Morto aos 63 anos, professor Jorge Portugal compôs clássicos da Bahia
Morto dois dias antes de completar 64 anos, o ex-secretário de Cultura da Bahia e professor Jorge Portugal foi sepultado às 16h desta terça-feira (4) em Santo Amaro, cidade do recôncavo e sua terra natal.
Ele morreu após uma falência cardíaca aguda, mas, enquanto viveu, difundiu a cultura popular para além da sala de aula. Atuou como escritor, poeta e como compositor criou alguns dos clássicos da Bahia. Por isso, o estado amanheceu de luto, decretado oficialmente pelo governador Rui Costa (PT), que externou sentimento de pesar aos familiares do professor.
Educador na tela da TV
Formado em letras pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), começou na lida com as palavras ainda moço, na década de 1970, dando aulas de redação em Santo Amaro.
Em 1973, mudou-se para a capital baiana, onde morou numa pensão até concluir o antigo magistério no Colégio Central. Depois de concluir o ensino superior, Portugal passou a se dedicar a dar aulas em cursinhos pré-vestibular da cidade.
A partir de 2001, ele se tornou conhecido do telespectador baiano ao levar o conteúdo de sala de aula para a televisão. Durante nove anos, o programa "Aprovado", criado e apresentado pelo educador, alavancou a audiência da TV Bahia (afilada da Globo) nas manhãs de sábado.
Na mesma época, Portugal publicou o livro "Redação é assim", adotado por cursos pré-vestibulares soteropolitanos.
Entre 2015 e 2017, o professor atuou como secretário estadual de Cultura. À frente da pasta, potencializou iniciativas artístico-culturais já existentes e fomentou novas ações, dentre as quais projeto "Escolas Culturais, com atividades nas áreas de dança, música, audiovisual e literatura nas escolas públicas.
Recentemente, Portugal estava engajado com o projeto "Educação em época de pandemia". A ideia era aproveitar o período de quarentena para preparar candidatos ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). As aulas não chegaram a ter início, mas seriam transmitidas via web.
Clássicos da Bahia
Como compositor, o educador foi autor de sucessos como "Vida Vã", que se tornou popular na voz de Maria Bethânia; "A Massa", parceria com Raimundo Sodré; e "Só se Vê na Bahia", que fez com Roberto Mendes.
Em suas redes sociais, Jorge Portugal lia poemas, postava músicas e dava dicas de estudo aos seguidores. Entusiasta da educação, costumava repetir, segundo os amigos, que "quanto mais a gente ensina, mais aprende o que ensinou".
Dentre as personalidades que lamentaram a sua morte, o conterrâneo Caetano Veloso diz que a inteligência de Portugal já lhe chamava atenção desde os tempos de juventude no recôncavo baiano. "Jorge Portugal era meu vizinho em Santo Amaro. Eu já era adulto e ele, ainda menino. Sempre mostrou capacidade intelectual. Nas conversas santamarenses e, depois, como professor de português em Salvador. Tornou-se também um letrista de muito alto nível, principalmente em parcerias com Roberto Mendes", disse o músico.
Uma mente e uma sensibilidade típica do Recôncavo. Tenho orgulho dele. Estamos todos com saudade do seu papo e das suas ideias"
Caetano Veloso
Problemas cardíacos
A morte do educador foi provocada por falência cardíaca aguda, segundo nota divulgada pelo HGRS (Hospital Geral Roberto Santos), para onde ele foi levado ainda na segunda-feira após passar mal em sua residência.
De acordo com o boletim médico, Portugal deu entrada na unidade em estado crítico, com quadro de choque cardiogênico. Ele chegou a ficar por algumas horas em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) cardiovascular, mas não resistiu.
O diretor médico do HGRS, o cardiologista André Duraes, descartou a hipótese de infecção por coronavírus e explicou que o educador tinha histórico de problemas cardíacos —há cerca de dois anos, ele sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e, desde janeiro, usava um marca-passo.
Em nota, o governador Rui Costa enalteceu a faceta de múltiplos talentos de Jorge, "exercidos com a energia e a simpatia que inspirava todos à sua volta".
Era, antes de tudo, um homem apaixonado pela Bahia e pelo seu povo que esteve sempre no centro do seu trabalho, fosse como administrador público, professor e artista. Como diz um dos seus versos: 'Uma nação diferente, toda prosa e poesia, tudo isso finalmente, só se vê, só se vê na Bahia"
Rui Costa, governador da Bahia
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