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Padre usava laranjas para ocultar desvio de dinheiro de fiéis, diz juíza

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Antonio Temóteo

Do UOL, em Brasília

23/08/2020 19h56

A juíza Placidina Pires, do Tribunal de Justiça de Goiás, afirmou, em decisão obtida pelo UOL, que as investigações indicam que o Padre Robson de Oliveira usava laranjas e empresas de fachada para esconder supostos desvios de doações dos fiéis para a construção da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO).

Oliveira presidia a Afipe (Associação Filhos do Pai Eterno) e outras entidades ligadas à associação e é investigado no caso. Ele pediu o afastamento dos cargos e diz que confia na Justiça. O Ministério Público de Goiás apura suspeitas de desvio de doações dos fiéis e a compra e venda de imóveis como casas, apartamentos e fazendas em diferentes estados.

A apuração tem como alvo a Afipe e a Associação Pai Eterno e Perpétuo Socorro, presididas pelo padre Robson, segundo o MP.

Laranjas para dificultar rastreamento do dinheiro, diz juíza

Segundo a juíza, o uso de laranjas e empresas de fachada seria uma estratégia usada pelos investigados para dificultar o rastreamento do dinheiro desviado. Os procuradores reúnem provas para acusar os investigados de apropriação indébita, lavagem de capitais, organização criminosa, sonegação fiscal e falsidade ideológica.

"De fato, os elementos informativos coletados indicam que as doações feitas por fiéis de todo o país para o custeio das atividades das AFIPES e para o pagamento das obras e projetos de cunho social da mencionada associação, em tese, estão sendo utilizadas para finalidades espúrias, mormente para o pagamento de despesas pessoais dos investigados e para aquisição de imóveis, incluindo várias fazendas e casa de praia, os quais, a princípio, não se destinam ao atendimento dos seus propósitos religiosos", declarou a magistrada.

Em vídeo postado em suas redes sociais, o padre Robson de Oliveira afirmou que todo o dinheiro arrecadado com doações foi utilizado em atividades religiosas e diz estar "sereno e confiante" de que tudo será esclarecido.

"Tudo está desde a primeira doação, e assim continua, na Afipe, e é utilizado para que nós levemos a nossa obra de evangelização aos fiéis ao mundo. Meu coração está sereno e confiante de que tudo será esclarecido o mais breve possível", disse.

Investigados movimentaram R$ 1,7 bilhão, diz MP

Segundo o Ministério Público, as movimentações financeiras analisadas na investigação somam R$ 1,7 bilhão.

Segundo o promotor de Justiça Sebastião Marcos Martins, que coordenou a Operação Vendilhões, nem todo o valor movimentado é referente a atividades consideraras ilícitas. O valor total da fraude sob investigação ainda está sendo apurado, segundo o promotor.

O advogado da Afipe, Klaus Marques, afirmou à revista Época que todos os negócios da associação, como a compra e venda de imóveis, estão contabilizados e foram utilizados como investimentos para serem revertidos às próprias atividades religiosas da entidade.