Josmar Jozino

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Reportagem

Delator do PCC: Sindicância diz saber quem é Tacitus, rival de Gritzbach

Uma sindicância conduzida por uma força de segurança do interior de São Paulo diz ter descoberto em 2022 nome, número do telefone celular, e-mail, local de trabalho e outros dados de Tacitus, o misterioso rival de Antônio Vinícius Gritzbach, o homem executado em 8 de novembro de 2024 no aeroporto internacional de Guarulhos.

Tacitus é a pessoa misteriosa que afirma ter aberto uma live para acompanhar ao vivo o assassinato de Gritzbach e que manda e-mails para o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) e o Poder Judiciário.

A Polícia Federal e o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado), órgão subordinado ao MP, tentam descobrir a identidade de Tacitus, porém dizem que não conseguem quebrar o VPN (Virtual Private Network), a rede virtual privada do e-mail dele, para tentar identificá-lo.

Tacitus seria aliado de um conhecido narcotraficante ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital), a maior facção criminosa do Brasil.

A coluna não vai publicar o nome do megatraficante nem a possível identidade, local de trabalho e demais dados de Tacitus porque ainda não há confirmação oficial das informações.

Abordagem deu início à investigação

Segundo a sindicância, a investigação sobre a identidade de Tacitus começou em 29 de junho de 2022, logo após a abordagem de uma caminhonete em uma estrada paulista. O veículo foi parado por dois agentes públicos, posteriormente considerados suspeitos de envolvimento com tráfico de drogas e corrupção.

A sindicância apontou que os agentes foram contatados por um desconhecido e receberam uma oferta para liberar a caminhonete com drogas. Os servidores disseram aos ocupantes que iriam guinchar o veículo porque o licenciamento estava vencido.

Os agentes públicos não foram à delegacia da cidade para registrar a ocorrência. Só compareceram ao distrito policial para comunicar o caso no dia seguinte. E acabaram indiciados por peculato e abuso de autoridade.

O responsável pela caminhonete foi ouvido pela autoridade de plantão na presença de um advogado. A princípio, ele contou a mesma versão sobre a intenção dos servidores em guinchar o veículo. Disse que era o passageiro e o funcionário dele, o motorista.

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Investigação identificou e-mail suspeito

Ao depor na sindicância aberta para investigar a conduta dos agentes públicos, o dono da caminhonete admitiu ter ido até a cidade onde ocorreu a abordagem para "realizar uma negociação ilícita envolvendo o tráfico de drogas".

Segundo ele, os agentes públicos demonstraram comportamento suspeito e ofereceram apoio logístico para o transporte da droga. A negociação foi interrompida por causa da chegada imprevista de uma viatura da Polícia Militar.

Ainda segundo a sindicância, "em adição aos relatos do depoente foi identificado um e-mail suspeito, enviado de um endereço eletrônico, contendo a proposta de pagamento aos agentes públicos para a liberação do veículo e dos ocupantes e também das drogas".

O conteúdo da mensagem foi endereçado a um dos envolvidos na ocorrência e, de acordo com a sindicância, indicava como responsável pelo envio do pagamento um megatraficante solto em São Paulo em 2020 por determinação do STF (Supremo Tribunal Federal).

A denúncia foi formalizada ao órgão fiscalizador da força de segurança da cidade do interior paulista e, com isso, a sindicância acabou instaurada para investigar a veracidade dos fatos e apurar a responsabilidade dos dois agentes públicos no caso.

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Provedor suíço

A perícia técnica, afirma a sindicância, confirmou a origem do e-mail e a possível vinculação do megatraficante do PCC com o envio do pagamento aos servidores. "A partir daí foi possível estabelecer um nexo dos agentes públicos com os traficantes", diz o documento.

Também foram analisados os registros de e-mails relacionados a um endereço eletrônico. Fontes ligadas à sindicância afirmaram que os arquivos da quebra de segurança do provedor, da Suíça, indicaram que o usuário realizou o cadastramento da conta usando um e-mail e um número de telefone celular e fez a autenticação em dois fatores.

Segundo a mesma fonte, com a posse do número, a equipe de investigação forneceu todos os dados por meio de ofício, junto à operadora, além do nome, CPF e local de trabalho do identificado. O endereço do e-mail é o mesmo utilizado por Tacitus nas mensagens enviadas às autoridades brasileiras.

No último deles, enviado terça-feira (7) às 19h08, com cópia para esta coluna, Tacitus diz ter desembolsado R$ 975 mil só com a compra de informações E afirma que conta com a ajuda de pessoas da Polícia Civil de São Paulo, Polícia Federal, Ministério Público Federal e MP-SP.

No mesmo e-mail,Tacitus posta mensagem recebida de alguém supostamente vinculado a um órgão público de São Paulo, comunicando que vão derrubar o acesso eletrônico dele e alertando para que abandone o provedor suíço e elimine todos os e-mails, se possível.

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O apelido Tacitus deu nome à operação da Polícia Federal que no último dia 17 prendeu cinco policiais civis e outras três pessoas acusados por corrupção e envolvimento com o PCC. Todos foram delatados por Gritzbach. O nome foi escolhido por promotores de Justiça do Gaeco.

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