Condomínio de Bolsonaro ignora presidente e se fecha contra coronavírus
O condomínio Vivendas da Barra, na zona oeste do Rio, onde Jair Bolsonaro possui casa e morou na última década antes de ser eleito, adotou medidas para preservar funcionários e evitar a circulação na área interna. Isso aconteceu na semana em que o presidente incentivou a flexibilização da quarentena em prol da economia.
A administração do Vivendas da Barra reduziu o efetivo de funcionários, adotando um rodízio de trabalho, e impediu a entrada de entregadores no condomínio, onde atualmente mora o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos). Enquanto isso, a maioria dos antigos vizinhos do presidente tem se mantido em casa e evitado sair, conforme recomenda a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Ministério da Saúde.
Na semana passada, os moradores receberam um aviso da administração do Vivendas da Barra informando que os funcionários responsáveis pelos serviços de segurança, limpeza e manutenção das áreas comuns passariam a trabalhar em "regime de escala", revezando turnos e com efetivos reduzidos.
Os mais idosos ou pertencentes aos chamados "grupos de risco" foram automaticamente afastados.
Entregadores agora são impedidos de entrar no condomínio. A reportagem esteve no local na tarde de ontem (30) e viu moradores indo até a cancela que dá acesso ao Vivendas da Barra para buscar suas encomendas. A proposta é reduzir a circulação no local.
Até mesmo o serviço de coleta de lixo passou a ser feito de forma diferente, conforme relataram moradores: em vez de trabalhar em duplas, os funcionários da empresa terceirizada passaram a atuar de forma individual e com máscaras que evitam o contágio. Os coletores também estão orientados a não entrar na casa de moradores para retirar móveis ou grandes volumes dos seus interiores.
Moradores divergem sobre Bolsonaro
As opiniões de vizinhos de Bolsonaro sobre as recentes declarações dele e o passeio realizado no último domingo (29) por localidades do Distrito Federal mostram que o presidente não é uma unanimidade por lá.
"Eu estou com ele nessa. Acho uma grande palhaçada essa coisa de reclusão. Tenho 71 anos e estou aqui, indo dar a minha corrida, sem problema algum. A gente só morre na hora certa", disse um dos poucos moradores que deixaram o Vivendas a pé para aproveitar a tarde de sol na orla da Barra da Tijuca.
Questionado sobre o fato de pertencer a um grupo de risco, o morador disse que dava o assunto por encerrado.
Outra moradora que deixou o condomínio para passear com o seu cachorro, a psicóloga Roberta Almeida afirmou que prefere não ouvir o que o seu vizinho mais ilustre diz sobre a pandemia do coronavírus.
"Eu presto bastante atenção ao que o [Luiz Henrique] Mandetta [ministro da Saúde] diz. Estou fazendo o que as autoridades me permitem: dando a minha volta no quarteirão, evitando aglomerações. Quando ao que esse sujeito [Bolsonaro] diz, eu prefiro não me informar. Não é médico e já dizia na campanha não entender nada de economia. Quem é ele para me dizer para sair de casa e ir trabalhar?", questionou.
Na última semana, em meio às manifestações de repúdio e apoio a Bolsonaro, o Vivendas da Barra se calou —no condomínio, não foram ouvidos os panelaços pró e contra Bolsonaro.
Sites de imóveis mostram poucas casas do Vivendas da Barra disponíveis para venda —os valores variam de R$ 2 milhões a R$ 4 milhões. Os imóveis têm entre três e seis quartos e seus terrenos podem chegar a 600 m². Algumas das casas de alto padrão contam com quintal, piscina e churrasqueira.
A casa de Bolsonaro é considerada modesta em comparação com outras do condomínio. Ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), nas últimas eleições, o imóvel foi declarado pelo valor de R$ 603,8 mil.
Foi no local que Bolsonaro reuniu a sua equipe de campanha na reta final das eleições e se recuperou do ataque a faca que sofreu em Juiz de Fora (MG) em setembro de 2018.
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