Com cultos online, pastores criticam Malafaia: "Vai contra a fé cristã"
Resumo da notícia
- Pastores criticam decisão de Silas Malafaia de manter cultos
- Com a crise do corona, evangélicos fazem cultos pela internet
- Malafaia só cancelou cultos após redução do transporte público
A polêmica postura adotada pelo pastor Silas Malafaia de promover cultos em templos da Assembleia de Deus Vitória em Cristo em meio à proliferação do novo coronavírus gerou críticas de líderes evangélicos no país. Diferentemente de Malafaia, pastores de outras igrejas adotaram recomendação de isolamento e têm usado a internet para se comunicar com fiéis, incentivando as orações dentro de casa.
O pastor Marcos Botelho, da Igreja Presbiteriana comunidade da Vila, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, está em isolamento e, nesta semana, falou a seus fiéis por meio de lives transmitidas diariamente da sua casa, em Barueri. "O posicionamento da igreja é de orientar os fiéis a ficar em casa. Precisamos dar o exemplo. Mas também precisamos estar presentes, porque essa quarentena vai liberar um gatilho de muita depressão e ansiedade", afirma.
Malafaia continuou promovendo cultos nesta semana — o UOL acompanhou um deles na noite de quarta (18) — e afirmava que só fecharia a sua igreja com determinação da Justiça. Em entrevista ao UOL, também disse que se recusa a fazer celebrações a céu aberto ou a limitar o público para evitar o risco. Entretanto, anunciou a suspensão dos cultos ontem (20) à tarde, em vídeo publicado em seus canais no Twitter e YouTube, citando a redução no transporte público no Rio. O horário de funcionamento dos templos será ampliado. Malafaia possui 116 congregações no país. "Eu vou suspender o meu culto. Mas vou deixar a igreja aberta", disse.
Marcos Botelho critica a postura de Malafaia e sugere que o líder evangélico esteja priorizando a arrecadação. "É um equívoco lamentável pedir para o fiel estar aglomerado. Esse tipo de desinformação é perigosa e vai contra a fé cristã."
No domingo (15), a Igreja Batista da Água Branca, na zona oeste de São Paulo, também transmitiu cultos pela internet. Em um comunicado, o pastor Ed René Kivitz anunciou o cancelamento das reuniões até o dia 31. "Compreendemos que o momento exige o rigor no distanciamento social. Proteger a vida humana é um ato espiritual. O cuidado mútuo é um ato sagrado."
A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que integra a Frente Parlamentar Evangélica, diz que a sua igreja também está fazendo cultos pela internet desde a semana passada. "É uma questão de respeito à vida e à saúde das pessoas. A minha fé não me impede de ter cuidados com a saúde", argumenta.
As escolas estão paradas, os jogos de futebol estão suspensos e as pessoas estão trabalhando de casa. Ele [Malafaia] não está bem espiritualmente. O maior problema é que há pastores que vão se espelhar nele. Orar dentro de casa não atrapalha em nada a vida espiritual.
Pastor Daniel Elias, da Assembleia de Deus de Duque de Caxias (RJ)
Mesmo sem citar Malafaia, a pastora e cantora Ana Paula Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, fez críticas a líderes que não estão cancelando reuniões, em vídeo publicado no seu perfil no Instagram, que tem 2,5 milhões de seguidores.
"Não sigam as instruções desses líderes. Nós somos chamados a uma fé racional. Deus não nos deu espírito de medo, de covardia. Mas Deus também não nos deu uma mente desequilibrada. Use o bom senso. O meu temor é que os crentes sejam os propagadores desse vírus, não obedecendo as recomendações básicas de saúde", afirmou.
Malafaia rebate acusação de que visa lucro
Em entrevista ao UOL, Malafaia rebateu as críticas de pastores que o acusam de não fechar as portas por priorizar o lucro. "Cerca de 80% da movimentação financeira da igreja é eletrônica, não é dinheiro presencial. Eu fico rindo dessa sacanagem de tentar fazer essas vinculações maldosas."
Ele também questionou líderes evangélicos por não estarem à disposição dos fiéis dentro do templo.
O cara tem medo porque fechou e quer se defender porque eu estou dando palavra de fé. Mas não tem coragem de atender quem está em desespero em uma salinha dentro da igreja. Se aparecer um cara na minha igreja com o coronavírus, eu vou atender. Eu tenho que ser o pastor na hora da crise.
Pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo
Malafaia também se negou a fazer celebrações a céu aberto ou limitar o público para evitar o risco.
"Isso [contaminação pelo novo coronavírus] pode acontecer. Mas não é só na igreja, é em qualquer lugar. Pode acontecer dentro do ônibus lotado. Uma palavra de esperança é um remédio muito mais poderoso do que qualquer coisa que eu possa falar sobre prevenção", diz. "Se fechar tudo no mundo, vai ter uma portinha aberta para o desespero. A igreja é o último lugar de fé e de esperança".
A Justiça do Rio negou pedido do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) para suspender os cultos promovidos por Malafaia em suas igrejas. A decisão, de ontem à noite, é do juiz Marcello de Sá Baptista, que argumentou que não cabe ao Judiciário impor restrições e direitos sem amparo legal.
O MP entrou com uma ação civil pública alegando que a aglomeração de fiéis poderia aumentar os riscos de propagação do coronavírus.
Nesta semana, igrejas católicas também cancelaram missas no país. No domingo (15), o Vaticano anunciou que as celebrações da Semana Santa serão celebradas sem os fiéis na Praça São Pedro.
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