatório do presidente da Cedae, Hélio Cabral, chegou a ser agendado para a próxima semana com a Comissão de Saneamento da Casa, esvaziando momentaneamente a ideia de CPI.
Desde o primeiro momento, o interrogatório foi alvo de questionamentos por parte dos opositores de Witzel, já que a Comissão é presidida por Gustavo Schmidt (PSL), filho de um funcionário da Cedae e voz ativa nos interesses dos funcionários da Companhia.
No entanto, a sabatina realizada na última terça-feira (4) pela Comissão de Normas Internas e Proposições Externas da Alerj com Bernardo Sarreta, o indicado por Witzel para ocupar o cargo de conselheiro da Agenersa (Agência Reguladora de Energia e Saneamento), fez com que Ceciliano desse um passo atrás.
Durante o interrogatório, o nome indicado pelo governador para integrar a cúpula da Agenersa em meio à crise de fornecimento da água assumiu não saber qual seria o papel de uma agência reguladora, reconheceu não ter realizado leituras técnicas sobre o tema e jamais ter pisado da Estação de Tratamento do Guandu. Além disso, pesou o fato de ele não ter experiências profissionais anteriores no setor público.
O resultado foi considerado catastrófico nos bastidores do governo fez com que Witzel desistisse da indicação —o que foi encarado como uma vitória dos deputados e reacendeu a vontade de ver a CPI de pé.
CPIs da Alerj neste momento
CPIs em andamento
- CPI Rioprevidência - Flávio Serafini (PSOL)
- CPI do Gás - Max Lemos (MDB)
- CPI dos Incêndios - Alexandre Knoploch (PSL)
- CPI dos Hidrômetros - Jorge F. Neto (PSD)
CPI já publicada, que será instalada essa semana
- CPI Prolagos - Dr. Serginho (PSL)
CPIs protocoladas em 2019
- CPI do Ponto Eletrônico na saúde - Enfermeira Rejane (PCdoB)
- CPI do SAMU - Enfermeira Rejane (PCdoB)
- CPI da Linha 4 - Chicão Bulhões (NOVO)
Além destas, em 2020 já foram protocolados 5 pedidos de CPI, incluindo a da Cedae
Cedae desconhece origem do problema
Na terça-feira, diretores da Cedae reconheceram não saber de onde vem o detergente que contaminou a Estação de Tratamento do Guandu, na Baixada Fluminense. Vários bairros da região metropolitana ainda sofrem com a falta d'água causada pela interrupção do serviço na noite de segunda-feira.
Policiais civis estiveram na estação de tratamento e realizaram um sobrevoo na área. No último dia 16, eles já haviam realizado uma vistoria nas instalações após o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), levantar a possibilidade de uma sabotagem provocar acúmulo de geosmina —substância orgânica produzida por um tipo de alga, que tem alterado o cheiro e o gosto da água.
Técnicos, diretores e o presidente da Cedae, Hélio Cabral, foram ouvidos. O inquérito, no entanto, ainda não foi concluído. A qualidade da água ainda não foi normalizada em diversas regiões do Rio de Janeiro.
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