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Governo Bolsonaro reduziu em 11% verba de hospital que pegou fogo no RJ

Igor Mello

Do UOL, no Rio

27/10/2020 17h07

Durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o governo federal reduziu em 11% o orçamento do HFB (Hospital Federal de Bonsucesso), na zona norte do Rio, em relação ao último ano do governo Michel Temer (MDB). A unidade, que pegou fogo na manhã de hoje deixando três pacientes mortos, é a mais importante da rede federal de saúde no estado e vem sendo alvo de denúncias de sucateamento e falta de recursos para funcionar.

Cruzamento feito pelo UOL com base em dados do Portal de Transparência da União mostra que, entre janeiro e outubro deste ano, o HFB empenhou (ou seja, reservou valores para custear despesas já contratadas) R$ 145,3 milhões e efetivamente pagou R$ 95,16 milhões —em ambos os casos, é o menor valor registrado para este período desde 2015 (veja gráfico abaixo).

Em relação a 2018, último ano do governo Michel Temer (MDB), a redução é de 11% nos valores empenhados, e de 8,4% se consideradas as despesas pagas até outubro. Os valores citados são nominais, sem correção pela inflação do período.

O UOL pediu na manhã de hoje ao Ministério da Saúde um posicionamento sobre as reduções de verbas no Hospital Federal de Bonsucesso, mas não obteve retorno até o momento.

Leitos fechados e alerta para risco de incêndios

Os problemas no HFB vem sendo alvo de sucessivos alertas por parte da DPU (Defensoria Pública da União).

Em dezembro passado, o defensor público federal Daniel Macedo alertou, em ofício enviado à direção da unidade, sobre o risco de incêndio constatado durante vistoria feita por ele. Foram encontrados problemas no sistema elétrico dos prédios do hospital, como o superaquecimento de dois transformadores.

Macedo também alertou sobre o fato de os hidrantes estarem inoperantes e cobrou a elaboração de um plano de fuga.

Em abril, a DPU, em parceria com o MPF (Ministério Público Federal), ingressou com uma ação na Justiça para que o governo federal garantisse a contratação de profissionais para cobrir o déficit nas unidades federais do Rio, com ênfase ao HFB, escolhido como referência na rede federal para a pandemia de covid-19.

Dados do Ministério da Saúde obtidos pelo UOL mostram que, até o fim de maio, 140 dos 375 leitos disponíveis no HFB estavam fechados por problemas variados, como falta de pessoal, equipamentos ou insumos. Na rede federal do Rio, o número de vagas fechadas chegou a 1.243 das 2.803 existentes.