Dono de 'império' com 77 carros, suspeito de chefiar milícia é preso no RJ
Resumo da notícia
- Chefe de grupo movimentou R$ 191 milhões e tinha 27 empresas
- Quadrilha é investigada por formação de cartel e lavagem de dinheiro
- Com 33 imóveis, empresário tem patrimônio de R$ 15 milhões
Foi preso, na manhã de hoje, em Nova Iguaçu (RJ), o homem suspeito de erguer um império com a formação de um cartel milionário a serviço da maior milícia do país, que já foi conhecida como Liga da Justiça. Carlos Roberto da Silva Rocha é apontado como o responsável pelo monopólio do fornecimento de gás nos municípios da Baixada Fluminense. Outros três suspeitos de integrar a quadrilha também foram detidos. Um homem ainda está foragido. Reportagem do UOL denunciou a expansão do grupo para a região nos últimos anos, com "franquias do crime".
Kadu do Gás, como ficou conhecido na área onde atua, tem um patrimônio de ao menos R$ 15 milhões em imóveis, veículos e outros bens bloqueados pela Justiça, segundo a Polícia Civil. Entretanto, quebra de dados bancários e fiscais deve ajudar a revelar uma fortuna bem mais expressiva, acreditam os investigadores. Apontado como o proprietário de 27 estabelecimentos em Nova Iguaçu e Seropédica, ele é um dos suspeitos de chefiar um esquema que movimentou cerca de R$ 191 milhões nos últimos quatro anos.
Uma força-tarefa com mais de 80 policiais civis e apoio da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas) foi formada para cumprir 68 mandados de busca e apreensão e cinco mandados de prisão temporária —incluindo o de Kadu do Gás, que foi levado para a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, zona norte do Rio. Ele chegou ao local acompanhado por um advogado e com máscara de proteção fornecida pelos próprios policiais que fizeram a prisão. O grupo foi indiciado por lavagem de dinheiro, organização criminosa e crime contra a ordem econômica.
A Justiça do Rio bloqueou um patrimônio formado por 115 veículos, 33 imóveis e outros bens que pertencem ao empresário, encobertados com o auxílio de "laranjas", segundo investigação do Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro.
O sequestro dos bens foi decretado pela 1ª Vara Criminal Especializada da capital do Tribunal de Justiça, após manifestação favorável do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).
De acordo com a investigação, o grupo tem ligações com Danilo Dias Lima, o Tandera. Responsável pela expansão dos paramilitares para os municípios da Baixada, o miliciano integra a lista dos criminosos mais perigosos do país, divulgada em janeiro pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Reportagem do UOL mostrou que a quadrilha se impôs na região com um sangrento ritual de iniciação, que inclui assassinato, esquartejamento e ocultação de cadáver em cemitérios clandestinos.
Kadu do Gás é dono de 77 carros, incluindo veículos de grande porte, como caminhões, tratores, reboques e até ônibus. Ele também é proprietário de quase 40 motocicletas, segundo as investigações. A Polícia Civil ainda investiga a origem de outros R$ 15 milhões ligados aos outros suspeitos de integrar o grupo, responsável pela criação de um monopólio no fornecimento de gás aos moradores da Baixada.
Mas só vamos ter a real dimensão do patrimônio dos investigados com o afastamento dos dados fiscais e bancários. O grupo é apontado como responsável pela criação de um cartel, que dominou a distribuição de gás na Baixada Fluminense. Esses negócios agora são usados também para lavar dinheiro da milícia
Thiago Neves, delegado da Polícia Civil
A apuração começou após um relatório de inteligência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificar movimentações de valores incompatíveis com o patrimônio dos investigados. A meteórica ascensão financeira de Kadu, um ex-ajudante de entrega de gás de cozinha que se tornou o chefão do império do ramo, despertou a atenção dos investigadores.
Ameaças, extorsão e criação de monopólio
De acordo com a investigação, a milícia afasta concorrentes com ameaças e cobrança do pagamento de taxas mensais, que acabam obrigando os empresários a abandonar o ramo. E, assim, é estabelecido o monopólio formado por empresas legais, que ajudam a fazer a lavagem de dinheiro para as atividades criminosas exercidas pela milícia, aponta o inquérito da Polícia Civil.
Outro entrave na investigação é a dificuldade de testemunhas que denunciem — o UOL revelou que ex-integrantes que viraram informantes das autoridades acabaram sendo assassinados.
Segundo o inquérito policial, a maioria das empresas era de fachada, já que havia funcionários registrados em apenas três dos 27 estabelecimentos comerciais supostamente a serviço da milícia.
Preso pela primeira vez pela Corregedoria da PM-RJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) em outubro de 2018 por suspeita de envolvimento com a milícia, Kadu do Gás começou a se desfazer de parte do seu patrimônio desde então. Segundo o inquérito, o empresário já repassou cerca de 70% das empresas que estavam em seu nome para "laranjas".
O UOL não conseguiu localizar os advogados do empresário, para ouvir a sua versão.
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