"Era o sonho dele, e agora só sobrou a dor", diz mãe de paraquedista morto
Depois de sepultar seu filho mais velho, o soldado Pedro Lucas Ferreira Chaves, 19, que morreu durante treinamento de paraquedistas na véspera, a dona de casa Alynne Soares, 36, conversou com o UOL por telefone. "Meu filho estava cheio de vida, alegre, feliz de ter conseguido entrar na Brigada. Era o sonho dele, e agora só sobrou a dor", disse.
Ela falou sobre a presença do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no velório. "Recebi com muito carinho a presença do Bolsonaro no velório do meu filho. O Bolsonaro se emocionou durante as homenagens. Mas eu entreguei o meu filho vivo, para realizar o sonho dele de ser paraquedista. E eles me devolveram meu filho morto. Vou ter que conviver com essa dor o resto da vida. Não é justo."
Ainda segundo Alynne, o presidente tentou consolá-la. "Ele disse que sentia muito e, enquanto eu chorava, pediu que eu orasse para que o espírito do meu filho estivesse num bom lugar. Mas é muito difícil."
No início da tarde, o corpo seguiu do 26° Batalhão de Infantaria Paraquedista, na Vila Militar, zona oeste do Rio, escoltado por batedores, até o cemitério de Jacarepaguá, no Pechincha, também zona oeste da cidade. A cerimônia foi reservada para colegas e familiares.
Presidente discursou em velório
Bolsonaro publicou em sua rede social um vídeo em que presta homenagens ao soldado durante o velório. "Pior que a dor da derrota é a dor da vergonha de não ter lutado", disse.
"Nós, enquanto jovens em especial, buscamos desafios, vencer obstáculos, superar os nossos limites. O jovem Chaves buscava esse objetivo", disse. "Ele aqui, ao tentar vencer um obstáculo, se preparava, treinava, se empenhava, sofria, mas tinha um objetivo: formar-se e ser um militar da nossa gloriosa brigada de Infantaria Paraquedista".
Ele ofereceu condolências aos familiares e amigos do soldado e prestou continência ao final do discurso. Bolsonaro não participou do sepultamento. Após o velório, ele retornou a Brasília. Sua ida à zona oeste do Rio não estava prevista em agenda oficial.
Último salto para ser paraquedista
Segundo familiares, Pedro Lucas tinha o sonho de ser paraquedista desde pequeno. "Ele ouvia as histórias do padrasto e adorava. No ano passado, se alistou para o Exército e iniciou o treinamento. Foi uma felicidade só", disse a mãe.
Segundo Alynne, eram necessários três saltos para a conclusão do curso. Quando o filho concluiu o segundo voo, telefonou para a família para comemorar. Pedro morreu naquele que seria o terceiro salto para sua formação como paraquedista.
"Me ligou às 3h30 da manhã de sábado para comemorar que já ia para o terceiro salto algumas horas depois. Eu perguntei se ele estava bem, ele respondeu que estava muito feliz. Não imaginei que perderia meu filho algumas horas depois, no terceiro salto. Ele estava acabando o treinamento, conforme sonhou desde pequenininho. Era o último salto, que o militar faz armado e equipado. Mas o paraquedas não abriu. O de emergência também não, e meu filho morreu", contou.
Como foi o acidente
Com 19 anos recém completados, o soldado Pedro Lucas Ferreira Chaves morreu na manhã de sábado (20), durante um treinamento de paraquedistas na Base Aérea dos Afonsos, em Realengo, na zona oeste do Rio.
Pedro Lucas saltou da aeronave, mas seu paraquedas não abriu corretamente. Imagens feitas por cinegrafistas amadores mostram o soldado pendurado à aeronave.
De acordo com uma nota divulgada pelo Comando Militar do Leste (CML), Pedro ficou preso à aeronave durante o salto e, mesmo com procedimentos de emergência, a abertura do paraquedas não ocorreu corretamente. O soldado recebeu atendimento médico, mas não resistiu aos ferimentos graves.
Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi aberto para apurar as circunstâncias do incidente.
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