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Agentes investigados por morte de João Pedro mudaram versão sobre disparos

João Pedro foi morto durante operação conjunto da PF e da Polícia Civil no dia 18 - Reprodução/Twitter/@_danblaz
João Pedro foi morto durante operação conjunto da PF e da Polícia Civil no dia 18 Imagem: Reprodução/Twitter/@_danblaz

Igor Mello

Do UOL, no Rio

30/05/2020 08h53

Os três policiais civis investigados pela morte do menino João Pedro, de 14 anos, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, mudaram os depoimentos e admitiram ter atirado mais de 60 vezes durante uma operação conjunta com a PF (Polícia Federal). A informação foi antecipada pelo jornal O Globo e confirmada pelo UOL.

O menino João Pedro Mattos Pinto foi atingido por um tiro de fuzil calibre .556 pelas costas quando estava dentro da casa de seus tios na comunidade do Salgueiro, em 18 de maio. Inicialmente, os policiais haviam afirmado em depoimento ter disparado cerca de 20 vezes, mas alteraram a versão e admitiram ter dado mais de 60 tiros durante a operação, de acordo com uma fonte com acesso à investigação.

Segundo a DHNSGI (Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí), responsável pela investigação do crime, o projétil entrou no corpo de João Pedro pela região torácica posterior —nas costas, na altura da axila direita, e ficou alojada no corpo do menino.

Os três policiais foram afastados do serviço nas ruas após a realização da operação. Perícia na casa onde João Pedro foi baleado encontrou cerca de 70 marcas de tiros no local.

O corpo do adolescente foi removido do local de helicóptero e só foi encontrado pela família 17 horas depois, no posto do IML (Instituto Médico-Legal), em São Gonçalo. Antes, o corpo de João Pedro foi levado para o heliporto da Lagoa, na zona sul do Rio, distante cerca de 20 quilômetros do local da operação.

Investigação independente

A pedido da Defensoria Pública do Rio, que representa a família de João Pedro, o MP-RJ (Ministério Público do Rio) abriu um PIC (Procedimento Investigatório Criminal) para realizar uma operação independente sobre o caso, já que há determinação da CIDH (Corte Interamericana de Direitos Humanos) para que as autoridades do Rio evitem que as corporações policiais investiguem supostos crimes cometidos por seus próprios integrantes. A decisão faz parte da sentença do Caso Nova Brasília, que puniu o Brasil por não garantir uma investigação isenta sobre duas chacinas ocorridas na comunidade —que faz parte do Complexo do Alemão— em 1994 e 1995.

O PIC será conduzido por promotores do Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública), que realiza ações de controle da atividade policial no estado. De acordo com a Polícia Federal, a operação foi realizada para cumprir dois mandados de prisão contra traficantes da comunidade do Salgueiro. No entanto, as ordens foram expedidas pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e não pela Justiça Federal —como é praxe em casos de envolvimento da PF.