Ponto de encontro de juízes e advogados, restaurante Itamarati vai fechar
Tradicional ponto de encontro de juízes, promotores, advogados e estudantes de direito, o restaurante Itamarati, no centro de São Paulo, está fechando as suas portas. É mais uma vítima da pandemia do coronavírus.
Sem condições de pagar o aluguel de cerca de R$ 20 mil, o Itamarati, já demitiu seus funcionários e solicitou à Justiça a rescisão do contrato com a Santa Casa de Misericórdia, proprietária do imóvel, sem o pagamento de multa.
Marli Avanzzo, uma das sócias do restaurante, diz que é com dor no coração que eles resolveram encerrar as atividades do estabelecimento, localizado no calçadão da rua José Bonifácio, próximo da Faculdade de Direito da USP. Afirma que eles não tiveram outra alternativa diante da recusa da Santa Casa em renegociar os valores da locação.
Fundado em 1940, o restaurante que recebeu diversos presidentes, governadores e ministros do Supremo, já vinha passando por dificuldades há alguns anos por conta da decadência da região central e da sensação de insegurança. A clientela à noite ficou muito reduzida.
"Mesmo assim, estávamos tentando levar as coisas adiante", afirma a proprietária. "Em fevereiro, reformamos a cozinha, mas não pudemos preparar um único prato, pois veio a quarentena e a situação ficou inviável", diz Marli, cuja família assumiu o negócio há cerca de 50 anos. Como fica num calçadão, o restaurante não consegue nem mesmo atender por delivery, já que as motos não podem parar na porta do estabelecimento.
O garçom José Moreira Miranda, 71, que trabalha no Itamarati há 40 anos, lamenta a situação. Ele conta que atendeu os presidentes Jânio Quadros, Fernando Henrique e Michel Temer, entre tantas outras personalidades.
Miranda afirma que, certa vez, o presidente do STF, Dias Toffoli, antigo frequentador do restaurante, estava com a agenda apertada, mas, mesmo assim, passou pelo restaurante apenas para lhe cumprimentar. "Imagine, ele pediu para fazer uma foto comigo", lembra, emocionado.
"Quem sabe a dona Marli consegue reabrir o Itamarati, estou torcendo muito", diz Miranda. "Sou apaixonado pelo meu trabalho e pela minha clientela."
Cerca de 250 advogados, muitos dos quais ex-estudantes do Largo São Francisco, estão tentando se mobilizar para salvar o restaurante. Fazem parte do grupo o diretor da faculdade de Direito, Floriano Azevedo Marques Neto, o professor Francisco Satiro, o presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo, Renato Silveira, ex-presidente da OAB-SP Marcos da Costa e o advogado Leonardo Sica, ex-presidente da Associação dos Advogados de São Paulo.
A intenção do grupo é fazer um apelo à direção da Santa Casa pela redução do aluguel e tentar obter patrocínio de algum grande fornecedor, assim como discutir com a prefeitura e entidades de advogados um projeto para a revitalização do Largo São Francisco.
"Fico muito lisonjeada com tanto apoio", diz a proprietária. "O Itamarati faz parte da minha vida e da vida de muita gente."
O UOL não consegui contato com a direção da Santa Casa de Misericórdia.
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