Topo

Longe do pico do surto, corona já matou mais do que previsão de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro - Joedson Alves/EFE
O presidente Jair Bolsonaro Imagem: Joedson Alves/EFE

Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio

08/04/2020 17h48

Ao atingir 800 mortos no Brasil, a epidemia de coronavírus superou o número de mortes previsto pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em uma das entrevistas em que minimizava a gravidade da doença. Em 22 de março, ele afirmou à Record TV que a estimativa era de que haveria menos óbitos com o novo vírus do que os causados pelo H1N1 em 2019 no Brasil - foram em torno de 800.

Dois dias depois, em pronunciamento na TV, o presidente afirmou que, caso fosse infectado pelo coronavírus, "nada sentiria ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriadinho". Era a segunda vez que alegava que a covid-19 só causaria uma "gripezinha".

Na entrevista à Record, Bolsonaro fez críticas a governadores que adotaram medidas de isolamento social.

"Mais importante do que a nossa economia é a nossa vida. Mas não podemos extrapolar na dose. Por que? Com o desemprego aí, acontecendo, a catástrofe será maior, mais ainda. O número de pessoas que morreram de H1N1 no ano passado foi na ordem de 800. A previsão é não chegar a essa quantidade de óbitos no tocante ao coronavírus. Tem certos números que temos que levar em conta. Essas crises, esses vírus, acontecem no mundo todo, o tempo todo. Então, calma, tranquilidade, não levar pânico à população", disse ele.

No dia 18 de março, no twitter, o ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, que agora se tornou uma espécie de consultor de Bolsonaro para a epidemia, fazia exatamente a mesma previsão repetida pelo presidente na entrevista. "A gripe suína, H1N1, matou 2 pessoas a cada dia no Brasil em 2019. Este número, deve ser maior que as mortes que acontecerão pelo coronavírus. E não se parou o país nem se destruiu a economia, como está acontecendo agora. É o fato e versão do fato."

A gripe H1N1, de fato, matou no país 796 pessoas no ano passado. Em 2009, ano em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou epidemia do vírus, foram 2.060 óbitos no Brasil em todo o ano. Em termos mundiais, o coronavírus já tem quatro vezes mais mortos do que a epidemia de H1N1 de acordo com dados da OMS. No Brasil, já são 15.927 casos, com taxa de letalidade de 5%.

Na ocasião da entrevista de Bolsonaro à Record, o Brasil já havia registrado uma morte por coronavírus três dias antes em São Paulo. Em 18 de março, foi constatada a transmissão comunitária de coronavírus em algumas cidades, como a capital paulista. E, no dia 24, São Paulo implantou a quarentena com o fechamento de serviços não essenciais.

Desde então, a progressão da doença no país em número de casos e mortes tem crescido de forma veloz: atingiu os 800 óbitos no 43º dia após constatado o primeiro caso no território nacional. E, pelo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, o surto de coronavírus ainda não atingiu nem sua fase de aceleração, nem o seu pico de contaminação.

A fase de aceleração da epidemia está prevista para a semana entre 4 e 10 de maio, segundo a pasta. Já o pico da doença é estimado para a primeira semana de junho. A partir daí, teoricamente, haveria uma desaceleração na doença.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse hoje que a epidemia está crescendo abaixo do ritmo de 20%, o que seria um reflexo do distanciamento social nas duas últimas semanas. Mas se mostrou preocupado com o relaxamento de medidas em algumas cidades, como o Rio.

"Com as duas últimas semanas, onde nós diminuímos muito a mobilidade social, esse número vinha em 25% [de crescimento], caímos e chegamos a 16%. Vejo que estamos largando mão nos grandes centros. Rio de Janeiro decidiu andar. Se esse número andar, vai apontar ali para acima. Não tem sistema de saúde que aguente", afirmou o ministro.