Moradores relatam ataques durante panelaços contra Bolsonaro; polícia apura
Resumo da notícia
- Dois prédios na zona oeste de São Paulo registraram ataques com armas de pressão na última semana de março
- Os tiros teriam ocorrido entre 20h e 21h, horário em que se tornaram costumeiros os "panelaços" contra Jair Bolsonaro
- A Polícia Civil informa que investiga os dois ataques, por meio do 23º DP (Distrito Policial)
Dois prédios no bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, registraram ataques com armas de pressão na última semana de março. Os tiros — um deles disparado por uma arma de airsoft (tipo de arma utilizada em simulações esportivas) — teriam ocorrido entre 20h e 21h, horário em que se tornaram costumeiros os "panelaços" em protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), desde que a pandemia do novo coronavírus se intensificou no país.
A Polícia Civil, por meio do 23º DP (Distrito Policial), investiga os dois ataques. Perícias foram realizadas, e as autoridades tentam apurar de onde partiram os tiros.
No dia 25 de março, a pesquisadora I. participava de uma aula online, quando seu apartamento foi alvejado por um ataque "de arma não letal", conforme seu relato. Eram 20h, e o "panelaço" já estava no começo. Ela conta que participou das manifestações contra o presidente, mas "não ostensivamente, pois estava em aula". O nome da vítima e o endereço não serão revelados para preservar de sua privacidade.
"Estava no escritório, fazendo aula online, por causa do afastamento físico e das atividades suspensas na universidade. De repente, percebi que entravam vários pequenos pontos de luz vermelha em vários cômodos da minha casa (sala, varanda, escritório e quarto). (...) As janelas dos quartos estavam abertas, a porta da sacada também. De novo, ouvi um barulho no meu quarto, um estouro. Quando entrei, percebi que a porta tinha sido aberta porque foi atingida por alguma coisa", conta ela, em depoimento publicado no site da editora n-1.
A luz vermelha persistiu no apartamento por meia hora. Em determinado momento, começou a sentir dor no braço esquerdo e viu que foi atingida, conta I.. "Uma ferida exposta, com sangue."
Ela chamou a polícia, e os agentes informaram que eram de balas de airsoft. Orientaram e pesquisadora a fazer um boletim de ocorrência no 23° Distrito policial. Junto com amigos, I. recolheu cinco esferas metálicas que atingiram sua casa naquela noite.
"Eles [policiais militares] informaram [que se tratava de munição de airsoft] com base no ferimento e pela minha descrição do laser vermelho", diz I. ao UOL.
"Hoje faz duas semanas, estou mais tranquila e consigo falar sobre o que aconteceu. Mas eu fiquei 10 dias com todas as janelas fechadas." Ela realizou exame de corpo de delito no IML (Instituto Médico Legal) e afirmou que a polícia fez uma perícia criminal em sua casa.
O jornalista M.N. acompanhava a mesma aula quando foi alertado pela colega no chat. "Ela estava junto com a gente na mesma plataforma, assistindo a uma aula sobre seminário de pesquisa, quando mandou uns textos esquisitos no chat, falando que tomou um tiro, que estava sangrando", diz ele à reportagem. "A gente interrompeu a aula, alguns alunos foram para a casa dela, e assim começou tudo."
Outro ataque durante "panelaços"
O outro caso de ataque durante os "panelaços" ocorreu em 31 de março, na rua Iperoig, também em Perdizes. Por volta das 20h20, um tiro atingiu a janela do banheiro de um apartamento no terceiro andar de um edifício. O casal que mora no local acionou a Polícia Militar.
Como não havia indícios, segundo os policiais, da origem dos disparos, os dois moradores foram orientados a fazer um boletim de ocorrência.
Síndico do edifício, o professor universitário P. elaborou uma carta dois dias depois e distribuiu para os prédios vizinhos. Uma fotografia do texto tomou as redes sociais e deu notoriedade ao caso.
"Venho compartilhar com meus vizinhos a ocorrência de um crime de ódio e atentando à vida humana em nosso edifício e que deve preocupar e servir de alerta para todos", diz a carta. "O projétil, não sei dizer exatamente o tipo ou de que arma partiu (cabe a polícia fazer essas deduções) quebrou o vidro do apartamento e danificou o teto."
À reportagem, o síndico afirmou que os moradores saíram do prédio assustados logo após o ataque. "Bate-se panela nas varandas por aqui desde a época da Dilma. O que mudou foi o motivo", diz.
Segundo ele, a perícia da Polícia Civil foi ao edifício hoje, pouco depois de a reportagem do UOL deixar o local. Ainda de acordo com P., os policiais desconfiam de onde tenha partido o ataque, mas não passaram uma informação concreta sobre a suspeita.
"Mandei deixar [a carta] nos prédios ao lado do meu, porque potencialmente podem ser atingidos pela pessoa que está atirando. Fico preocupado, é muito grave", diz o síndico.
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