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Rio tem manifestação contra violência policial após morte de João Pedro

Manifestantes protestam contra a violência policial e o racismo em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo do Rio - Reprodução/ Instituto Marielle Franco
Manifestantes protestam contra a violência policial e o racismo em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo do Rio Imagem: Reprodução/ Instituto Marielle Franco

Igor Mello

Do UOL, no Rio

31/05/2020 18h04

Moradores de comunidades do Rio protestaram contra a violência policial e o racismo em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo do estado, na tarde de hoje. A mobilização foi motivada pela morte do menino João Pedro, 14 anos, durante uma operação policial em São Gonçalo. Após o término do ato, policiais militares dispararam balas de borracha e bombas de efeito moral contra os manifestantes.

O ato foi realizado às 15h e teve medidas para garantir o distanciamento entre os participantes. De acordo com os organizadores, cerca de 300 pessoas estiveram presentes no protesto, que durou cerca de 1 hora.

Após o término do ato, policiais militares dispararam bombas de efeito moral e balas de borracha contra os manifestantes. De acordo com a Globo News, os PMs miravam outro grupo que havia chegado atrasado ao ato e se concentrava perto do Palácio Guanabara, em Laranjeiras, zona sul do Rio.

Ativistas presentes afirmaram nas redes sociais que os manifestantes se comportavam de maneira pacífica até a ação da PM começar. A Globo News flagrou um policial apontar um fuzil para a cabeça de um homem que havia sido abordado durante o ato.

O UOL pediu um posicionamento à Polícia Militar a respeito do uso da força contra os manifestantes, mas não obteve resposta até o momento.

Menino foi morto dentro da casa dos tios

A manifestação foi motivada pela morte do menino João Pedro Mattos Pinto, atingido por um tiro de fuzil calibre .556 pelas costas quando estava dentro da casa de seus tios na comunidade do Salgueiro, em 18 de maio. Os protestos contra a violência policial nos EUA também serviram de inspiração para a mobilização no Rio de Janeiro.

João Pedro brincava na casa dos tios durante uma operação conjunta realizada pela PF (Polícia Militar) e pela Polícia Civil. Três policiais civis foram afastados de suas funções na rua após a operação, e admitiram ter disparado mais de 60 vezes durante a ação.

Perícia realizada pela DHNSGI (Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí), responsável pela investigação do crime, encontrou cerca de 70 marcas de tiro no imóvel.

Após ser atingido, o corpo do menino foi removido do local de helicóptero pela Polícia Civil, e levado para o heliporto da Lagoa, na zona sul da capital, a cerca de 20 quilômetros do local da operação. A família de João Pedro só encontrou seu corpo 17 horas depois, no posto do IML (Instituto Médico-Legal) de Tribobó, em São Gonçalo.

A pedido da Defensoria Pública do Rio, que representa a família de João Pedro, o MP-RJ (Ministério Público do Rio) abriu um PIC (Procedimento Investigatório Criminal) para realizar uma operação independente sobre o caso, já que há determinação da CIDH (Corte Interamericana de Direitos Humanos) para que as autoridades do Rio evitem que as corporações policiais investiguem supostos crimes cometidos por seus próprios integrantes. A decisão faz parte da sentença do Caso Nova Brasília, que puniu o Brasil por não garantir uma investigação isenta sobre duas chacinas ocorridas na comunidade —que faz parte do Complexo do Alemão— em 1994 e 1995.

O PIC será conduzido por promotores do Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública), que realiza ações de controle da atividade policial no estado. De acordo com a Polícia Federal, a operação foi realizada para cumprir dois mandados de prisão contra traficantes da comunidade do Salgueiro. No entanto, as ordens foram expedidas pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, e não pela Justiça Federal —como é praxe em casos de envolvimento da PF.